“Não temos presos políticos no país, nós temos políticos que estão presos”
Um dos mais conceituados cientistas políticos do país, o professor João Paulo Vergueiro, retorna ao Diário do Amapá neste domingo para falar um pouco mais sobre as conjunturas política e econômica do Brasil, a uma semana das eleições gerais que darão um novo mandatário à nação e também as casas legislativas. Sempre sob a ótica das ciências políticas, o professor e pesquisador universitário fala também sobre a escalada das candidaturas de ultradireita pelo mundo, um contraponto ao movimento que elegeu presidentes mais do espectro de esquerda na década passada. João Paulo Vergueiro falou ao programa Conexão Brasília, da Diário FM, daí o Diário apresentar a seguir os principais trechos dessa conversa com o jornalista Cleber Barbosa.
CLEBER BARBOSA
Da Redação
Diário do Amapá – A gente está às vésperas de mais uma eleição no Brasil e muita gente fala devido ao desgaste da política em nem ir votar este ano. O senhor acredita em uma abstenção muito grande no domingo?
João Paulo Vergueiro – Olha, as eleições deste ano a tendência é que se mantenha mais ou menos nos patamares das eleições anteriores. Como está havendo uma grande mobilização de eleitores para candidatos que estão vindo das últimas eleições, são cinco, então você tende a que as pessoas sejam mais presentes, com mais vontade de votar, inclusive a gente tem visto uma tensão entre candidatos de esquerda, de direita, o que tende a fazer as pessoas participarem mais.
Diário – É, inclusive a Justiça Eleitoral tem orientado neste sentido, de que qualquer insatisfação do eleitor só pode ser manifestada mesmo é pelo exercício do voto, não é?
João Paulo – Sim, inclusive os últimos quatro anos foram bastante diferentes, atípicos mesmo, com mais um Impeachment, com um presidente que é impopular, segundo as pesquisas, né? Mas também com candidatos que tentaram antes a presidência e outros que estão começando agora com bastante popularidade, então é sim uma eleição que está chamando bastante a atenção internamente, gerando muitos debates e também inimizades, então uma eleição que ninguém está ficando muito de fora dela.
Diário – Aliás, sobre o presidente Temer ele logo que assumiu já tinha dito que não disputaria a reeleição, embora pudesse. O primeiro presidente que pode disputar a reeleição no cargo foi FHC não é professor?
João Paulo – Exatamente, foi ele que aprovou a mudança na constituição.
Diário – Então Michel Temer é o primeiro presidente no exercício do mandato que não disputa a reeleição, é isso?
João Paulo – É verdade, é fato. O presidente Michel Temer na verdade usou isso, no meu ponto de vista, como uma estratégia, pois quando assumiu tinha dois anos de mandato e se chegasse falando em reeleição seria muito pressionado, por todos os lados, pois muita gente quer ser presidente, mas eu não duvido que se ele tivesse tido uma alta popularidade seria sim candidato.
Diário – Na verdade ele até ensaiou disputar a reeleição não foi?
João Paulo – Exato, ele chegou a anunciar que estaria pensando nisso, fez o que se chama de balão de ensaio.
Diário – No começo da corrida presidencial e com a saída de Lula da disputa o índice de eleitores indecisos era muito alto o que fez muita gente questionar se era possível a eleição ser anulada em caso de uma enxurrada de votos brancos ou nulos?
João Paulo – Essa é uma pergunta bastante recorrente, e a resposta é simples. É não. O fato de ter votos brancos e nulos em grande quantidade não faz com que a eleição seja anulada, pois esses votos são desconsiderados no resultado final pelo Tribunal Superior Eleitoral, que só considera válidos os votos efetivos em candidatos, então esse risco não existe.
Diário – O PT sempre teve um plano B digamos assim, para o caso da candidatura de Lula ser barrada, que era efetivar o vice na chapa, o Fernando Hadad. E a estratégia de transferir votos para ele pode dar certo?
João Paulo – Claro, sem dúvida. Do ponto de vista político a decisão da justiça fez o partido trabalhar com mais força o nome do Haddad para a Presidência da República, mas a crescente de votos depende muito da campanha, só que como eles tiveram praticamente um mês para isso deu para sim fazer essa campanha pela transferência.
Diário – E sobre o fato de Lula estar preso professor, quando o PT vem tratando esse fato como se ele fosse um preso político?
João Paulo – Não, não o Brasil não está numa situação antidemocrática para que a gente tenha presos políticos. A gente tem vários políticos que estão presos.
Diário – Como o senhor está vendo a atual conjuntura econômica professor?
João Paulo – Olha que interessante, a gente está tendo uma crise econômica na Argentina, com a alta do dólar e os juros nas alturas chegando aos maiores do mundo e no Brasil apesar de toda a especulação com o dólar e a greve dos caminhoneiros, que tem impactado a economia, os nossos juros continuam baixos, muito baixos, aliás os menores índices que a gente já viu recentemente. Já o desemprego, que ainda é alto, no mínimo está começando a cair ou se mantendo, não está piorando. Então ainda que a recuperação econômica esteja devagar, ainda é uma tendência neste momento, com perspectivas melhores para o brasileiro nos próximos anos, então se o novo presidente ou a nova presidente souber fazer uma gestão econômica vai ajudar bastante, vai facilitar bastante para quem estiver no poder e para todos os brasileiros.
Diário – Recentemente muito se falou sobre uma projeção feita por um economista de que daqui mais dois anos o Brasil poderia experimentar um crescimento razoável, então uma renovação política, com a consequente oxigenação do Congresso Nacional poderia ajudar?
João Paulo – Não acredito que seja necessariamente com a renovação do Congresso, pois se nós elegermos um presidente ou uma presidente que consiga mobilizar apoio no Legislativo para fazer as reformas que são necessárias aí eu acredito que a gente vai poder avançar do ponto de vista econômico. É fato que a gente precisa mexer na Previdência, de alguma maneira, para a gente diminuir o déficit; é fato que a gente precisa avançar em uma reforma tributária para reduzir a complexidade tributária brasileira e estimular mais o desenvolvimento econômico. Um governo em primeiro ano de mandato costuma ter maior facilidade junto ao Congresso para fazer avançar suas pautas com políticas econômicas, então se isso efetivamente acontecer no ano que vem a gente tem uma boa perspectiva de avanço na economia.
Diário – Agora a classe empreendedora do país não pode dar de ombros, digamos assim, para a política, pois um líder de uma nação precisa também se dirigir ao mercado, que por sua vez vive de olho nos acontecimentos da atividade pública não é?
João Paulo – Sim, o mercado está sempre de olho, é um grande termômetro e ele às vezes influencia também a política, então nenhum dos agentes na verdade é isolado, o mercado também é parte disso.
Diário – Agora uma reflexão mais internacional professor, a gente tem visto uma escalada de eleições da direita, ou até da ultradireita em diversos países. Isso pode acontecer por aqui?
João Paulo – Sim, acredito, a gente tem visto o candidato Jair Bolsonaro com bastante força, que vem alinhado com esse movimento, então acho que a política é feita de ciclos, de ondas, então existem momentos em que a sociedade está mais propensa a apoiar um candidato com espectro ideológico mais à direita, como já tivemos na década passada na América Latina inteira, quando a população mais propensa a apoiar candidatos do espectro de esquerda, então a política é feita desses movimentos.
Perfil…
Entrevistado. O professor João Paulo Vergueiro é casado e pai de duas filhas; Diretor Executivo da ABCR – Associação Brasileira de Captadores de Recursos. Professor Assistente da FECAP, administrador e mestre em administração pública pela FGV-SP, com bacharelado em Direito pela USP. Foi Assessor de Financiamento de Projetos da organização britânica Christian Aid e Gerente de Comunicação do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social. É, voluntariamente, Coordenador do Grupo de Excelência de Gestão do Terceiro Setor, do Conselho Regional de Administração de São Paulo.
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