Tragédia ocorrida em Bento Rodrigues (MG) pode se repetir no Amapá
RISCO IMINENTE – Segundo o geólogo Antônio Feijão, o setor mineral precisa ser repensado para que o estado não mergulhe no caos
RAMON PALHARES
EDITOR DE CIDADES
O rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco, que causou uma enxurrada de lama que inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, na tarde do último dia 05, deixando vários mortos e desaparecidos acendeu o sinal de alerta no Amapá.
Na manhã desta segunda-feira, 09, no programa LuizMeloEntrevista, o geólogo Antônio Feijão lembrou que recentemente fez essa previsão catastrófica em reportagens publicadas no Diário do Amapá e na Revista Diário, após a inundação do município de Ferreira Gomes, no mês de maio deste ano, causada pelo rompimento de duas barragens de uma hidrelétrica no município.
“O risco existe, é iminente, sim, e pode acontecer em proporções ainda maiores se não forem tomadas medidas urgentes de prevenção. E não são só as usinas hidrelétricas que preocupam, mas sim, também, as barragens de rejeitos de mineradores que atuam muitas vezes sem qualquer fiscalização, e mesmo aqueles que possuem autorização do Poder Público. Toda mineradora possui barragem de rejeitos. No Amapá não é diferente”, alertou.
Zamin
O geólogo criticou, também, o retorno da Mineradora Zamin ao Amapá, depois de ter sido protagonista de vários escândalos, acusada de calote em fornecedores e empregados, de dar a Estrada de Ferro do Amapá (EFA) como garantia de empréstimo junto a um banco no exterior, agravado com o não pagamento de indenização aos familiares de funcionários que morreram por ocasião do desabamento do Porto de Minérios da Anglo Ferrous, em Santana, que a empresasucedeu. No entendimento de Feijão, o protocolo de intenções não surtirá o efeito desejado.
“Lamentavelmente, já se tornou rotina grandes mineradoras virem para cá com promessas impactantes, mas, sempre, por causa da fiscalização efetiva dos órgãos pertinentes os amapaenses acabam comendo gato por lebre, porque nossas riquezas são surripiadas, não são feitos os investimentos prometidos e ainda temos que conviver com a devastação e o caos provocado pela exploração de minérios sem qualquer critério. O setor mineral do estado precisa ser repensado e os projetos executados com responsabilidade, pois, caso contrário, em vez de passar a ser o grande alavancador da economia e do desenvolvimento do Amapá, pode representar a queda irreversível para o caos”, aconselhou.
Tragédia anunciada
Nas reportagens publicadas após a inundação ocorrida em Ferreira Gomes, Antônio Feijão afirmou que a tragédia vai acabar representando “uma festa junina se comparada à cheia que vai atingir o município de Porto Grande nos meses de abril e maio do ano que vem, por causa das barragens das três usinas hidrelétricas e da inexplicável falta de proteção da cidade a eventuais fenômenos causados pela cheia do rio, o que vai se constituir, comparativamente, a uma grande festa de carnaval, diante das proporções gigantescas da inundações”.
O geólogo explicou que a grande inundação vai ocorrer em decorrência das fortes chuvas nas cabeceiras do Rio Araguari no período de maior densidade pluviométrica durante o ano: “Essas águas chegarão a Porto Grande e encontrarão toda a bacia hidrográfica tomada pelo grande lago cheio em sua cota máxima (maxi morum). Sem encontrar vazão, a água só tem um caminho: as áreas mais baixas. Como Porto Grande não possui muro de arrimo para contenção dessa água, o que por si só é condenável irresponsabilidade do Poder público, o desastre será inevitável”.
E tudo isso, segundo Feijão, sem qualquer beneficio real para a população dos municípios do entorno onde se localizam as três hidrelétricas que no entendimento dele, foram concebidas sem qualquer estudo de impacto ambiental, em processos de concessão de licenças “no mínimo estranhas”, numa “lamentável constatação” de que os interesses econômicos são colocados acima das necessidades da população.
Antônio Feijão condena, também, a pouca distância entre as três usinas hidrelétricas ao longo do Rio Araguari: “Eu não consigo compreender de que forma se deu o licenciamento ambiental dessas hidrelétricas. A Usina Coaracy Nunes (Paredão), isoladamente, naquele lugar poucos riscos oferecia à população dos municípios ribeirinhos, apesar dos impactos ambientais causados durante sua construção, e ainda sentidos nos dias atuais, inclusive com a morte de dezenas de milhares de peixes todos os anos, por causa da abertura e fechamento de comportas. Entretanto, permitir que outras duas hidrelétricas fossem construídas uma ao lado da outra, praticamente em frente a várias cidades, representa um verdadeiro atentado à vida da fauna e da flora, inclusive com sérias e graves conseqüências para o ser humano. Eu não sou contra a construção de hidrelétricas, muito pelo contrário, o que eu defendo é a realização de estudos de impactos ambientais sérios, com a elaboração de projetos que coloquem o ser humano e a vida animal como prioridades”.
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