Bolsonaro ofendeu todas as famílias de mortos pela ditadura, diz ex-presidente de comissão
Eugênia Augusta Gonzaga foi destituída do comando da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos na semana passada. Antes, ela já havia criticado declaração do presidente da República.
A procuradora da República Eugênia Augusta Gonzaga, ex-presidente da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, disse nesta terça-feira (6) que o presidente Jair Bolsonaro ofendeu todas as famílias de mortos e desaparecidos políticos ao dizer que poderia contar ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, como o pai do dirigente da entidade desapareceu durante a ditadura militar (1964-1985).
Eugênia Augusta deu a declaração durante uma audiência pública na Câmara dos Deputados que debateu sequestro de filhos de opositores do regime militar.
Ao ser questionada sobre a declaração da ex-presidente da comissão, a assessoria do Palácio do Planalto disse que não comentará o assunto.
Na semana passada, Bolsonaro trocou quatro dos sete integrantes da comissão, entre eles a própria Eugênia, que comandava o colegiado. Para o lugar dela, foi indicado o advogado Marco Vinicius Pereira de Carvalho, que é filiado ao PSL, partido de Bolsonaro.
A troca dos integrantes da comissão ocorreu depois que o colegiado reconheceu que Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira – o pai do presidente da OAB – foi morto pelo Estado durante o regime militar.
“Nunca antes, nem na ditadura, um presidente da República ousou se dirigir dessa maneira a uma família de um desaparecido político”, ressaltou Eugênia durante a audiência pública na Câmara.
Entenda o caso
A polêmica teve início na semana passada quando Bolsonaro disse a jornalistas em uma entrevista no portão de entrada do Palácio do Alvorada que “um dia” poderia contar ao presidente da OAB como Fernando de Santa Cruz desapareceu durante a ditadura militar.
Na ocasião em que fez a provocação a Felipe de Santa Cruz, o presidente estava comentando o desfecho do processo judicial que considerou Adélio Bispo – autor da facada desferida no ano passado contra ele em um ato de campanha – inimputável (isento de pena devido a doença mental).
Bolsonaro criticou a atuação da OAB no caso de Adélio Bispo. Segundo o presidente, a entidade dos advogados teria impedido o acesso da Polícia Federal (PF) ao telefone de um dos advogados do autor da facada.
“Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele”, disse Bolsonaro aos repórteres.
Horas mais tarde, o presidente afirmou, sem apresentar provas, que Fernando Santa Cruz foi morto por militantes de esquerda na organização que militava, e não por militares.
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