Nota 10

Mestre Bob Dylan

A secretária geral da Academia Sueca, Sara Danius, informou à ansiosa imprensa que Dylan fora escolhido “por criar novas expressões poéticas dentro da grande tradição da música americana”, o que foi aplaudido por muitos.


Wellington Silva
Articulista

O cantor e compositor americano Bob Dylan (75 anos) foi aclamado dia 13 passado como o grande ganhador do Prêmio Nobel de Literatura 2016. A indicação foi anunciada em concorrido evento em Estocolmo, na Suécia. Além do título o artista receberá 8 milhões de coroas suecas (algo em torno de R$ 2,9 milhões).

A secretária geral da Academia Sueca, Sara Danius, informou à ansiosa imprensa que Dylan fora escolhido “por criar novas expressões poéticas dentro da grande tradição da música americana”, o que foi aplaudido por muitos.

Aclamaram um mestre no seu tempo. Um poeta a influenciar gerações. Pregador, cancioneiro da paz e do amor, das causas sociais, contestador contra os Mestres da Guerra (Master of War) e contra crueis assassinos (Licence do Kill). O buscador da Luz (I Believe In You) e das Grandes Verdades (Blowin In The Wind). Rima e melodia, melodia e rima. A alma iluminada do poeta é pura sinfonia…

Como Definir Bob Dylan: Bob é gênio! É gênio, assim como gênio foi John Lennon, Tim Maia, George Harrison e tantos outros grandes mestres da música de nossa geração. Ele é tão popular como os Beatles. É “top model atemporal/perpétuo wi fi de linha”. Ele se reinventa, cria e recria, inova, e sempre surpreende…

Aos desconhecidos tolos de plantão que acham que o prêmio deveria ter outro destinatário fica aqui os seguintes argumentos:

Com ou sem prêmios, títulos e distinções que não lhe envaidecem nem um pouco Bob Dylan continua mais popular que nunca em vários cantos do globo terrestre. Suas obras continuam como objeto de pesquisa acadêmica. A qualidade musical e a profundidade poética de seu trabalho continuam a influenciar quem deseja fazer boa música ou quem quer escrever algo que preste. Ele foi o agente transformador do passado, é do presente e sempre será do futuro. E porque? Boa parte de suas obras, elaboradas nos anos 60 e 70 são mais atuais do que nunca, assim como mais atual do que nunca é Ode ao Povo, de Eça de Queiroz, poeta/escritor do Realismo português do início do século XX.

Per Wastberg, membro da Academia Sueca, declarou que “Dylan tem o status de um ícone. Sua influência na música contemporânea é profunda. Ele é provavelmente o maior poeta vivo”.
Helio Gurovitz (Rede Globo) argumenta que “Dylan trabalhou a vida inteira com palavras e sons, matérias-primas da poesia. Sua obra vem sendo estudada há décadas pelas qualidades literárias. Ele foi indicado ao Nobel pela primeira vez em 1996. Sempre se considerou mais poeta que músico. O fato de também ser um músico popular de sucesso não pode ser um empecilho a que receba o prêmio. O problema com esse argumento é que erros do passado não devem impedir acertos no futuro. Todo letrista é também poeta. Nem todo letrista é bom poeta. Se a Academia deixou até hoje de considerar no prêmio bons poetas que atuam no universo do cancioneiro popular, o erro não está na escolha de Dylan. Esteve em aferrar-se até hoje a uma concepção limitada de poesia. Para o público a quem toda poesia se destina, tal divisão sempre foi artificial”.

O primeiro livro lançado pelo artista foi um volume de poesias experimentais intitulado “Tarantula”, lançado em 1971. Dois anos mais tarde, publica “Writings and drawings”, com textos e desenhos. Bob é também autor do best-seller autobiográfico intitulado “Chronicles: Vol. One.”, lançado em 2004. No Brasil, foram traduzidas as obras “Tarântula”, publicado em 1986 pela editora Brasiliense; “Crônicas – Vol.1”, publicado em 2005 pela Planeta; “Forever Young”, publicado em 2009 pela Martins Fontes; e “O Homem Deu Nome a Todos os Bichos”, publicado em 2012 pela Nossa Cultura.

Venham escritores e críticos
Que profetizam com suas canetas
E mantenham os olhos abertos
Não haverá outra chance
E não falem cedo demais
Pois a roda ainda está girando
E não há como dizer quem ela está chamando
Pois agora será tarde para o perdedor vencer
Pois os tempos, eles estão mudando…
(Bob Dylan, The Times They Are A-Changin’, 1963)


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