CLEBER BARBOSA
EDITOR DE TURISMO
A bucólica vila de Mazagão Velho completa na próxima quarta-feira, dia 23, seus 249 anos de fundação. E aumenta a atratividade turística entre as cidades do interior do Amapá, afinal está intrinsecamente ligada à história da ocupação portuguesa da Amazônia, pois era uma cidade africana antes de se transferir para o Brasil, sabia? Sim, é dona de uma das mais belas trajetórias das cidades amazônicas e se aproxima de fazer 256 anos, que foi o tempo em que existiu no Barrocos, como colônia portuguesa.
História
As investidas portuguesas contra os mouros levaram à ocupação de diferentes cidades da área meridional de Marrocos, à implantação de Mazagão, erguida na parte sul da baía, bem junto ao mar. Aos poucos, no entanto, os mouros começavam a recuperar suas cidades. Em março de 1541, Santa Cruz de Cabo de Gué caiu em poder dos mouros. A perda deste baluarte compeliu o rei D. João III a determinar já em Outubro daquele ano, o abandono e a evacuação de Safim e Azamor.
Alguns anos mais tarde, em 1550, Alcácer-Ceguer e Arzila foram abandonadas pelos portugueses, restando a Portugal, de suas conquistas em Marrocos apenas Ceuta, Tânger e Mazagão. Ainda segundo registros históricos, em 1662, Tânger, que permanecera portuguesa, foi cedida à Inglaterra como parte do dote de casamento de D. Catarina com Carlos II. Assim, no final do século XVII até meados do XVIII apenas Mazagão permaneceu como marco de resistência do sonho lusitano em Marrocos.
Mazagão nascera uma cidade litorânea, voltada para o comércio. Sua vocação de concentrar riquezas contribuía para aumentar a cobiça de outros povos, com riscos de invasão a que era submetida. Riscos aos quais se somavam os objectivos mouros de recuperar seu território.
Retirada
Ainda por determinação de D. João III, a cidade Mazagão fora fortificada, transformada em uma cidadela da qual se dizia inexpugnável. E de fato, a cidadela resistiu por mais de dois séculos, ainda que isolada por terra pelos contingentes marroquinos. A partir de 1750 intensificaram-se os ataques mouros à praça portuguesa de Mazagão. A partir de então se sucederam cercos, ataques sofridos por Mazagão até 1763, quando a cidade se viu na iminência de ser tomada.
Mas foi em 1769 que um poderoso contingente de 8.000 homens montou o último cerco à cidade.
A transferência da África para a América do Sul
O transtorno, o perigo real, imposto pelos mouros que sitiavam a vila portuguesa de Mazagão, no Marrocos, levou o Rei D. José I a ordenar o abandono da praça e o embarque imediato da população para Lisboa. Em 1769 já haviam se passado 256 anos desde que os portugueses fundaram Mazagão. Muitas transformações haviam se operado nas relações entre os países, nas políticas internas, nos produtos das colónias.
E, no reinado de D. José, a política portuguesa assumia novos rumos. Ao tomar conhecimento do cerco que se montava a Mazagão, o Rei decidiu pela transferência para o Brasil das 340 famílias ali residentes. Mas não era Lisboa o destino final daquela população: as preocupações da coroa portuguesa com a ocupação da Amazônia brasileira fizeram com que se integrasse a estratégia de evacuação de Mazagão em Marrocos, com a implantação de uma Nova Mazagão na Amazônia.
A intensificação dos conflitos em Marrocos coincidiu com um período em que a política portuguesa buscava intensificar o povoamento das fronteiras de sua colônia americana. A exploração do ouro no Brasil exigia da coroa cuidados especiais com as vias de acesso às minas.
Ocupação de terras amazônicas foi para proteger ações de Portugal no Brasil
Seja para garantir terras potencialmente ricas em ouro, seja para evitar a evasão, o contrabando do ouro, o controle da Amazônia preocupava Portugal. A região, o Rio e sobretudo sua foz era alvo constante das incursões inglesas, holandesas e francesas. Apenas com o povoamento e a fortificação de pontos estratégicos poderiam vir a garantir a posse e o domínio do Amazonas. Assim é que, entre 1755 e 1759, durante o governo de Francisco Xavier de Mendonça Furtado (governador do Grão Pará entre 1751 e 1758) foram fundadas cerca de 60 vilas e povoados no Estado do Grão-Pará, nas capitanias do Pará e Rio Negro. Mas nos meados do século XVIII, parece que já não se mostrava muito fácil arregimentar colonos voluntários para a América. Os dois problemas confluíram para a solução: transplantar para a América a colônia de Marrocos. “Com estas famílias ordena El Rei Nosso Senhor, que se estabeleça uma nova Povoação na Costa septentrional das Amazonas, para se darem as mãos com o Macapá, e com Vila Vistoza”. [Extratificação da redação oficial da época]
Amapá
A questão estratégica de defesa dos canais de acesso ao Amazonas, é evidente. A vila de São José de Macapá, com a sua Fortaleza de São José, representava o foco da questão de defesa do canal Norte do Rio. A guarnição de Macapá poderia vir a necessitar de reforços em caso de assédio; nestas circunstâncias as vilas próximas responderiam em seu auxílio. Assim a Vila de Mazagão viria a integrar o sistema de apoio à Fortaleza de São José, juntando-se às vilas de Macapá e Vila Vistoza da Madre de Deus, fundada em 1767 às margens do rio Anauerapucu.
*Colaborou: Brasil Arqueológico
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