Médico alerta para o risco da microcefalia no Amapá
Segundo Cláudio Leão, grande circulação do mosquito Aedes aegypti deixa o estado vulnerável para a doença
Ouvido na manhã desta segunda-feira no programa LuizMeloEntrevista (DiárioFM 90.9), o médico Cláudio Leão manifestou preocupação com o surto de microcefalia no País, que afeta principalmente a Região Norte. Segundo ele, o Amapá é vulnerável para a ocorrência da doença por causa da grande incidência do transmissor do zica vírus, o mosquito Aedes aegypti, que também transmite a dengue e a chikungunya.
“Felizmente no Amapá ainda não tivemos registro da microcefalia, mas o estado é completamente vulnerável à doença por causa da proliferação do Aedes aegypti. É necessário que a área de saúde execute políticas públicas eficientes para o combate do mosquito, e a população se previna, principalmente as mulheres, evitando gravidez pelo menos nessa época, porque a Região Nordeste já experimenta um surto, mas o vírus avança de forma implacável para outros estados”, alertou.
O médico chamou a atenção para os números: “O Amapá vive uma situação delicada, porque se a microcefalia registra perto de 1 mil casos no país, nós temos números ainda mais preocupantes no que diz respeito à ocorrência de dengue e chikungynya. São pouco menos de 3 mil casos de chikungunya e mais de 3 mil casos de dengue em apenas um ano do registro do primeiro caso no estado, mais exatamente em setembro do ano passado. Como o vetor é o mesmo, isto é, o Aedes egypti, o risco é iminente da microcefalia chegar por aqui”.
Zika vírus
Entrevistado pelo Diário do Amapá, o médico Cláudio Leão explicou que o Zika vírus foi identificado pela primeira vez na floresta de Zika, em Uganda, na África, na década de 40 e, posteriormente, surgiu na Nigéria, no final dos anos 60. “A partir daí, o vírus se alastrou por quase todo o continete africano, chegou na Ásia, Oceania e Europa e, agora, no Brasil, inicialmente na Bahia, atingindo, logo em seguida, vários estados nordestino, avançando, agora, para outras regiões.
Para Cláudio Leão, o zika vírus, causador da microcefalia, é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue, febre amarela e chicungunha, provavelmente chegou ao Brasil durante a Copa do Mundo do ano passado, trazido por turistas africanos.
O médico explica que, depois do contágio, o período de incubação pode levar de 3 a 12 dias. “Os sintomas da febre Zika se assemelham aos causados pela dengue, com dores na musculatura, nas articulações e na cabeça, principalmente, com o paciente apresentando quadro de febre, náuseas, diarreia e mal-estar, além de fotofobia (sensibilidade à luz), manchas na pele – especialmente nas palmas das mãos e plantas dos pés – acompanhadas de coceiras e conjuntivite”.
Como ainda não existe vacina contra as doenças causadas pelo Aedes aegypti, o médico recomenda a prevenção receita medicamentos para minimizar os seus efeitos: “Cuidados especiais devem ser adotados pela população, como a eliminação dos focos do mosquito. No caso do acometimento de qualquer doença causada pelo mosquito, o tratamento é sintomático, com a administração de anti-inflamatórios não esteróides e de analgésicos e antitérmicos que não contenham ácido acetilsalicílico (AAS). O mais eficiente, mesmo, porém, é a prevenção, por isso se deve ter mais cuidado pela manhã e ao fim do dia, como também durante muito calor e chuva, que são os períodos de maior atividade do mosquito, além de não deixar acumular água em vasos de plantas e outros recipientes”.
Recomendação
Em decorrência da proliferação de casos de chikungunya e dengue, e para prevenir a ocorrência de microcefalia no Amapá, a promotoria de Justiça de Defesa da Saúde Pública do Ministério Público do Amapá expediu às autoridades da área de saúde a Recomendação de várias providências, entre as quais a redefinição das estratégias de Vigilância Epidemiológica e das ações de controle vetorial, com estabelecimento de fluxos mais oportunos e sensíveis à situação de crise.
De acordo com o titular da Promotoria, André Araújo, a situação epidemiológica da dengue no Estado da Amapá já registrou 3.315 casos suspeitos de dengue, mais que o dobro de casos no mesmo período de 2014, projetando uma possível ocorrência de ‘epidemia explosiva’ para o ano de 2016. Ele lembra a ocorrência da epidemia de chikungunya no estado, que começou em Oiapoque mas se alastrou para outros municípios, como Macapá, que já confirmou vários casos da doença.
“Já é possível considerar de importância epidemiológica a circulação do Zika Vírus, também transmitido pelo mosquito aedes aegypit, cujos sintomas da doença são muito semelhantes aos da dengue, porém, mais facilmente confundidos com a gripe. Outro aspecto muito preocupante é a circulação concomitante desses vírus: o da dengue e Chicungunya, pois aumenta a vulnerabilidade da nossa população, especialmente em razão da associação deste último vírus a possíveis casos de malformação por microcefalia em recém-nascidos. Ou seja, a coisa é muito séria”, alerta André Araújo.
Outra preocupação do promotor é a elevação, no país, de casos da Síndrome de Guillan-Barré, doença também transmitida pelo zika vírus, de natureza neurológica, de origem auto-imune, que pode provocar fraqueza muscular generalizada e, nos casos mais graves, pode até paralisar a musculatura respiratória, levando o paciente à morte.
“Com a aproximação do término do exercício fiscal 2015, quando tradicionalmente os municípios desmobilizam suas equipes de saúde, o trabalho de campo para a prevenção dessas epidemias pode ser prejudicado. Para evitar o pior, nós recomendamos ao prefeito Clécio Luís que, ao final do exercício fiscal deste ano, não seja reduzida a oferta de serviços de saúde de qualquer natureza, em especial das ações de controle de vetor e manejo clínico de dengue, zika e chikungunya, devendo, para isso, a Prefeitura de Macapá aportar os recursos necessários à execução dessas ações”, pontuou o promotor. (Ramon Palhares)
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