“Sem qualquer tentativa de menosprezar os efeitos catastróficos da inundação impostos a Ferreira Gomes pela cheia do Rio Araguari no período de maior volume de chuvas no mês de maio deste ano, a tragédia vai acabar representando uma festa junina se comparada à cheia que vai atingir o município de Porto Grande nos meses de abril e maio do ano que vem, por causa das barragens das três usinas hidrelétricas e da inexplicável falta de proteção da cidade a eventuais fenômenos causados pela cheia do rio, o que vai se constituir, comparativamente, a uma grande festa de carnaval, diante das proporções gigantescas da inundações”.
O alerta foi dado na manhã desta quarta-feira pelo geólogo e especialista na área de meio ambiente, Antônio da Justa Feijão, no programa LuizMeloEntrevista (DiárioFM 90.9). Ele explicou que a grande inundação vai ocorrer em decorrência das fortes chuvas nas cabeceiras do Rio Araguari no período de maior densidade pluviométrica durante o ano: “Essas águas chegarão a Porto Grande e encontrarão toda a bacia hidrográfica tomada pelo grande lago cheio em sua cota máxima (maxi morum). Sem encontrar vazão, a água só tem um caminho: as áreas mais baixas. Como Porto Grande não possui muro de arrimo para contenção dessa água, o que por si só é condenável irresponsabilidade do Poder público, o desastre será inevitável”.
E tudo isso, segundo Feijão, sem qualquer beneficio real para a população dos municípios do entorno onde se localizam as três hidrelétricas que no entendimento dele, foram concebidas sem qualquer estudo de impacto ambiental, em processos de concessão de licenças “no mínimo estranhas”, numa “lamentável constatação” de que os interesses econômicos são colocados acima das necessidades da população.
“Quando as três usinas estiveram funcionando normalmente, todos os empregos gerados nas três unidades não lotarão um ônibus de 50 lugares, porque as usinas serão totalmente controladas digitalmente dos escritórios das empresas em Macapá e mesmo em São Paulo, significando dizer que as centenas de empregos atualmente existentes, sejam de caseiros e nas áreas de mineração ao longo do rio deixaram de existir, porque tudo ficará debaixo d’água, resultando em prejuízos sociais e financeiros, resultando num abalo negativo irreversível na economia do Amapá”, analisa o especialista.
Antônio Feijão condena, também, a pouca distância entre as três usinas hidrelétricas ao longo do Rio Araguari: “Eu não consigo compreender de que forma se deu o licenciamento ambiental dessas hidrelétricas. A Usina Coaracy Nunes (Paredão), isoladamente, naquele lugar poucos riscos oferecia à população dos municípios ribeirinhos, apesar dos impactos ambientais causados durante sua construção, e ainda sentidos nos dias atuais, inclusive com a morte de dezenas de milhares de peixes todos os anos, por causa da abertura e fechamento de comportas. Entretanto, permitir que outras duas hidrelétricas fossem construídas uma ao lado da outra, praticamente em frente a várias cidades, representa um verdadeiro atentado à vida da fauna e da flora, inclusive com sérias e graves conseqüências para o ser humano. Eu não sou contra a construção de hidrelétricas, muito pelo contrário, o que eu defendo é a realização de estudos de impactos ambientais sérios, com a elaboração de projetos que coloquem o ser humano e a vida animal como prioridades”.
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