Nota 10

Amapaense waiãpi é a primeira mulher indígena militar do Brasil

Nascida no Parque Indígena do Tumucumaque, fronteira com a Guiana Francesa, da etnia Waiãpi, se tornando mãe aos 13 anos de idade, ela resolveu ir para a cidade, mendigou, passou fome, aprendeu a ler e foi condecorada com diversas medalhas de literatura.


Estudou artes, foi atleta, virou fisioterapeuta e cursa hoje a terceira graduação em saúde. Essa é a trajetória de Silvia Nobre Waiãpi que, aos 35 anos, tornou-se a primeira militar indígena a integrar as Forças Armadas no Brasil, sendo que no último dia 21 de março, assumiu a Chefia do Serviço de Medicina Física e Reabilitação/Fisioterapia, do maior Hospital Militar da América Latina, o Hospital Central do Exército. É a primeira vez que uma indígena assume a Chefia de um serviço de saúde de um hospital de referência em saúde militar. O Hospital, sediado no Rio de Janeiro, tem 247 anos, é o mais antigo e maior Hospital Militar da América Latina, com 650 leitos.
 
A índia disputou uma vaga com 5.000 candidatos e foi aprovada com uma das melhores pontuações no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro, onde concluiu o treinamento.
 
Em recente entrevista ao portal de notícias UOL, ela falou queria estudar, mas enquanto mulher indígena era muito difícil. Os cerca de 700 Waiãpi, que existem hoje, na etnia em que nasceu, ocupam, há mais de dois séculos, os confins da Amazônia brasileira, entre os rios Jari, Oiapoque e Araguari. Da aldeia ao centro urbano mais próximo são, pelo menos, dois dias de viagem de estrada de terra batida e barco.
 
Silvia conta que, aos 4 anos, sofreu um grave acidente e ficou hospitalizada por meses em  Macapá. “Aproveitei para estudar”, afirma.
 
A índia se tornou mãe aos 13 anos, decidiu abandonar a aldeia e se mudar para o Rio de Janeiro. “Vim sozinha. Não conhecia ninguém, dormi nas ruas por alguns meses. Eu tinha uma pedra, que acreditava que era sagrada, e a vendi para comer. Com aquele dinheiro eu consegui comer uns dois dias. Depois comecei a vender livros de porta em porta”, lembra.
 
Ainda adolescente, Silvia começou a declamar poesias e diz que foi incentivada a escrever pela Associação Profissional de Poetas do Estado do Rio (APPERJ). Ela resolveu estudar artes e ganhou prêmios por seus poemas: a medalha Cultural Castro Alves, a medalha Monteiro Lobato e também um prêmio de jovem escritora da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul.
 
Sílvia Nobre também é atriz. Já atuou na minissérie “Dois Irmãos” e na novela Uga-Uga, da Globo. 

Da arte para o esporte

O esporte foi a paixão seguinte da indígena. Disposta a aprender a correr, ela foi motivada por um técnico do clube Vasco da Gama. “Me apaixonei pelo esporte”, disse Silvia, que deixou as artes e direcionou os estudos para a área da saúde e fisioterapia ligada ao esporte.

Retorno para a aldeia

Desde que deixou sua aldeia, Silvia voltou apenas quatro vezes para visitar o povo Waiãpi. A última vez foi há sete anos. “É muito longe e caro. Cada vez que vou lá é uma surpresa. Às vezes a gente se fala por telefone quando eles estão numa outra aldeia de povos amigos, que tenha sinal de telefone.”
 
Na sua aldeia, nem todos os índios sabem falar português e os mais velhos “preferem não saber o português”.
 
Hoje, Silvia vive com seus três filhos e uma neta de quatro meses no Rio de Janeiro. Ela casou recentemente com um militar do Exército. Quando foi para Rio, a índia já era mãe de Ydrish, hoje com 22 anos e estudante de farmácia. Depois, aos 15 anos, Silvia teve Tamudjim, que cursa direito, e, cerca de dois anos depois, teve Yohana, que está começando a estudar relações internacionais.

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