“Não estou vendo discutirem a cidade… É isso o que eu quero na política! E por que não?”
ANA GIRLENE DIAS DE OLIVEIRA / Jornalista e radialista amapaense
Quebrando um período de silêncio a respeito das propostas e incentivos de entrar para a política partidária, a jornalista amapaense Ana Girlene, apresentadora do programa Café com Notícia da rádio Diário FM 90,9 decidiu conceder a primeira entrevista sobre o tema. Foi na última sexta-feira (30) no programa LuizMeloEntrevista, onde a equipe de colegas tentou o que pode, mas não obteve dela a confirmação sobre se vai ou não aceitar entrar na disputa para ser prefeita de Macapá. Ao seu estilo, muito centrada e equilibrada, admite ser esse um grande dilema pessoal e familiar, por considerar uma mudança de vida, um projeto que estava desenhado como profissional de imprensa, aberta a todas as correntes e setores, para algo duro e muitas vezes cruel, onde será obrigada a se posicionar.
Cleber barbosa – Da Redação
Diário do Amapá – Você abraçou mesmo o projeto de concorrer à eleição para prefeita de Macapá? Braço não falta, né? Jogou vôlei…
Ana Girlene – Sim, alta, um metro e oitenta, então dá para abraçar sonhos, abraçar os amigos e os convites que estão chegando, por que não? [risos]
Diário – Depois do convite para ser vice na chapa do deputado Paulo Lemos veio essa outra proposta do PCdoB, via Marcivânia Flexa, para sair candidata. Mas ainda não se decidiu, não é?
Ana – Pois é, estamos avaliando o que é esse momento, mas queria registrar de fato que a deputada Marcivânia muito carinhosamente tem buscado esse diálogo. E digo mais, não é de agora, desde o ano passado, eu não tinha falado sobre isso em lugar algum. Ela é uma mulher da política, que tem uma história, todos sabem, a gente acompanhou, cresceu na militância, tem uma liderança forte em Santana, está na Câmara Federal, exerce um papel importante como presidente do Comissão do Trabalho inclusive. Mas que em um desprendimento que pouca gente na política tem, me fez esse convite para eu abraçar um projeto político, por mais ousado que possa parecer, por que não disputar ou entrar para uma chapa para a Prefeitura de Macapá. O destaque que faço do desprendimento é porque sabemos que infelizmente no campo político é muito difícil uma liderança querer dar espaço para outras.
Diário – Fazer sombra como se diz?
Ana – Sim, então neste sentido, principalmente por ser mulher é muito importante que nós incentivemos umas às outras a ocuparmos os espaços, e não é frase de efeito não, mas o nosso lugar é onde a gente quiser. E isso a deputada Marcivânia falou para mim quando fiquei surpresa com o convite, quando ela indagou: “E por que não?” Então é a pergunta que a gente se faz todos os dias quando quer alguma coisa, e por que não? Bem, tenho lá [no partido] amigos que militei na época do movimento estudantil, participei de grêmio escolar lá no CCA [antigo Colégio Comercial do Amapá], da União Municipal dos Estudantes, além de ter sido dirigente da UECSA [União dos Estudantes Secundaristas do Amapá]; depois na faculdade de comunicação fundamos o Centro Acadêmico de Jornalismo, então a militância, a essência da política, sempre esteve em mim, mas desde que em me formei a minha escolha foi a comunicação, esse trabalho que realmente é apaixonante, a nossa cachaça como a gente diz, esse exercício diário de trazer a informação, trazer a notícia.
Diário – Mas você disse que o convite não é de agora?
Ana – Isso, inclusive em outros pleitos.
Diário – Mas por que agora parece diferente e acena com a possibilidade de aceitar?
Ana – Olha, estou animada com a possibilidade de primeiro responder para aqueles que dizem “nunca será”, ou “quem é essa”, porque existe um ambiente que vai se formando onde determinadas pessoas acham que outras pessoas comuns, como a gente que é trabalhador, enfim, que não podemos entrar. Então isso por si só já me anima a fazer esse desafio, da pergunta “por que não?”. Mas se você me perguntar se eu vinha pensando nisso, respondo que não. Não estava nos meus planos, mas de repente quando surgiu o primeiro convite, quando isso ganhou a mídia através de uma nota aqui no jornal, a partir dali aquilo que vinha há muito tempo sendo tratado apenas nos bastidores virou uma notícia, virou um fato.
Diário – E a receptividade, como foi, pode-se dizer que foi boa?
Ana – Muito boa. Claro que amigos cuidadosos sempre me questionam, com perguntas como “será que é isso que você quer para a sua vida?”; “não te mete nisso”; “cuidado, é um ambiente muito contaminado”; “tem muita trairagem, muita falsidade”; ou ainda uma coisa que dizem muito: “não te mete na política sem dinheiro” ou ainda “isso é um jogo de cartas marcadas”. Bem, o fato é que tudo isso acaba servindo como provocações, como dizer que podem estar querendo me usar, jogar pra boi de piranha, então claro que tudo isso a gente considera, o processo político tem tudo isso, mas existem outras coisas da política que são boas e que me interessam, o exercício da política, a possibilidade de você fazer a diferença na vida dos outros. Então é quando você separa aqueles que estão na política por algum interesse de qualquer ordem e aqueles que estão realmente gostam de gente.
Diário – Aliás, a gente tem ouvido as pessoas falaram mais de si e pouco ou quase nada sobre a cidade. O que você pensa a respeito?
Ana – Observamos que todo o ambiente que cerca as discussões sobre as eleições municipais até o momento não vimos falar da cidade, e é isso que me interessa, eu sou macapaense, entendo que nós sempre teremos o que discutir, vivemos, moramos nas cidades. O atual prefeito Clécio fez um trabalho na cidade nos últimos anos, que finda agora em 2020 com dois mandatos, um ótimo trabalho, que avançou em muitas áreas, não resta nenhuma dúvida, então qualquer um ou uma que queira sentar naquela cadeira tem a obrigação de fazer mais ou melhor, não se pode retroceder.
Diário – E sobre as reações contrárias à sua candidatura, de quem por exemplo, sabe como você pensa ou age?
Ana – Eu já tive uma pequena demonstração desse ambiente, que lamentavelmente, se transformou a política brasileira, extremamente polarizado, que nas redes sociais aparece de forma muito violenta e onde o espaço para discussão das ideias é praticamente nulo, dominado por narrativas já construídas pelo ódio, pelo preconceito, por um machismo que ainda impera, o que claro nos preocupa, pois a política também é uma máquina de moer gente, de destruir reputações.
Diário – Daí o cuidado que se deve ter com os famosos salvadores da pátria, não é?
Ana – Sim, daí uma das coisa que eu estou pensando sobre essa dinâmica da política são os prazos da Justiça Eleitoral, como para as filiações que vai até abril, o prazo para as convenções que é julho, então a imprevisibilidade da política é tão grande que de repente pode acontecer de tudo ou não acontecer nada, então a caminhada tem que ser com pé no chão, com muita tranquilidade.
Diário – Você não se decidiu ainda, até porque soubemos surgiram outros convites, não é?
Ana – Olha, com todo respeito ao PCdoB, neste momento não estamos preocupados com a definição ou a escolha do partido A, B, C ou D, até porque é obvio que nós temos uma linha, as pessoas nos identificam, quem me acompanha no Café com Notícia sabe mais ou menos como é que eu penso sobre este ou aquele assunto. E para mim uma das piores coisas na política são essas incoerências, mas acho que antes dessa definição sobre ser ou não ser candidata tem toda uma questão que envolve o ser humano, pois estamos falando de uma mudança completa e radical em uma vida; muita gente que hoje gosta de mim pelo meu trabalho como jornalista de repente na política pode não gostar; então uma coisa é o que a gente constrói de patrimônio enquanto profissional de comunicação, aberto a todos os lados, com a nossa preocupação ética, inclusive que esta casa inclusive garante, mas na política você tem que ter posição, não dá para ficar em cima do muro.
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