Política Nacional

Se eleito, Bolsonaro terá de lidar com promessa de campanha e fisiologismo

Presidenciável sabe que é preciso ter governabilidade no Congresso


Líder de um partido que era nanico até o primeiro turno, Bolsonaro terá de administrar egos na legenda.

Se eleito, o candidato a Presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro, terá de lidar com dois universos distintos: manter seus compromissos de campanha, firmados na moral e nos costumes ou sucumbir ao governismo de coalizão, tendo de negociar pelo fisiologismo do Congresso Nacional.
O grande voto de confiança que o eleitor bolsonarista dá ao presidenciável reside no discurso pelo fim da corrupção, imagem colada nos governos petistas e na infinidade de escândalos protagonizados desde que o Mensalão ganhou visibilidade.

Fruto da ascensão do “baixo clero”, onde sobreviveu politicamente nas últimas duas décadas, Bolsonaro dificilmente irá compor com um grande partido além do DEM, no qual Onyx Lorenzoni – seu grande articulador –, será o chefe da Casa Civil de um futuro governo Bolsonaro.

Derrotados nas urnas, como o deputado Alberto Fraga, líder da “bancada da bala”; o ex-líder do DEM na Câmara, Pauderney Avellino e o ex-ministro da Educação do presidente Michel Temer, Mendonça Filho, são três figuras que já aparecem como herdeiros de ministérios.

A reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Câmara também é colocada na mesa de negociação. O próprio parlamentar fluminense já acenou ao candidato nas últimas semanas, dizendo que existe convergência de propostas entre os dois.

Fechar com o DEM, no entanto, trará um custo para Bolsonaro frente ao eleitorado, já que a principal legenda do “centrão” conta com vários de seus quadros envolvidos na Lava Jato. Maia, por exemplo, tem três inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF).

“Bolsonaro prometeu total autonomia e grande transformação nessas relações, mas buscou o DEM, que é o antigo PFL. É um partido que aprendeu a fazer política a partir do uso da máquina e essa vai ter de ser uma manobra muito bem explicada para o eleitor, que quer uma nova prática”, observou o cientista político do Insper, Carlos Melo.

A lua de mel com Bolsonaro, avalia, pode ter êxito no curto prazo, mas dependerá muito de resultados econômicos. A relação política com o Congresso e a forma como o eleitor vai receber isso serão definidores do sucesso. Assim, os movimentos de recuperação econômica, puxadas por Paulo Guedes, serão balizadoras do êxito do governo.

“Acho que no começo, talvez tenha sucesso, por conta da euforia. Isso aconteceu com o [Fernando] Collor. Se ele conseguir reformas, der um arranque importante e a economia reagir, as condições podem melhorar. Agora, isso tudo que ele prometeu, de não negociar, não se sustenta porque a lógica do Congresso é fisiológica, de requerer recursos públicos para dar viabilidade aos seus mandatos”, emendou Melo.

O fator PSL
Nanico, o PSL saiu das urnas como o grande vencedor do Legislativo, com 52 deputados eleitos. Mesmo com a segunda bancada da Câmara, o partido espera ampliar sua base para 60 parlamentares até fevereiro e abrigar políticos que estejam em partidos que não cumpriram a cláusula de barreira.
A falta de estrutura partidária ficou evidente durante o processo eleitoral, quando o grupo de Bolsonaro bateu cabeças e mostrou falta de sintonia em diversos temas. Luciano Bivar, presidente licenciado da sigla, avisou que vai retomar o comando já em novembro. Ele cedeu espaço para Gustavo Bebianno, homem de confiança de Bolsonaro, durante a corrida eleitoral.


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