Entrevista

“Falar, até papagaio fala, fazer é que é muito mais difícil”

O governo do estado firmou durante a semana um acordo chamado de protocolo de intenções com a mineradora Zamin Ferrous, que está sob nova direção. Foi durante a 51ª Expofeira do Amapá e contou com a presença inclusive da ministra da agricultura, Kátia Abreu. O evento marcou também a primeira aparição pública do novo presidente da Zamin, o indiano Mohit Bahatia. Um dos principais articuladores do acordo foi o presidente da Agência Amapá de Desenvolvimento Econômico, Eliezir Viterbino. Ele falou ontem ao programa Conexão Brasília, da rádio Diário FM, ocasião em que deu mais detalhes a respeito desta nova oportunidade, não apenas para a Zamin, como também para o importante setor econômico. O Diário do Amapá publica os principais trechos da entrevista ao jornalista Cleber Barbosa.


Diário do Amapá – Presidente, a semana foi marcada pela assinatura de um protocolo de intenções do governo do Amapá com a mineradora Zamin Ferrous, que se comprometeu a cumprir um calendário de obrigações para retomar o processo industrial e também recuperar os trens da Estrada de Ferro do Amapá. Uma boa notícia essa, hein?
Eliezir Viterbino – É verdade. Mas é importante também observar com muita responsabilidaque este acordo, esse protocolo de intenções, é uma tentativa que a Agência Amapá, com todo o apoio do governador, de girar novamente uma atividade tão importante como a mineração. Nesse protocolo, além da Zamin, nós temos um agente que entrou com os recursos e está dentro inclusive da recuperação judicial para que a gente possa girar novamente a mineração. A mineração tem três pontos bem distintos para que possa girar: que o mercado reaja, isso é certo; ela precisa de alguém com expertise; e também de alguém com recursos para aportar novamente e tentar tirar a mineração dessa situação.

Diário – E onde o estado, através da agência que o senhor preside, ajudou, presidente?
Viterbino – Nós não poderíamos ficar de braços cruzados, esperando uma ferrovia simplesmente se deteriorar, uma mina aberta sem ser explorada, como também um porto que está aí nas condições que recebemos. Então, com muita coragem, após vários estudos e análises de toda uma equipe, como o Joselito [Abrantes] e o [José] Molinos que todos conhecem, como também de uma pessoa experiente que passou a integrar nossa equipe, que é o doutor Ortiz [Vergolino]. Então a melhor alternativa que posso dizer, ou para aqueles que não são tão otimistas a menos pior, é esse de tentarmos seguir este novo caminho com esse novo investidor. Este é o grande trabalho que nós temos, estudando ponto a ponto que só tem a ajudar o estado. Este plano é a prova máxima de que vai dar certo? Não sei responder isso agora, mas eu que não economizo palavras, digo que não se pode tratar um assunto tão sério como esse de outra forma com a população. Mas tenho certeza que é uma tentativa, já que não foi feito nada por este setor e é neste sentido que a gente se dedicou nesses três últimos meses para chegarmos a essa conclusão.

Diário – A notícia foi muito bem recebida pela comunidade, sem dúvida, tanto para o setor da indústria como até mesmo para quem acredita no turismo pelo anúncio de que ficou consignado no acordo uma série de condições e prazo para a recuperação da velha ferrovia da Estrada de Ferro do Amapá como também do porto de minérios, não é?
Viterbino – Olha, são inúmeros pontos com somente uma contrapartida do governo. Os pontos que nós conseguimos, com muita negociação e trabalho junto a esses dois grupos que é a Zamin e também a Aurum Mining, que é o investidor, conseguimos vários pontos importantes que eu tenho certeza que significarão um retorno para a população, principalmente a de Santana, Pedra Branca e Serra do Navio, como do próprio estado. Mas essa situação que você mencionou da Estrada de Ferro é sim um retorno imediato. Com relação a recuperação do porto é importante dizer que dentro do protocolo eles têm que iniciar e terminar a recuperação do terminal de embarque de minérios agora em 2016.

Diário – Tomara que consigam mesmo, pois outras empresas do setor dependem desse porto de minérios para escoar sua produção.
Viterbino – Exatamente. Mas além disso, há uma expectativa que está dentro do protocolo, da geração de 1.580 empregos que serão gerados neste prazo e algo muito importante e que também foi um trabalho nosso, de colocar dentro do protocolo em que a Zamin se compromete a conceder um vagão com adequação para fins turísticos até dezembro de 2016, então para quem luta pelo turismo, como todos os atores do Trade Turístico do Amapá, é uma boa notícia sem dúvida.

Diário – Muita gente torce por isso.
Viterbino – Eu também. De novo, aliás, digo que por ser muito pragmático e muito claro, é um dever que nós temos como a população é sermos extremamente transparente. Trata-se de uma tentativa, dentro de um protocolo de intenções, trabalhado com uma equipe séria, transparente e que com muita coragem e apoio político do governador Waldez, nós decidimos fazer essa tentativa através deste acordo. E esse ponto de a gente ter um vagão turístico nessa ferrovia com mais de 50 anos no Amapá também é um dos pontos dentro do acordo.

Diário – Um grande passo, pois há casos no país como a Estrada de Ferro Oeste de Minas, com quase 300 anos, onde tem lá o Museu Ferroviário, o vagão de Dom Pedro, além da velha Maria Fumaça fazendo viagens entre São João Del Rey e Tiradentes, ajudando a economia de duas importantes cidades de Minas Gerais. A ferrovia daqui é mais jovem e ainda tem o forte apelo de ser uma viagem em plena floresta amazônica, não é?
Viterbino – Quem conhece o nosso perfil, que adotamos enquanto Agência [De Desenvolvimento Econômico], é buscar incessantemente uma palavra chamada credibilidade. Não vamos ter outro norte que não seja esse, a credibilidade, a simplicidade nas ações e a transparência que a população merece. Então volto a dizer, enquanto não se fez nada esse tempo todo nós decidimos agir e fazer essa tentativa, que isso é a saída final não posso garantir, mas é uma tentativa. A Agência Amapá através de toda a sua equipe tem um grande dever de não ser omissa nas situações. Nós podemos até pecar pelas ações e com as ações focadas sempre no desenvolvimento, mas nunca pela omissão. Esse assunto nós trouxemos para a responsabilidade da Agência e com o apoio nós conseguimos fazer essa acordo.

Diário – O senhor fez uma ressalva sobre a situação do mercado também, tem que ser favorável?
Viterbino – Sim, é importante nós, e quando falo isso é toda a população, acompanharmos o preço do minério no mercado mundial, que agora não está dos melhores, então precisa melhorar, com perspectivas a médio prazo, como também não esquecer que se a Zamin não cumprir os pontos do acordo o estado novamente vai agir, corretamente, juridicamente, legalmente para que eles de uma vez por todas possam rodar seu negócio. Para mim é uma última oportunidade para que eles tentem reconstruir. Daí pra frente, e é tudo que eu não gostaria, é termos travas judiciais empatando esse setor tão importante. É o que eu sempre digo: sou otimista, mas eu oro sempre pelo melhor e espero o pior. Então é neste sentido que a gente trabalha. Então agora é trabalhar, pois falar até papagaio fala, fazer é muito mais difícil.

Diário – Pois é, destravar é uma palavra que o senhor tem usado bastante tanto à frente da pasta da Agência Amapá, como foi na Seicom e na sua entidade de origem, pois ainda é o presidente da Fecomércio, não é?
Viterbino – Sim, e eu queria até aproveitar para anunciar e fazer um convite a toda a população, que no dia 28 deste mês, via Federação do Comércio, teremos o início do nosso Natal Encantado, que é o segundo ano com esse tipo de atividade, pois além da decoração natalina vamos ter as big cantatas municipais, num circuito de onze dias, com palco alternativo, com espaço de contação de história, com concurso de enfeites em fachadas, pois o grande contexto desse projeto é turístico. Nossa motivação é que esse projeto se torne o maior evento turístico do Natal da região Norte. Não está escrito em lugar nenhum que não possa acontecer, então estamos otimistas de que a cada ano melhore e um dia quem sabe a Fecomércio possa entregar às entidades que são focadas no turismo, inclusive o poder público, que a gente chame para Macapá, capital do Norte, o maior evento turístico dessa época do ano em toda a nossa região. Muito obrigado.

Perfil…
/Entrevistado. O empresário amapaense Eliezir Viterbino da Silva é administrador de empresas e atua no segmento de materiais de construção há 27 anos. Já presidiu o  Sindicato do Comércio Varejista de Materiais de Construção, Elétricos e Hidráulicos do Estado Amapá, foi conselheiro do Sebrae-AP e atualmente é o presidente da Federação do Comércio do Amapá (Fecomercio). Em janeiro deste ano assumiu a titularidade da Secretaria de Estado da Indústria, Comércio e Mineração, a Seicom. Em agosto passado, sua secretaria foi fundida com outro órgão da administração estadual a Adap (Agência de Desenvolvimento do Amapá). Surgiu então a Agência Amapá de Desenvolvimento Econômico, num processo de reforma administrativa. Ele é o presidente. 


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