“Muita gente prega que com a internet o jornal impresso vai acabar, isso é terrorismo”
Entre as diversas revoluções proporcionadas pela Internet, está a possibilidade de acelerar o trabalho e a repercussão do que noticia um jornalista. Então o professor de Jornalismo Jacks Andrade está de volta neste domingo em uma esclarecedora entrevista ao jornalista Cleber Barbosa, que foi ao ar no programa Conexão Brasília, pela Diário FM. Ele fala sobre um tema dos mais atuais e para o qual buscou se especializar: o marketing digital. As diferenças entre um e outro já foram apresentadas na primeira parte dessa entrevista, há alguns dias, mas a conversa de hoje avança para o mercado da imprensa e da publicidade, tendo experiências reais como ferramenta de detida e criteriosa análise deste conceituado profissional de imprensa e também professor universitário.
CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO
Diário do Amapá – Por que para quem estuda marketing político digital a primeira eleição do presidente americano Barak Obama é tão emblemática professor?
Jacks Andrade – Ele marcou a política em relação ao marketing eleitoral por ter sido o primeiro candidato a aplicar as estratégias e as técnicas do marketing digital dentro de uma campanha política, numa campanha eleitoral. Isso aconteceu em 2008, mas o Barak [Obama] já tinha uma presença nas mídias sociais naquela época, isso inclusive é apontado como fato de ele ter sido o escolhido dentre seus pares para a corrida presidencial. Na verdade ele foi um cara muito inteligente, a ponto de voltar toda a estratégia de sua campanha para o marketing digital, ele percebeu essa mudança de comportamento da população, do eleitor, conseguindo chegar a este eleitor de uma maneira mais eficaz, utilizando o marketing digital. É importante também quando a gente analisa essa história se perguntar se ele era um especialista em marketing digital? Aí a gente vai ver que não, mas foi inteligente o suficiente a ponto de chamar especialistas para cuidar da campanha dele.
Diário – E fez toda a diferença então, não é?
Jacks – Sim, se você analisar os números daquela campanha, a distância entre os resultados de campanha do Barak, comparados com os concorrentes que não utilizaram o marketing digital é assombrosa. Aí você percebe o resultado positivo dessas estratégias.
Diário – Pesquisas inclusive apontam que ele já usava algumas dessas estratégias antes da corrida presidencial, em Chicago, ao emplacar projetos sociais na área do direito.
Jacks – A gente pode dizer que o Barak foi um candidato construído através do marketing digital, pois a população passa a ter acesso ao candidato através do marketing digital. E o interessante é que ele usa uma estratégia que hoje é comum, mas que na época nem tanto, que é mostrar para a população o lado humano do profissional, então da mesma forma que ele divulgava informações profissionais, informações ligadas à carreira política, também divulgava o lado pai, o lado marido, não só o sucesso, mas a família e as preocupações do dia a dia dele, o que traz mais humanidade para o digital – e aproxima mais da população.
Diário – E a relação disso com a matemática, professor, os chamados algoritmos que a internet tanto utiliza, há quem diga ser nossas impressões digitais sobre tudo aquilo que navegamos na web?
Jacks – Exatamente. Quem acompanha cinema deve se lembrar do filme Matrix, da trilogia, que mostra muito bem isso, que na internet tudo são códigos, tem toda uma programação, e nessa questão do algoritmo que tanta gente fala é justamente o funcionamento desses programas, desses softwares que são utilizados na internet. Então como você colocou sobre nossas pegadas digitais, a cada site que a gente visita, a cada programa desse que a gente interage, eles recolhem um pouco de informações nossas e essa é a grande revolução do marketing digital, essa métrica de poder rastrear os passos e as informações de cada um que acessa esse conteúdo, que é quando a gente vai chegar no marketing individualizado, não mais o marketing de massa. Esse novo conceito, que muitos chamam de Inbound Marketing, ele muda completamente a ótica do marketing tradicional, saindo daquela visão da propaganda de massa, onde eu produzo o mesmo conteúdo e espalho para o maior número de pessoas, sem conhecer essas pessoas, partindo para o marketing individualizado, onde a pessoa, o cidadão, tem o poder de escolher que tipo de conteúdo ele quer consumir. Aí a gente vai ter que descobrir isso, produzir o conteúdo que possa ganhar a confiança desse indivíduo e não mais da massa.
Diário – Então voltando àquela eleição do Obama a equipe dele cruzava essas informações dos eleitores e municiavam a campanha disparando e-mails e mensagens personalizadas, não é?
Jacks – Sim, e para se ter uma ideia a equipe do Obama produzia conteúdos específicos para cada estado daquele país, conteúdos voltados para a proximidade daquela região, então o marketing digital visa exatamente essa aproximação. Outra coisa interessante é que geralmente o candidato cria apenas uma página em cada mídia social, uma página oficial, o Obama não, na campanha dele ele cria diversas páginas nas redes sociais, de acordo com assuntos e com afinidades do eleitorado dele. Ele tinha uma página no Facebook voltada para quem curte animal de estimação, por exemplo, os pet lovers; eram diversas páginas de assuntos que geram afinidades.
Diário – E sobre o Amapá, professor, nesse período em que o senhor mudou-se para cá, tem que tipo de informações sobre os mercados e essa relação com a internet?
Jacks – Olha, uma pesquisa recente do IBGE coloca que aqui no estado são 389 mil pessoas online, acessando a internet rotineiramente. E dessas pessoas quase 98% fazem esse acesso através do celular, então hoje fica muito clara essa ideia de que o controle do que acessar, do que buscar na mídia está na mão das pessoas, literalmente, então o marketing hoje, seja ele empresarial ou político, tem que ser pensado individualmente, pensando em conquistar esse indivíduo, pois o poder que antes estava no controle remoto hoje está na palma da mão de cada amapaense.
Diário – O senhor utiliza muito esses canais de interação, especialmente o Instagram, não é professor?
Jacks – É uma grande mídia social, onde estou tendo a oportunidade de compartilhar bastante informações sobre jornalismo, marketing e empreendedorismo através do Instagram.
Diário – O Twitter, professor, passa a impressão de que perdeu um pouco de terreno em relação a outras redes sociais?
Jacks – Olha, o Twitter já perdeu bastante terreno e agora vem se recuperando, vem voltando nesse cenário das mídias digitais, especialmente agora com o aumento do limite de caracteres, o Twitter que entrou inaugurando essas noção de microblog né, que são notícias rápidas, transmitidas de uma forma sucinta, ele vem voltando a ganhar espaço, voltando a ganhar voz dentro desse mar de mídias sociais, agora com essa possibilidade de transmissão de vídeos e uma série de novidades que volta a agradar a população. Mas pelo que eu sei aqui no estado do Amapá o Twitter não perdeu muita força na área política, pelo que eu converso com os amapaenses, ele tem seu espaço garantido aqui no cenário político.
Diário – E no jornalismo, professor, como a internet está mudando esse mercado?
Jacks – Hoje a internet mudou tanto o jornalismo que a velocidade da notícia chegou a extremo do tempo real. Hoje as pessoas não conseguem esperar mais a notícia ser publicada.
Diário – Mas os jornais impressos ainda conseguem furar muitas outras mídias, como a televisão que vira e mexe reproduz capas e reportagens exclusivas do impresso, não é?
Jacks – Muita gente prega que com a internet o jornal impresso vai acabar, mas isso daí é terrorismo, o jornalismo impresso tem um papel de destaque dentro do jornalismo como um todo e vem se adaptando a essas mudanças, como todas as mídias tradicionais, então eu acredito que o espaço do jornalismo impresso já foi conquistado e não vai ser perdido não.
Diário – As redes sociais são um fenômeno, mas carecem da falta de credibilidade, daí a importância do jornalismo convencional estar lá para dirimir essas dúvidas, não é?
Jacks – Exatamente, os veículos de comunicação profissionais ainda detém essa credibilidade, essa confiança do brasileiro, que já começa a desconfiar de informações que vêm de fontes que não são jornalísticas.
Perfil…
Entrevistado. O professor e jornalista Jacks Andrade é empresário, sócio da Delphus Consultoria e Projetos. Especialista em Comunicação e Marketing Institucionais pela Universidade Castelo Branco (RJ), Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Federal de Viçosa (MG), Mestrando em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Amapá. Foi professor do SENAC-MG e da Universidade Federal de Viçosa (MG) em cursos na área de Comunicação, Marketing e Vendas. Atualmente, é consultor e instrutor credenciado ao SEBRAE, e ainda professor de Jornalismo da Universidade Federal do Amapá (Unifap) e também da Faculdade Estácio de Macapá.
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