“Existem doenças horrorosas, como câncer e Aids, mas respeitem a depressão”
ANA LÚCIA CARVALHO ANSPACH – Jornalista e Escritora
Da mesma forma autêntica e despachada com que sempre tocou o trabalho e a vida pessoal, a jornalista e escritora Ana Lúcia Anspach decidiu quebrar o silêncio e usou a superação do drama pessoal – ter sido acometida por uma grande depreressão – para retomar a carreira em grande estilo. Lançando um livro de poesias que também é um registro profundo sobre esse que já está sendo considerado o mal do século. Depois de pensar de manhã, de tarde, de noite e de madrugada em como tirar a própria vida, ela diz estar disposta a debater o problema abertamente, para com seu testemunho ajudar quem quer que seja a sair da depressão. Ela foi ao rádio, falar da doença, mas também para celebrar a nova fase, onde a veia artística aflora e a paixão pela vida vem junto.
Diário do Amapá – Você que se notabilizou também pela atuação como assessora de imprensa, nos bastidores digamos assim, agora tem os holofotes apontados em sua direção, como escritora. Como tem sido essa experiência?
Ana Lúcia Anspach – Então, às vezes de uma adversidade vem uma coisa boa, é a sorte, porque senão só ficariam as lembranças de um momento ruim. Eu passei por um momento muito difícil, tive uma séria crise de depressão que durou exatamente um ano e nove meses. Eu poderia dizer que foi aproximadamente dois anos, mas acompanhei mês a mês esse processo, que foi muito doloroso. Mas disso sobrou, ou resultou, o livro.
Diário – Como aconteceu exatamente?
Ana Lúcia – Bem, eu não tinha vontade de fazer nada, não tinha estímulo, não tinha força, então fui buscar refúgio aonde sempre busquei, porque eu escrevo desde os 12 anos de idade. Eu comecei a produzir e aí está a “Trilha do Mar”.
Diário – E essa obra narra a sua relação com o mar ou poemas tendo ele como inspiração?
Ana Lúcia – São poemas, então tem de tudo. Eu até estava falando algumas coisas a respeito desse livro, tenho algumas premissas, como ter conhecido virtualmente durante o período em que estava com depressão um cara que cada vez que puxo o currículo dele eu digo “não é possível que esse cara seja meu amigo!” [risos] Não desmerecendo os meus amigos, que aliás tenho amigos feras, mas a história desse cara, o José Camelo Pontes, eu ainda não tinha visto. Ele é professor, é doutor, escritor, poeta, ele é o bicho! Ele é cearense, mas faz o eixo Rio-São Paulo, dando palestras.
Diário – E o que rolou quando vocês se conheceram mesmo pela Internet?
Ana Lúcia – Ele curtia as minhas poesias, pois o lugar onde eu divulgava as minhas poesias era o Facebook, não era nem no Instagram. Eu não sabia nem quem ele era, então depois de algum tempo conversando com ele virtualmente ele virou para mim e disse: “Vamos escrever um livro juntos?”. Bem, quem que escreve não quer publicar um livro, não é? Eu disse que sim e ele disse que eu poderia ir produzindo e mandando para ele, que organizaria tudo. Então era a única coisa que eu conseguia fazer era produzir, então fui produzindo, produzindo para ele escolher, selecionar, sei lá, achava que poderia encontrar algo mais à altura dele. Até que um tempo depois ele disse que não iríamos mais publicar o livro e sumiu.
Diário – Como assim sumiu?
Ana Lúcia – Sim, ele é meio meteórico, tem mil coisas para fazer e de vez em quando desaparece das redes sociais. Eu fiquei arrasada, afinal já estava com depressão, não precisava mais de nada para piorar… [mais risos] Depois ele reapareceu e o questionei se havia feito alguma coisa de errado, mas ele disse “você está pronta e vai escrever esse livro sozinha”. Gente, ele fez tudo, contatou a editora, negociou contrato com a empresa – a Editora 24 Horas, de São Paulo – ele só mandou o contrato para eu assinar. Foi assim! Tão simples. Só falta plantar uma árvore, pois ter um filho foi muito simples, e fazer um livro foi muito simples.
Diário – Mas ele não veio para o lançamento do livro, não é?
Ana Lúcia – Não… infelizmente. Como disse, ele tem uma vida muito corrida, entre o Ceará, o Rio de Janeiro, São Paulo e o exterior. Além disso, está com 67 anos e a saúde não está muito bem. Mas ainda foi capaz de me surpreender ainda mais com o prefácio do livro. Gente, eu digo que quem compra o livro nem precisa ler meus poemas, fica no prefácio! Cara, é muito bom! Imagina eu um dia lendo o rascunho dele e de repente… Oi? [pausa] Isso aqui é para mim mesmo? É de mim que você está falando? Foi maravilhoso, maravilhoso.
Diário – Já que você abriu a sua intimidade, revelando esse grave problema pessoal, a gente queria saber o que você pode dizer a respeito do enfrentamento da depressão, um problema muito atual e que curiosamente aumenta nessa época do ano?
Ana Lúcia – Em primeiro lugar quero dizer que não sou salvadora do mundo, nem não sou santa. Mas eu estabeleci um propósito para a minha vida, que se eu puder uma pessoa que seja, alguém que esteja passando por isso, vou ajudar! Pode dar o meu número de telefone, pode ir na minha casa, enfim, porque é um momento… [se emociona] Uau! Não tenho palavras… Eu cheguei a achar, depois de um ano e nove meses, pensando de manhã, de tarde, de noite e de madrugada em me matar. Sim, de madrugada, eu desenvolvi uma coisa que depois nem consegui me livrar, que é a insônia. Então eu só pensava em formas de me matar.
Diário – De fato, que drama.
Ana Lúcia – Pois é, e desde que o livro ficou pronto eu não tinha visto, lido enfim, só fiz isso na noite de lançamento. Eu te confesso que tinha um certo receio, sabe? O livro tem muita coisa leve, por favor! Muita coisa bonita mesmo, leiam! Mas também tem muita coisa densa, pois foi num momento que fiz um mergulho mais profundo, então me assustava um pouco voltar a ler isso, não sabia avaliar que tipo de emoções isso iria me despertar. Mas respeitando todas as doenças graves que se conhece, como câncer, Aids, doenças horrorosas, mas cara, respeitem a depressão!
Diário – Como foi a reação de sua família Ana?
Ana Lúcia – Bem, eu vivo só com a minha filha, uma menina muito esclarecida, mas nem ela, que lê muito, que sabe das coisas, enfim, mas nem ela conseguiu entender o que era a profundidade, o sofrimento que eu passava. Então chegou um momento que eu me vi absolutamente só, pois a depressão é uma doença que te deixa negativa, que te faz pensar que você é imcapaz, inferior e fica extremamente pessimista e irritada. Eu que amo música também, simplesmente odiava ouvir música, odiava ouvir música!
Diário – O fim de seu casamento foi anterior à depressão?
Ana Lúcia – Não! [um longo não] Imagina! Meu Deus, isso foi uma libertação! [gargalhada]
Diário – Essa é a Ana Lúcia!
Ana Lúcia – Eu me separei em 2002, foi a melhor coisa que fiz na minha vida. Então não tem a ver com a depressão, eu costumo comparar com aquela brincadeira do cabo de guerra, onde a gente que não tem dinheiro, que passa a vida toda batalhando, é sempre levado de um lado para o outro, onde os relacionamentos também são assim, concessões onde um puxa para um lado e o outro para a direção oposta, então aquelas batalham levam a perdas em sua vida, perdas emocionais e perdas de pessoas extremamente importantes em minha vida, que morreram no Rio de Janeiro e eu não estava lá, estava aqui. Eu também tive sim perdas materiais com a separação, isso sim uma coisa ruim, porque quando você junta dois salários você tem uma vida bem bacana e quando passa a ser pai e mãe as coisas apertam muito.
Diário – Bem, águas passadas, obrigado pela entrevista e boa sorte nessa nova fase.
Ana Lúcia – Eu que agradeço, leiam o livro! A minha filha dizia quando eu estava doente que queria a mãe dela de volta. Estou de volta.
PERFIL
Entrevistado. Ana Lúcia Carvalho Anspach possui graduação em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1988). Licenciada pelo Programa Especial de Formação Pedagógica para Formadores da Educação Profissional. Atualmente é Analista de Estudos e Desenvolvimento no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Amapá – SENAI. Tem experiência na área de Comunicação Social e digital, com ênfase na produção de textos e matérias jornalísticas. Ministrou aulas de Língua Inglesa e Língua Portuguesa em instituições em cursos técnicos. Palestrante especializada em cursos que tratam de temas relacionados à área de Humanas.
Profissional. Definindo-se como nômade, morou em vários bairros de sua cidade, até que veio parar no Amapá nos anos 1980. É jornalista, publicitária, com licenciatura em educação profissional, assessora de imprensa, cidadã macapaense. Uma mulher acredita nas pessoas e no amor, ama o mar, a lua, a filha, os amigos, cantar.
Carreira. Ana Lúcia Carvalho Anspach tem 52 anos de idade, é separada e mãe de uma filha. Entre as tantas qualificações e especializações, ela é pesquisadora na área de Biopsicoetica. Mestrado em andamento em Administração e Marketing, pelo Centro Universitário Internacional e ainda possui Especialização em Formação Pedagógica.
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