Da guerra biológica e da democracia – como uma população desperta do torpor
Nosso País foi mortalmente ferido pela Covid-19, Bolsonaro, seus mentores e apoiadores fizeram um cálculo macabro apostando na “imunidade de rebanho” (ou de grupo), desqualificando o amparo da ciência.
Carlos Henrique Schmidt (2703/2021)
Churchill foi expoente dos conservadores britânicos, mas cometeu erros terríveis na Primeira Guerra (1914-1918), levando muitos soldados à morte em Galipoli na Turquia. Depois disso, amargou decadência, retornando à cena como o político que enxergou claramente a ameaça fascista alemã, uma vez que Hitler tinha assumido poder absoluto na Alemanha. Quando atacados na 2ª Guerra assumiu a responsabilidade de unificar a nação contra uma ameaça grave, quis salvar vidas, mesmo sabendo que inevitavelmente muitas seriam perdidas.
Mostrou-se um verdadeiro estadista quando fez aquele famoso discurso instigando a população a enfrentar os ataques nazistas à Inglaterra: “Nós lutaremos nas praias, nós lutaremos nos campos, nós lutaremos nas colinas, nós nunca nos renderemos.” disse. Mesmo com a dificuldade em articular politicamente no Parlamento não tentou aproveitar o momento e justificar um golpe na democracia, tanto que citou, já no pós-guerra que a democracia era “a pior forma de governo, com exceção a todas demais”. Refletir sobre o exemplo de Churchil, ferrenho anticomunista, é oportuno num momento da história do Brasil em que a derrota das esquerdas justifica tudo para os insensatos e encanta os crédulos.
Nosso País foi mortalmente ferido pela Covid-19, Bolsonaro, seus mentores e apoiadores fizeram um cálculo macabro apostando na “imunidade de rebanho” (ou de grupo), desqualificando o amparo da ciência. A possível contenção natural da pandemia, com um nível de perdas de vidas humanas sob controle, foi estratégia pensada para privilegiar a saúde econômica do mercado. A aposta foi não parar as atividades como em outros países, o que daria vantagem competitiva e para isso rejeitou as medidas básicas de distanciamento e uso de máscaras, retardando a aquisição de vacinas e de medicamentos para UTIs.
Tal como Hitler, o staff bolsonarista considera que o povo tem “compreensão média, memória fraca e inteligência modesta”, e essas mortes (em torno de 3% da população contaminada) seriam esquecidas num possível ciclo de prosperidade. A realidade é que a morte na pandemia é indiscriminada, inclusive entre seus apoiadores, e mesmo que o negacionismo auto justifique os sacrifícios, inclusive de familiares e amigos, causa repulsa aos que tem mínimo senso humanitário. Ocorre que estudos sobre a crise em Manaus (AM), que apresentou a maior contaminação populacional do mundo para Covid-19, concluíram que essa imunidade de grupo não é alcançada.
O fato é que a implantação de um projeto político de ultra direita, evocando o regime militar instaurado em 1964 não poderia encontrar um obstáculo imprevisto como essa pandemia. Ignorando a saúde pública a máquina reacionária foi aproveitando o caos para culpar a oposição, governadores, prefeitos, funcionários públicos, etc, desmontar os serviços públicos, e aprofundar a desigualdade. Mesmo com evidentes sinais de falta de competência para a gestão pública, de corrupção familiar e instabilidade emocional de seu líder, fica clara essa ambição totalitária. A cada fracasso do projeto são feitas ameaças de ação como dos grupos golpistas de Mianmar, da invasão do Capitólio ou da reedição do AI-5 no Brasil.
O fato é que Bolsonaro, mentores e seguidores não admitem seus erros, a menos que um fator de inviabilidade eleitoral os faça mudar a estratégia. O que já estão percebendo nas pesquisas de opinião pública, avisos de economistas sobre agravamento da crise econômica e mesmo protagonismo da própria base de apoio no Congresso. Na pratica o projeto de longo prazo bolsonarista está ruindo pelas suas próprias limitações e erros, mas ao caírem querem levar todos juntos para a cova.
Portanto, nossa possibilidade de sobreviver não depende apenas de vacina ou remédios, e sim de coragem da população em ter atitude política firme para isolar esse grupo, e, deter suas ameaças à democracia e à saúde pública. Isso deve ser feito no estrito campo democrático, e se o impedimento não ocorrer legalmente, nas próximas eleições dar oportunidade a população para afastar do poder os genocidas que destroem a nação.
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