Douglas Lima

Cortiço na vida real

Vivendo e aprendendo. Nesse domingo, estive no almoço de aniversário do amigo Almiro, acompanhado da professora Norma Iracema. Horas agradáveis. Rodeado por gente culta, aprendi muito. Será que alguém aprendeu comigo? Aprendi, por exemplo, que O Cortiço, aquele do Aluísio Azevedo, do século XIX, existe em pleno século XXI, e aqui em Macapá. Pois bem, […]


Vivendo e aprendendo. Nesse domingo, estive no almoço de aniversário do amigo Almiro, acompanhado da professora Norma Iracema. Horas agradáveis. Rodeado por gente culta, aprendi muito. Será que alguém aprendeu comigo? Aprendi, por exemplo, que O Cortiço, aquele do Aluísio Azevedo, do século XIX, existe em pleno século XXI, e aqui em Macapá. Pois bem, lá na festa do Almiro descreveram uma vila, um condomínio ou coisa parecida, parecida com os tipos psicologicamente primários da imaginação de Aluísio Azevedo. Aqui em Macapá, nesse local ou cortiço, há a Riquinha. Ela ostenta carro do ano, joias, roupa de grife, mas todo mês tem a luz cortada; a Pousuda frequenta os melhores locais da cidade, anda ladeada de gente de posses, mas só come ovo com farinha; tem a Dona Encrenca, uma mulher grande, parruda, boa de briga, bate em homem e mulher, até em leão, se for o caso, mas quando bebe é o filho único de 18 anos que cuida dela como a uma criança; a Dona Bela é moderna, usa colan, piercing, maquiagem, mas não tem jeito, a feiura toma conta dela. No cortiço macapaense, entre outros vários tipos, ainda mora a Dona Felicidade, senhora de uns 60 anos que transa com um moleque de 17. Toda noite, pouco antes do amanhecer, o moleque pega a velha que depois de uns 30 minutos desce a escada cantando como uma cotovia. É, Aluísio Azevedo deve sair do túmulo para publicar uma edição ampliada do O Cortiço, acrescentando ao original as personagens do cortiço macapaense, bem ali no Buritizal. Lá, ainda tem o homossexual, que é o cara mais bacana do pedaço: educado, não mexe com ninguém, não promove escândalos, respeita e ajuda todo mundo, e só dá pros bofes longe do cortiço.   


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