“Assédio moral em tempos de home office é silencioso”
Conversamos com um especialista sobre as mudanças provocadas no ambiente de trabalho e as formas de assédio moral que, acredite, não ocorre só do chefe para o subordinado, mas também da equipe para com o chefe. Confira a íntegra.
Cleber Barbosa
Da redação
Diário do Amapá – Além de mudar as relações interpessoais e de privar as pessoas de momentos de lazer, a pandemia também transformou as relações no ambiente de trabalho. A imposição do home office modificou as rotinas e até mesmo a forma com que o assédio moral se manifesta?
André Costa – Ganhou contornos sutis, mas não menos negativos. A gente tem uma ideia preconcebida de que o assediador é o sujeito que grita, destrata, bate na mesa e tem uma conduta ativa. Mas quando as reuniões acontecem de forma remota, o assédio assume certas particularidades que são inerentes ao ambiente digital. Ele se manifesta de forma passiva e, muitas vezes, silenciosa.
Diário – A dinâmica dos assédios ganhou um tom mais sutil então, porque as pessoas teriam receio de gravações comprometedoras e de exposição nos meios digitais, então a potência do assédio não foi diminuída?
André – Exatamente. Ao não fazer nada, um funcionário pode estar assediando o colega. A pessoa não fala com o outro, não olha para ele nas reuniões, não atende ligações, não responde e-mails e até deixa de convocar para as reuniões. Ao não fazer nada e excluir o colega, está cometendo assédio moral.
Diário – O senhor, que é especializado em compliance, tem sido requisitado com muita frequência por companhias para investigar casos de assédio moral com essas características?
André – Perfeito. Desconsiderar uma pessoa de um grupo é uma forma muito forte e eficaz de assediar alguém. Eu tenho gerenciado muitas crises relacionadas a esse comportamento nas empresas. O desprezo, a desconsideração de um ente dentro de uma estrutura também é assédio. Ele está acontecendo de forma mais sutil, mas é uma forma bastante forte e eficaz de fazer alguém ceder e sair de uma corporação.
Diário – Esse tipo de assédio velado tem ocorrido com frequência desde o ano passado?
André – É uma prática muito forte, principalmente neste momento de pandemia. Você é privado de convívio social com parentes e amigos, é privado do lazer, e, naquele ambiente de trabalho, em que você teria um pertencimento e apoio humano, de repente passam a te ignorar. Lidar com essa situação tem sido um grande desafio para as empresas e trabalhadores.
Diário – O assédio moral acontece em todos os fluxos de relacionamento do ambiente corporativo ou é uma prática cometida exclusivamente pelo chefe?
André – Existem muitos casos em que a equipe assedia moralmente o líder. Nessa situação, é muito mais difícil de identificar porque a conduta não vem em forma de gritos, mas em forma de boicote. A equipe sonega informações, sabota ações e deixa de comparecer a eventos programados pelo chefe.
Diário – Todo tratamento inadequado se configura como assédio moral?
André – O assédio moral fica caracterizado pela repetição, é uma perseguição contra um alvo específico. Para ser assédio, é preciso ser um comportamento frequente contra uma pessoa específica.
Diário – Quem está sendo vítima desse comportamento precisa denunciar o caso para o compliance da empresa? O que fazer?
André – Sim, fornecendo o maior número de detalhes e informações possível. Forneça dados, documentos, informações completas e indique testemunhas dos fatos. Isso é fundamental para identificar a conduta.
Diário – Obrigado pela entrevista e parabéns por seu trabalho professor.
André – Eu que agradeço, me coloco à inteira disposição para maiores esclarecimentos.
Perfil
André Costa de Almeida – Profissional com larga experiência em investigações, estruturação de programas de compliance, palestras e treinamenros corporativos.
Certificado pela Associação Internacional de Entrevistadres Forenes (IAI – Certified Forensic Interviewer – US.
Palestrante e professor titular de pós graduação em matérias relativas a compliance e investigação corporativa.
Formação acadêmica
-Entrevistador Forense;
– Palestrante;
– Tratamento de fraude;
– Forense Computacional;
– Estruturação do Programa de Compliance;
– Due Diligence/
Background Check;
– Professor – Pós Graduação/MBA
Graduação em Direito pela USJT – SP (OAB/SP: 314.283);
Certificados
– Ordem dos Advogados do Brasil: 314.283;
Certified Forensic Interviewer (CFI) – IAI – US;
Certificação Profissional em Compliance em Anticorrupção – CPC – A;
– Interview Techniques – (Israeli Scientific Investigative Academy);
– Detecção de comportamentos suspeitos -DGP – Polícia Federal;
– EXIN – Privacy & Data Protection Essentials (PDPE);
Leaders of learning – HarvardX;
Paul Ekman Group – Micro expressions;
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