Apoiador do AI-5 e idealizador do “milagre econômico”, Delfim ainda é influente
Novo alvo da , Antonio Delfim Netto é amigo e conselheiro do presidente Michel Temer
O ex-ministro da Fazenda e do Planejamento no regime militar e ex-deputado federal Delfim Netto, de 89 anos, foi o principal alvo da 49.ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada na sexta-feira (9). Denominada Buona Fortuna, a investigação apura suspeita de pagamento de propina a políticos e agentes públicos pelo consórcio de empreiteiras responsável pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. A força-tarefa da Lava Jato afirma que o ex-ministro Antonio Palocci operou o repasse de R$ 15 milhões a Delfim.
Segundo os investigadores, ficou comprovado que pelo menos R$ 4,4 milhões das empresas vencedoras da licitação foram pagos ao ex-ministro. Os recursos foram repassados por meio de contratos fictícios de consultoria a empresas que têm como sócios Delfim e um sobrinho. O ex-ministro nega e afirma que os serviços foram prestados.
De acordo com o Ministério Público Federal, Delfim ajudou a estruturar um consórcio, em conjunto com o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para participar da licitação das obras de Belo Monte. Os contratos teriam sido direcionados pelo governo federal ao consórcio Norte Energia com o objetivo de gerar propinas a membros do PT e do MDB. A participação do ex-ministro no esquema foi apontada por executivos das construtoras Andrade Gutierrez e Odebrecht que, em delação, confirmaram o pagamento a ele.
Histórico e influência
Considerado o responsável pelo “milagre econômico” – período entre 1968 e 1973 em que o Brasil cresceu a uma taxa anual de 11% -, o economista Antônio Delfim Netto, de 89 anos, é até hoje um nome influente na política econômica do País. Amigo e conselheiro do presidente Michel Temer, costumava também ser ouvido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela presidente cassada Dilma Rousseff.
Professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), Delfim foi ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento durante a ditadura. As equipes econômicas das quais fez parte promoveram políticas de crédito favoráveis ao agronegócio e à indústria, além da construção de obras como a Rodovia Transamazônica. O resultado foi o início da escalada do endividamento externo brasileiro, que depois atingiria níveis não vistos até então.
Delfim foi ainda um dos ministros do governo Costa e Silva que votaram a favor do Ato Institucional número 5 (AI-5), que recrudesceu a ditadura no Brasil. Em seu voto pelo AI-5, afirmou que deveria ser concedida ao presidente “a possibilidade de realizar certas mudanças constitucionais, absolutamente necessárias para que este País possa realizar o seu desenvolvimento com maior rapidez”.
Quase 45 anos depois, em 2013, durante uma sessão da Comissão da Verdade, o economista afirmou que repetiria o voto pelo AI-5 “se as condições fossem as mesmas e o futuro não fosse opaco”. “Eu não só assinei o Ato Institucional número 5 como assinei a Constituição de 1988, (mas) nunca apoiei a repressão.”
Após a ditadura militar, Delfim ainda foi deputado federal. Em 2006, após cinco mandatos por São Paulo, ficou fora da Câmara.
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