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Delação premiada, ora bolas

O Brasil, país com 204 milhões de habitantes, acorda diariamente sem descortinar um destino para esse gigante pela própria natureza e que, por inabilidade dos políticos das duas últimas décadas…


Ulisses Laurindo
Articulista

nstituída em 1999, através da Lei 9.807, a delação premiada buscou chegar mais perto de verdade quanto a delito de natureza geral, permitindo assim conhecer os criminosos, propiciando a desejada paz da sociedade. Na sua essência, a lei significa a possibilidade de se reduzir a pena de criminosos que entregam seus comparsas com penas a pagar à Justiça. Caracteriza como uma forma de dedurismo oficializado que, apesar de moralmente criticável, deve ser incentivado em face do aumento contínuo do crime organizado, e é a forma eficaz de quebrar a espinha dorsal das quadrilhas, principalmente daquelas que se locupletam dos bens públicos.

No Brasil, a dinâmica da lei vingou sobre um aspecto, naquele que identifica o delinquente, mas falhou no outro, em que os resultados apurados são jogados na cesta de lixo, tornando como evasivas as denúncias que o delator tem como verdade e que, para o outro lado, não passa de invencionice em defesa dos seus interesses.

O modelo vem se repetindo desde as ações da Lava Jato, cada qual, quando citado, defende-se alegando ser tudo mentira. No caso do senador Delcídio do Amaral alega-se que se chegou ao clímax das acusações sem fundamento. O senador, julgando-se traído pelos companheiros de partido, como que se vingou colocando para fora todo reservado que viveu quando merecia a confiança. A situação de Delcídio é chocante, mas pouco se imagina que ele fosse criar miragens com definições longe da verdade.
Nesse ponto se pode argumentar que a força da delação diminui em seus mais claros efeitos, porque não se sabe aonde está verdade ou a mentira.

Nos últimos 15 anos o Brasil viveu fases sui generis, decorrentes de uma política de desacreditamento, conduzida por uma governança incapaz que, antes de cuidar do país em troca delapidava seu patrimônio moral e ético.

Enquanto as pseudolideranças buscam afirmação em seus propósitos, o país vive um período melancólico e, pior, sem esperança. Tão bom que a delação premiada tivesse, como efeito, uma significação e que se acreditasse nos personagens. Enquanto não chega a hora para uma renovação no caráter do político brasileiro, um país com 204 milhões de habitantes acorda diariamente sem descortinar um destino para esse gigante pela própria natureza e que, por inabilidade dos políticos das duas últimas décadas, não se livra dos berços esplêndidos.


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