“Existem dois fatores fundamentais à saúde: atividade física e alimentação”
Essa frase quase repetida como um mantra em qualquer consultório médico pelo planeta, nunca foi tão acertada e apropriada para os dias atuais, segundo o médico mastologista Mauro Secco, que atua no Amapá há mais de vinte anos e que acaba de assumir a presidência regional da Associação Médica Brasileira. Ele esteve no rádio ontem (20) concedendo uma esclarecedora entrevista ao programa Conexão Brasília, da Diário FM. Mauro Secco explica de forma didática como os novos hábitos e as novas exigências do mercado de trabalho tem feito aumentar a incidência de doenças graves como o câncer de mama em escala mundial. Também trouxe recortes regionais a respeito da maternidade, prevenção, fatores de risco e outras valiosas informações que o Diário do Amapá puiblica a seguir.
CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO
Diário do Amapá – A sua especialidade médica é em mastologia e não oncologia, não é?
Dr. Mauro Secco – Sim, as pessoas geralmente fazem confusão a esse respeito, pois a gente trata câncer de mama, mas a minha especialidade é em mastologia e ginecologia, que trabalha com as doenças da mama e atendimento à mulher em geral.
Diário – E o câncer de mama ainda tem uma incidência alta doutor?
Dr. Mauro – Sim, tem uma tendência de crescimento mundial, mas aqui no Norte tem menos. Mas nas regiões Sul e Sudeste é onde mais tem, assim como em outros países da Europa e dos Estados Unidos tem mais ainda, tudo ligado ao desenvolvimento e ao estilo de vida, né? Conforme a mulher tem menos filhos, amamenta menos, ela tem mais câncer de mama. Além de outros fatores também, não são só esses, mas pequenos fatores que traçam esse perfil da mulher moderna. Por outro lado, se tem controlado mais o câncer de colo uterino, que tem uma tendência de diminuição, mas o de mama vem aumentando.
Diário – Qual a explicação para isso?
Dr. Mauro – Olha, o que se consegue hoje é diminuir o número de mulheres que morrem da doença, descobrindo antes, tratando melhor, com medicamentos novos, novas tecnologias, enfim, então se consegue descobrir antes e as mulheres embora tenham mais câncer estão morrendo menos, essa é a tendência mundial, tratando como uma doença crônica, como um diabetes, uma hipertensão, ou seja, passível de controle.
Diário – É até um paradoxo, pois ao longo dos últimos anos a população passou a ter muito mais acesso a informações só que a mudanças de hábitos levou ao surgimento de outros fatores de risco, não é?
Dr. Mauro – Sim, infelizmente. Só que o que se perde de um lado tem que se buscar ganhar de outro, como as atividades que diminuem a incidência de muitas doenças, que são dois fatores fundamentais e que podem mudar a saúde mundialmente: a atividade física e a alimentação. Isso muda tudo e países como os Estados Unidos tem uma preocupação fundamental de que eles têm um índice muito elevado de obesidade e todas as doenças que vem com isso, não é?
Diário – Principalmente devido aos hábitos alimentares deles, não é? Fast food e tudo mais?
Dr. Mauro – Sim, eles têm muita incidência de câncer de mama, câncer de intestino, problemas como hipertensão e diabetes, enfim, tudo consequência disso [a obesidade], então o ideal é que se faça a prevenção. E a prevenção é criar hábito, não adianta criar o exame mais moderno para se fazer a detecção, isso é válido, só que o mais importante é evitar que a pessoa adoeça. Então eu posso criar um carro com todos os itens de segurança, mas o melhor é que a pessoa ande na velocidade adequada, use cinto de segurança e tenha todos os cuidados para não ter o acidente.
Diário – Belo exemplo doutor.
Dr. Mauro – Pois é, o que a gente quer é que as pessoas não adoeçam, mas se adoecerem que se detecte cedo, e que se tenha as condições de tratar da melhor forma possível, só assim a gente vai ter uma saúde melhor. Mas o investimento na prevenção é fundamental e se os governantes, os prefeitos entendessem mais isso, que é importante fazer mais locais para que as pessoas caminharem, fazerem exercícios físicos, e não falo nem em quadras poliesportivas, que são importantes também, mas beneficiam um número menor de pessoas. Mas eu falo em locais para as pessoas andarem de bicicleta, caminharem com as famílias, locais seguros, agradáveis, para as pessoas terem onde ficar, saírem da frente da televisão, mas irem pra fora, caminhar, se exercitar, sair do sedentarismo, isso é muito importante. Isso muda tudo, diminui a incidência de muitas doenças.
Diário – Simples assim, né doutor? [Risos]
Dr. Mauro – Mas trabalhar junto com isso também a alimentação. Pois uma alimentação adequada muita coisa também. Na verdade, tudo que dá uma regra básica de alimentação que eu defendo, onde se diz que tudo que dá na árvore ou no chão é saudável, quase e tudo que é muito industrializado não é bom. Não existe uma árvore de quindim, uma árvore de brigadeiro… [mais risos] Existe muita coisa boa que faz mal, então tem se policiar muito para fazer as escolhas corretas na alimentação, isso muda muito a saúde pública de modo geral, pois reduz a quantidade de pessoas doentes, o que acaba sendo um custo elevado para o país e para todos. As pessoas mais saudáveis além de menos doentes são mais dispostas, trabalham melhor então acho que é um grande investimento que o mundo precisa fazer.
Diário – Tantas informações valiosas, não é doutor?
Der. Mauro – Sim, e o papel da imprensa é fundamental nisso, de divulgar essas informações. Na verdade isso tem mudado ao longo dos tempos, pois lembro que quando cheguei aqui há vinte e três anos, a palavra mastologia não fazia parte do cotidiano das pessoas, então a imprensa trabalhando a questão do câncer de mama, o outubro rosa, enfim, com tudo o que se falou esse tempo todo, hoje em dias as pessoas entendem, já procuram, há uma preocupação. Claro que muitas pessoas ainda não o fazem, mas em todos lugares é assim, mas já se tem um conhecimento muito maior e graças à imprensa com a divulgação, os debates e todos os serviços de uma forma completa.
Diário – Pois é, mas também é importante se repensar a abordagem dessas informações mais simples que hoje ganham maior importância na prevenção.
Dr. Mauro – Exatamente, a divulgação dos fatores de risco para o câncer, de todos os tipos, afinal nós temos o câncer de pele, o câncer de pulmão, além de uma gama de doenças graves que a gente pode interferir com uma informação adequada dá para se fazer a prevenção, evitar fatores de risco, como o HPV que é um problema sério e que o governo federal disponibiliza a vacina, mas muitos pais não deixam que as filhas fazerem, complicado isso, pois é uma vacina mundialmente aprovada e que vai atuar principalmente naquela adolescente, que é onde mais funciona a vacina. É uma vacina cara, pois só existe uma, não se tem o genérico, então a vacina que se faz aqui na unidade de saúde é a mesma que se faz nos Estados Unidos.
Diário – E a eficiência dela vem com quanto mais antecedência se administra nas meninas, não é?
Dr. Mauro – Quanto mais precoce melhor, então a partir de nove anos de idade. Não é que as pessoas adultas não devam fazer, devem também, mas as adolescentes são as que mais tem benefício, então deixar de oferecer para uma criança é um pecado, pois é uma vacina contra o câncer na verdade, daí até se falar entre aspas que o HPV é a única vacina contra o câncer, é uma função direta para se evitar. Se você somar o HPV com o Papanicolau você vai ter uma chance muito pequena de ter um câncer de colo uterino dos mais avançados, pode ter lesões iniciais, mas dificilmente um câncer avançado.
Diário – Obrigado doutor e boa sorte na nova função.
Dr. Mauro – Eu que agradeço pela atenção de todos e cuidem-se bem.
Perfil…
Entrevistado. O médico Jose Mauro Secco possui graduação em Medicina pela Universidade de Passo Fundo (1989). Atualmente é medico – doutor em ciências pelo departamento de Ginecologia na disciplina de Mastologia pela Universidade Federal de São Paulo, professor adjunto da Universidade Federal do Amapá e médico do Governo do Estado do Amapá. Possui especialidade em Mastologia e Ginecologia. Entre as honrarias recebidas, o Prêmio José Aristodemo Pinotti, Goiania Breast Cancer Symposium, Prêmio Antonio Franco Montoro do Symposio Internacional Câncer de Mama do Hospital Sirio Libanês, além do título de Cidadão Amapaense, pelo Parlamento estadual e Cidadão de Macapá, pela CMM.
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