Dimas Covas expõe à CPI recusas de vacinas pelo governo e reclama de ataques ao Butantan e à China
Diretor do instituto desmentiu à CPI da Covid o ex-ministro Pazuello e afirmou que posição de Bolsonaro contra vacina interrompeu tratativas
O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, relatou à CPI da Covid pelo menos três tentativas de oferta da vacina CoronaVac, desenvolvida em parceria com o laboratório chinês Sinovac, ao governo brasileiro antes de o contrato ter sido firmado, em janeiro deste ano.
De acordo com Covas, o primeiro contato do instituto com o Ministério da Saúde se deu em julho de 2020, com novas tentativas até janeiro. Em meio às negociações, o presidente Jair Bolsonaro fez críticas ao imunizante e chegou a afirmar que não iria comprar a “vacina chinesa”.
Covas relatou que, após declarações contrárias à vacina, houve prejuízos na busca por voluntários, dificuldade na aquisição de matéria-prima para o imunizante e ataques contra o instituto oriundos das redes sociais.
Segundo ele, se não houvesse o atraso, o Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a iniciar a vacinação (vídeo abaixo) – em 8 de dezembro, o Reino Unido aplicou a primeira dose do imunizante. A campanha brasileira teve início em 17 de janeiro, com a CoronaVac.
Ao fim, uma versão parcial da oferta de outubro foi firmada em janeiro de 2021, com a previsão inicial de somente 46 milhões de doses e deixando aberta a possibilidade de aquisição do restante.
Em fevereiro, o governo contratou as outras 54 milhões de doses. Na sequência, houve ainda a solicitação de um adicional de 30 milhões de doses. De acordo com o diretor, até outubro, todas as ofertas “não tiveram resposta positiva”.
Mas as negociações avançaram e, no dia 20 daquele mês, estava previsto o anúncio da aquisição da CoronaVac. “Seria até uma comemoração capitaneada pelo então ministro da Saúde [Eduardo Pazuello] no anúncio dessa vacina”, lembrou Dimas Covas.
Na véspera do evento, porém, o presidente Jair Bolsonaro deu entrevistas e divulgou em suas redes sociais que havia mandado cancelar o contrato. “Não abro mão da minha autoridade”, reforçou o presidente, na ocasião. Bolsonaro desdenhou da CoronaVac ao longo do ano passado, em meio à disputa política com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
O então ministro Pazuello, na sequência, gravou vídeo ao lado de Bolsonaro no qual dizia: “É simples assim. Um manda e o outro obedece”. Depois disso, contou Covas, “as tratativas não progrediram”, apesar das “insistências em contatos”. A fala do diretor contrariou depoimento de Pazuello, que, à CPI, afirmou que a posição do presidente “não interferiu em nada”.
‘Sabotagem’
A demora na vacinação da população brasileira e o efeito desse atraso no aumento de casos e mortes é uma das principais frentes de investigação da comissão de inquérito.
O depoimento se soma ao do gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, que revelou seis ofertas do imunizante e uma série de tentativas de contato com o governo até a formalização da compra.
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