Museu Sacaca: uma justa homenagem e uma merecida honraria

Uma legenda da tradição amapaense, agora recebe espaço especial no museu que leva seu nome em Macapá. Trata‐se de Raimundo dos Santos Souza, o ‘Sacaca’, nascido em 21 de agosto de 1926, com desenlace em 1999, ambos os momentos na capital amapaense.

 

Sacaca, um profundo conhecedor da floresta, recebeu essa sabedoria na infância, quando teve contatos e passou a trabalhar como auxiliar de pesquisadores estrangeiros no tempo em que o Amapá ainda pertencia ao estado do Pará.

 

Raimundo intensificava seu contato com o mato indo com o pai tirar madeira. Ao lado de ‘seu’ Maximiano e de pesquisadores, o ainda menino teve os primeiros contatos com as plantas. Inteligente, curioso e interessado em aprender tudo o que fosse possível sobre as árvores, gramíneas e trepadeiras, logo se tornou amigo íntimo da natureza florestal.

 

Quando começou a partilhar os seus conhecimentos empíricos, primeiramente no bairro, e depois na cidade inteira, logo o ‘preto’ do Laguinho recebeu o epíteto Sacaca, famoso emblema que levou para o túmulo.

 

Sacaca, no regionalismo amazônico, significa ação ou prática de bruxo, e no conhecimento botânico, planta da família das Euforbiáceas com propriedades medicinais.

 

Nessa semana que passou, Raimundo dos Santos Souza recebeu justa homenagem no Museu Sacaca. Foi aberto, ali, o Memorial Sacaca, contendo sua história; seus livros; as plantas que curam e seus significados; títulos; fotos; documentos pessoais como a Certidão de Nascimento, bem como as suas indumentárias de Rei Momo, título carnavalesco que ostentou durante 23 anos ininterruptos. No Memorial também se encontram lembranças do tempo do Sacaca radialista e futebolista, bem como do devotado fundador da UNA e do primeiro grupo de idosos do Amapá, e muito dos seus conhecimentos com plantas que chegaram a fazê-lo alvo da trama de uma prisão.

 

A iniciativa, idealizada e executada pelo diretor presidente do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), Jorge Souza, integrou o projeto ‘Venha pro museu. Valorize, ele é nosso!’, com o irrestrito apoio do governador Waldez Góes.

 

Em meio às homenagens a Raimundo dos Santos Souza, o Sacaca, uma honraria: os artistas plásticos Augusto Leite e Wagner Ribeiro receberam Diploma de Honra ao Mérito, pelo muito que fizeram ao novo Museu Sacaca.

 

Augusto diz estar honrado e eternamente grato pelo convite para participar do projeto, feito por Jorge Souza e pelo radialista Heraldo Almeida, e estende a gratidão ao chefe da comunicação do Museu Sacaca, Rogério.

 

O artista plástico Augusto Leite ajudou a coordenar a seleção de todo o acervo do mestre Sacaca, que compõe o Memorial, e ainda teve a responsabilidade de retratar em óleo sobre tela o rosto do homenageado, com mestria, além de ter participado da restauração da estátua monumento a Sacaca, que voltou à sua cor original. “Foi um trabalho intenso e cansativo, mas o carinho da família e de todos os que receberam o nosso trabalho com tanta admiração e respeito foi o nosso pagamento. Foram dias de muitas lágrimas, muita emoção, mas de muita alegria; tudo misturado”, desabafa Augusto.

 

Wagner Ribeiro, por sua vez, recebeu o título pelo brilhante trabalho na recuperação da estátua monumento e pela curadoria da exposição de artes plásticas com mais de dez artistas. No apagar das luzes, o artista ainda encontrou tempo para esculpir em madeira a placa onde onde se ler na entrada ‘Memorial Sacaca’.

 

“Fiquei internado por desidratação, focado na execução das tarefas; descuidei um pouco da saúde, mas sentir a emoção de todos ao verem os resultados da restauração do Memorial, como disse Augusto Leite, pagou tudo”, conclui Wagner Ribeiro.

 

O curta metragem de Álvaro Benincasa, falando sobre a elaboração da obra ‘Sacaca, Doutor da Floresta’, de Augusto Leite, com imagens do museu e fundo musical de Patrícia Bastos, emocionou a todos os que foram na solenidade.

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