Carne de suíno e não de porco
Raul Tabajara – Articulista Neste ano de 2015 , tivemos uma audiência publica para discutir o impacto ambiental que a bubalinocultura não sustentável vem provocando em diversos municípios do estado. Tempos atrás a discussão era em torno do abate clandestino de animais comercializados para alimentação humana e os riscos para a saúde que essa atividade […]
Raul Tabajara – Articulista
Neste ano de 2015 , tivemos uma audiência publica para discutir o impacto ambiental que a bubalinocultura não sustentável vem provocando em diversos municípios do estado. Tempos atrás a discussão era em torno do abate clandestino de animais comercializados para alimentação humana e os riscos para a saúde que essa atividade pirata trazia. Hoje verificamos que os resultados foram alcançados.
O abate clandestino envolve saúde publica, pois nessa atividade não é observada nenhuma preocupação com a sanidade dos animais abatidos, nem como são transportados até o abatedouro e daí para os pontos de comercialização. Também na clandestinidade, não há estatísticas e nenhuma preocupação fiscal fazendária, onde a arrecadação de tributos é nula.
Tivemos notícia que abatedouros, sem as mínimas condições de estrutura e higiene, foram fechados em vários municípios. Em Macapá, observamos que a atuação da Diagro nos últimos anos colocou na mesa dos consumidores um produto dentro dos padrões exigidos pelas normas sanitárias vigentes. Temos o transporte, antes e depois do abate, controlado, fiscalizado e realizado por veículos apropriados. Claro que os custos que os empresários tiveram para se adaptar a um padrão mínimo de qualidade foram repassados aos preços, porém, essa é a lógica do mercado: um produto de melhor qualidade exige investimento e preço compatível.
O abate clandestino de gado comum e búfalos até o ano de 2005 girava em torno de 70 %, e era claramente em decorrência da falta de atuação efetiva dos órgãos fiscalizadores. Hoje, mesmo com a dificuldade de se obter dados para uma pesquisa que envolva atividade ilegal, do ponto de vista fiscal e sanitário, mas com a experiência de anos trabalhando com as estatísticas agropecuárias, arrisco dizer que esse número não passa de 10% da carne consumida em Macapá, já incluído o gado roubado e abatido clandestinamente no Marajó que entra aqui em nossa cidade.
O mesmo não se pode dizer do abate de suíno, onde a totalidade da carne fresca consumida é clandestina, e tendo como base a última Pesquisa de Orçamento Familiar – POF, cada um dos 160 mil domicílios do Amapá adquiriu em média 2,1 kg de carne suína fresca no ano de 2015, totalizando aproximadamente 400 toneladas. Levando em consideração o peso médio de abate do suíno na nossa região de 50 kg e com um ano de idade, tivemos aproximadamente oito mil suínos abatidos, e mesmo com a falta de uma estatística mais precisa, estima-se que 70 % vieram do Marajó, principalmente de Afuá, Chaves, Gurupá, Anajás e Portel.
Os países desenvolvidos são os maiores consumidores de carne suína. Na Europa o consumo per capita é de 45 kg/ano, no Brasil é de 13 kg/ano, dos quais 82 % referem-se a embutidos como presunto, mortadelas, entre outros. Desses 13 quilos de carne suína adquirida pelos domicílios brasileiros apenas 2,3 kg são de carne fresca e no Amapá são de dois quilos e cem gramas.
Na nossa região, ao falar em suinocultura, o que vem à mente é o porco na lama, criado em chiqueiro sem higiene ou solto de forma extensiva, sem as profilaxias necessárias, alimentados por restos de comida humana e sem controle sanitário. Essa nossa “quase realidade” não passa nem perto da nova suinocultura tecnificada e profissional.
A suinocultura brasileira de médio e alto padrão utiliza-se das melhores técnicas zootécnicas e veterinárias onde os animais crescem em baias higienizadas. Para entrar numa granja exige-se do visitante tomar banho no local e vestir uma roupa especial fornecida pela empresa. Nas granjas os animais são alimentados por uma ração concentrada com base na soja e no milho e após o abate são exportados para vários países da Europa e América, sendo os russos os principais compradores. No ano de 2014 o Brasil exportou em torno de 600 mil toneladas, gerando 1,2 bilhão de dólares.
Um grande problema da nossa suinocultura e uma barreira existente para o aumento do consumo da carne fresca é a contaminação do homem pela tênia (solitária), que ocorre quando a pessoa ingere carne crua ou mal cozida, que contenha as larvas do parasita. Assim ao defecar em locais abertos, o homem possibilita a dispersão dos ovos pelo ambiente. Ao serem expostas ao sol, as fezes secam e os ovos tornam-se mais leves que as partículas de pó e são lançadas a grandes distâncias pelo vento, o que pode provoca contaminação em cursos d’agua e plantações.
Essa água contaminada num estabelecimento agropecuário pode ser utilizada em criações de porcos, na irrigação da horta, no consumo humano, provocando a proliferação da doença. Destes fatos emergem uma situação inusitada: é o homem que contamina o porco. Mas isso pode ser evitado com instalações adequadas, manejo, nutrição e a inspeção por parte das autoridades.
Os animais criados em granjas tecnificadas, com o intuito da venda à população, são saudáveis. Isto ocorre porque cumprem as exigências necessárias com instalações adequadas, manejo, nutrição e profissionais especializados. Como envolve saúde pública, esses estabelecimentos sofrem fiscalização permanente dos órgãos competentes do Estado.
Portanto, vimos à importância do abate ser realizado em local apropriado, já que os animais criados livres e em contato direto com os seres humanos correm sérios riscos de contrair infecções, principalmente numa região onde o saneamento básico, até nas áreas urbanas, é precário.
Uma coisa é abater um porco no seu sítio e consumir com a sua família, outra é colocar à venda para a população. Isso envolve saúde pública e têm de ser fiscalizado pelo estado.
Concluindo, se tivermos os cuidados mínimos necessários, consumiremos a carne de suíno e não de porco.
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