“O Flamengo tem muita possibilidade de ser campeão da Libertadores”
Esta deverá ser uma semana histórica para o Clube de Regatas do Flamengo, dono da maior torcida do Brasil e com milhares de seguidores também no Amapá, que prometem fazer muito barulho caso o rubro-negro consiga ser campeão da Libertadores da América no próximo sábado. Ontem, o programa Conexão Brasília convidou para uma entrevista um ex jogador do Flamengo que é amapaense. Jason Rodrigues jogou pelo Fla em 1982, integrando um elenco cantado em verso e prosa como o maior time que o clube já formou na história. Ele avalia as chances do atual Flamengo repetir os feitos daquela geração, trinta e oito anos depois das maiores conquistas da geração de Zico, campeão das Américas e Mundial em 1981. Jason hoje é técnico de futebol, multicampeão pelos clubes do Amapá.
CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO
Diário do Amapá – Você foi jogador de futebol e hoje um dos mais conceituados treinadores em atividade por aqui, então a gente chama de professor, não é?
Jason Rodrigues – Só Jasson mesmo está bom… [risos]
Diário – Mas é comum os jogadores tratarem os seus treinadores como professor, não é verdade?
Jason – Sim, sim, é normal isso. Mas um bom dia a todos é uma satisfação muito grande estar aqui participando do programa.
Diário – Bem, falar de Flamengo, um clube que pode fazer história essa semana com a Taça Libertadores da América depois de trinta e oito anos, como é para você que jogou no clube com aquela geração mais vencedora da história do rubro-negro carioca?
Jason – Eu joguei no Flamengo em 1982, quando ele tinha acabado de ser campeão do mundo, então não tive o prazer de ser campeão mundial com aquele elenco, mas fui campeão da Taça Guanabara no ano seguinte.
Diário – Mas aquela geração que marcou época na história do clube foi até 1987, quando conquistaram a Copa União, não é?
Jason – É, aquela foi uma geração fantástica, um time muito bom mesmo. As pessoas até questionam se aquele time hoje faria a mesma coisa e eu digo que faria até mais!
Diário – Até fizeram essa pergunta ao Júnior, ex craque daquele time, se fosse jogar contra o atual elenco e ele respondeu que a diferença seria o Zico, que em que time ele jogar venceria a partida. Era um craque, não é?
Jason – Ah, com certeza. Mas o time do Flamengo era completo, tinha o Zico, mas tinha Júnior, Leandro, Tita, todos da seleção [brasileira], tinha o Lico, Andrade, Adílio, enfim tinha um grande time. O Júnior porque foi modesto, mas eu acredito que um elenco como aquele nunca mais o Flamengo vai fazer igual, apesar de que nesse time atual são bons jogadores, mas eu me refiro ao fato de que antigamente os jogadores defendiam um clube três, quatro, cinco, dez anos no mesmo clube, hoje o Flamengo está com esse timaço e amanhã pode não estar mais.
Diário – Foi um time que até hoje todo torcedor do Flamengo sabe escalar de cabeça, do goleiro ao ponta esquerda.
Jason – Sem dúvida, Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. Aí entrava de vez em quando o Vítor, cabeça de área, além de outros até a renovação no elenco.
Diário – Existe uma publicação da época, da revista Placar, que falava de você e de outros jogadores que eram os reservas daquele time do Flamengo e que não tiveram muita chance até porque os caras não eram de se contundir muito. Como foi isso?
Jason – Pois é, era o Wilsinho, que disputava com o Tita, eu que disputava com o Nunes e o Zezé que disputava com o Lico. O Wilsinho veio do Vasco, o Zezé veio do Fluminense e eu migrei do Nacional de Manaus. O que acontece é que o futebol hoje mudou bastante, naquela época até o campo era maior, era 120 por 90 [metros], hoje está 105 por 68 [metros], então com um campo menor você corre mais, só que se apresenta menos e há mais o contato físico.
Diário – Exige ainda mais do condicionamento físico, não é?
Jason – Eu tenho uma leitura em relação a FIFA, sabia? Você sabe que ela estuda muito o futebol e sempre muda uma regra aqui outra ali, então sobre as mudanças nas dimensões do campo ela tentou ajudar os times europeus. Porque o europeu tem muito mais força física do que nós aqui da América do Sul. São muito mais avantajados como se diz. É só ver o tamanho de um jogador alemão, holandês, enfim, compara com um brasileiro, tudo jogador mirrado… [mais risos]
Diário – E como surgiu a proposta para você deixar o Nacional de Manaus e ir para o Flamengo que acabara de ser campeão mundial?
Jason – Foi em um amistoso que o Flamengo foi fazer em Manaus, sem alguns titulares como Leandro, Júnior e Zico, que estavam com a seleção na Copa do Mundo de 1982, quando o jogo terminou empatado em 2 a 2 e eu fiz os dois gols do meu time. Eu driblei muito naquele jogo e os caras se encantaram com a minha apresentação e acabei indo jogar no Flamengo. Ajudou também o fato do Nunes ter se machucado e estava se recuperando, mas cheguei lá e já tinha o Peu, o Anselmo e o Baltazar, todos centroavantes.
Diário – Mas você teve oportunidades de jogar, não é?
Jason – Sim, joguei o campeonato carioca, pois o Brasileirão já tinha acontecido e a seleção brasileira havia sido desclassificada, então disputei o cariocão naquele ano. Fiz até um gol.
Diário – E sobre o futebol atualmente, que muitos dizem ser mais de marketing do que propriamente do esporte, onde um jogador é praticamente uma personalidade, como você avalia essa nova realidade?
Jason – É, o jogador de futebol profissional hoje é totalmente diferente da nossa realidade, em todos os sentidos. Naquela época a gente não usava brinco, não fazia tatuagem, a gente era jogador de futebol. Hoje é jogador e celebridade ao mesmo tempo. Lógico que a gente tinha os astros, celebridades também, como Zico, Sócrates, Falcão, como hoje tem o Neymar, Messi, enfim.
Diário – Aqueles fora de série, os medalhões, como se diz?
Jason – Sim, as estrelas. Só que eles eram também atletas exemplares, aqueles que chegavam primeiro no treino e saíam por último, como o Zico. Eu joguei na Europa também, em Portugal, mas o que a gente vê atualmente é que os valores que são pagos hoje extrapolaram, eu acredito que um jogador não valha um milhão e meio de reais [de salário] para o futebol que ele apresenta, essa é uma opinião minha. Quanto ganharia o Zico hoje? Ou o Sócrates, Maradona? O resultado dessa realidade é que os clubes brasileiros hoje estão quebrados, endividados.
Diário – Bem, Jasson, mas sobre a origem desse bate-papo, o atual Flamengo pode esta semana depois de 38 anos ser de novo campeão das Américas e, quem sabe, mundial. Você acredita que essa geração tem chance?
Jason – Olha, eu gosto deste time do Flamengo jogando. O treinador [Jorge Jesus] deu outro panorama para o time, então eu acredito que o Flamengo tem muita possibilidade de ser campeão da Libertadores, mas campeão do mundo eu me poupo de comentar! [risos]
Diário – E o título do Brasileirão, você acredita que está resolvido em favor do Flamengo?
Jason – Acho que noventa por cento a cobra está morta! [mais risos] Acho que o Flamengo vai papar o Brasileirão deste ano sim.
Diário – Obrigado pela entrevista.
Jason – Eu que agradeço, um abraço a todos.
Perfil…
/Entrevistado. Jason Rodrigues Corrêa tem 60 anos de idade. Começou a carreira de jogador de futebol ainda quando o esporte era amador no Amapá, pelo Ypiranga, em 1976; Tornou-se profissional em 1979 assinando com o Clube do Remo (PA); foi ídolo no futebol Amazonense, atuando no Nacional (1981) e Rio Negro (1987) sendo pelos dois campeão estadual e artilheiro; Em 1982, seu maior salto como jogador, chegou ao Flamengo (RJ); depois passagem marcante pelo Fluminense (1983) e em seguida foi jogar na Europa, em clubes como Sporting Lisboa, Penafiel e Vitória de Setúbal; voltou a Manaus para jogar por Nacional (1986) e Rio Negro (1987); Depois duas temporadas pelo Atlético (MG); Jogou mais 7 anos na Bolívia e encerrou a carreira em 1997 pelo São Raimundo (AM).
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