“Santana nasceu para ser uma região portuária”
Uma semana que vai ser considerada histórica para o incremento da logística portuária do Amapá, que foi objeto de novos estudos de viabilidade para a entrada de navios de grande porte, tendo um prático do Amapá como protagonista.
Texto: CLEBER BARBOSA
Fotos: BRUNO BARBOSA
Jornal Diário – O que representa todo aquele trabalho na USP, na semana que passou, para simular novas operações portuárias em Santana?
Ricardo Falcão – É um grande passo que está sendo dado em prol do desenvolvimento do nosso estado, pois o que a gente viu ali, com tanta tecnologia no simulador, representa anos de muito conhecimento da Praticagem, que atualizou a batimetria que a gente precisava aqui numa parte do Canal de Santana, juntamente com a iniciativa privada da Plataforma Logística do Amapá, que fez agora a medição das correntes da Barra Norte do Rio Amazonas, então a gente conseguiu corrigir algumas publicações que a gente tinha, de quarenta anos atrás, então naquele simulador da USP a gente via um navio de verdade, hidroninamicamente falando, com correntes exatamente iguais às que a gente tem em Santana, com vento na posição correta como acontece lá e você consegue com isso dizer em que situações eu posso aumentar o tamanho dos navios, se tenho que operar com rebocadores, com que potência, bem como as situações limite, de modo a garantir que essas operações sejam seguras para a nossa sociedade.
Diário – De que se trata exatamente esses novos empreendimentos que estão buscando licenciamento?
Falcão – São projetos que já estão sendo gestado há quase quatro anos, com dois novos terminais portuários, um de grãos e outro de combustíveis, além do porto já existente da CDSA (Companhia Docas de Santana). Santana opera hoje com navios de até 55 mil toneladas, mas nós estamos falando agora de navios com capacidade para 70 mil toneladas, com o mesmo calado, com tudo igual. Então estamos levantando em que situações isso vai ser feito com segurança.
Diário – E o interessante foi já envolver todos os órgãos de licenciamento e de controle naquele evento, não é?
Falcão – Exatamente, para o fechamento dessa avaliação, significa a gente ter a praticagem, junto com a autoridade portuária, a autoridade marítima, o Ministério Público também, estarem ali presentes e fazer as avaliações em prol da sociedade, assim como outras autoridades do estado, pois no final a gente vai dizer como isso vai operacionalmente funcionar para que os navios possam atracar em segurança, essa é a resposta que a gente tem que ter.
Diário – Foi interessante ver que o simulador também pode criar diversas situações e adversidades para se medir a atuação dos práticos que participaram do treinamento, não é mesmo?
Falcão – Sim, todos os detalhes, como o limite de velocidade em corrente, qual o limite em situação de vento, de chuva, então o objetivo é uma operação segura e eficiente, portanto a nossa ida à USP está permitindo realmente uma boa descoberta, pois temos uma bacia de evolução, como a gente chama, que é o lugar onde você gira o navio, que é muito boa em Santana, um lugar muito abrigado, daí a gente dizer que Santana nasceu para ser uma região portuária.
Diário – Então, além de aferir a capacidade operacional dos futuros terminais, esses testes poderão licenciar operações com navios maiores do que aqueles que adentram hoje o canal de Santana?
Falcão – Exatamente, hoje são os Handysize, que são aqueles de cinco porões, são esses que vão para Santana atualmente. Quando viemos para cá a nossa ideia era a utilização de navios de sete porões, com 225 metros de comprimento, mas na verdade estamos descobrindo que a gente vai poder ir até 240 metros, e ao invés de 32 metros de largura estamos falando de 40 metros de largura, parece até que um pouquinho mais, esse que a gente achava que dava carrega 70 mil toneladas, e esse novo 80 mil toneladas, portanto um ganho de 10 mil toneladas, simplesmente por mudar o porte do navio, cujo nome desse navio que estamos descobrindo aqui não é mais o Panamax, mas o New Panamax.
Diário – Que é o que passa no famoso Canal do Panamá?
Falcão – Na verdade o Canal do Panamá tem dois canais, um que foi construído há 100 anos, em 1914, e tem um de 2014, que é o novo, que permite navios maiores, exatamente esse que descobrimos agora que poderá adentrar nos terminais do Amapá, o que é realmente um ganho fenomenal.
Perfil
Ricardo Falcão – Natural do Rio de Janeiro, com mais de 20 anos em Macapá, piloto de aviação, navegador, mecânico de voo e prático marítimo.
A origem
– Foi aluno do curso de formação de oficiais da Marinha Mercante, na escola tradicional CIAGA (Centro de Instrução Almirante Graça Aranha).
Auto apresentação
– Sou um Prático da Amazônia, amo o meu estado, o Amapá, e estou muito feliz com a possibilidade desse novo desafio, substituindo o prático Gustavo Martins, que fez um excelente trabalho nos últimos cinco anos.
Liderança e representação
– É vice-presidente da Associação Internacional de Práticos Marítimos (IMPA), Ricardo Augusto Leite Falcão, do Grupo Bacia Amazônica Práticos, foi eleito para terceiro mandato de dois anos à frente do Conselho Nacional de Praticagem (Conapra).
Área de atuação?
– Prático atuante na maior Zona de Praticagem do mundo (ZP-01), que se estende por 1.300 milhas náuticas nos estados do Amapá, Pará e Amazonas, ele foi Diretor-Presidente do Conapra em duas gestões, de 2011 a 2014. Em 2018, foi reeleito vice-presidente da IMPA por mais quatro anos.
Entidade de Classe
A associação das entidades de praticagem é o órgão de representação nacional da atividade, reconhecido pela Autoridade Marítima. Ele já havia presidido a instituição em duas gestões, no período de 2011 a 2014.
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