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Dom Dedro Conti – Bispo de Macapá (Articulista)

Como uma orquestra   Artur Rodzinski foi um dos diretores mais famosos da Orquestra Filarmônica de Nova Iorque. Certa vez numa entrevista declarou: “Na nossa orquestra tem pessoas de toda nacionalidade, diferentes por jeito e temperamento. Aprendemos, porém, a esquecer simpatias, antipatias e diversidades de caráter por amor à música, à qual dedicamos nossas vidas. […]


Como uma orquestra

 

Artur Rodzinski foi um dos diretores mais famosos da Orquestra Filarmônica de Nova Iorque. Certa vez numa entrevista declarou: “Na nossa orquestra tem pessoas de toda nacionalidade, diferentes por jeito e temperamento. Aprendemos, porém, a esquecer simpatias, antipatias e diversidades de caráter por amor à música, à qual dedicamos nossas vidas. Muitas vezes me pergunto se os problemas do mundo não poderiam ser resolvidos buscando semelhante harmonia… Pensem quais resultados uma pessoa poderia alcançar controlando as próprias peculiaridades e ambições por amor à música… Somente quando cada um de nós e cada país aprenderá o segredo do amor, o mundo se tornará uma grande orquestra dirigida pelo maior Maestro de todos”.

 

Podemos considerar óbvias[u1] essas palavras ou simplesmente irrealizáveis, no entanto não deixam de ser verdadeiras e desafiadoras. Não podemos desistir de desejar e trabalhar para que a sociedade toda se torne melhor. Está em jogo também a realização da nossa própria vida. A mediocridade ou a acomodação são tentações reais que ganham da boa vontade, simplesmente porque cada passo, cada avanço custa algum esforço ou sacrifício. Preferimos cuidar do nosso bem-estar individual que imaginar relações humanas e sociais mais justas e fraternas.


Vivemos na ilusão de que, resolvido, ao menos temporariamente, o nosso problema, o mundo viverá tranquilo para sempre. Ninguém é uma ilha, sempre ensinaram os sábios. Estamos mais interligados de quanto, às vezes, percebemos e muito mais profundamente de quanto as “redes sociais” nos façam pensar. Não seria melhor unir as forças, as vontades, os sonhos e os projetos, aprender a lutar juntos contra o mal e a violência, contra a indiferença e o desamor, numa grande harmonia de paz?

 

Tempo de Advento é também tempo para renovar as esperanças. Na linguagem bíblica, promessas de Deus e esperanças andam juntas. Elas são, ao mesmo tempo, compromissos e caminhos a serem abertos e trilhados. O próprio Deus está comprometido, certo, mas não faz acontecer as coisas se a humanidade não quer e não se envolve. Não impõe a justiça se nós não a pedimos, desejamos e respeitamos naquilo que está ao nosso alcance. Não faz surgir a paz, se preferimos fazer da nossa vida uma disputa por ambição, poder e riqueza. Jesus ensinou o caminho do amor, ele é o Caminho, mas nós precisamos confiar nele e, sobretudo, caminhar, andar, crescer, melhorar, enfim, segui-lo também nos passos difíceis da cruz.

 

No evangelho deste domingo, João Batista é um exemplo de humildade e dedicação. Não nega a sua missão, ele é a voz que grita no deserto, por isso deve chamar atenção, mas não para si. Convida a todos a se prepararem porque virá outro mais importante, alguém que já está no meio do povo, mas que ainda precisa ser encontrado e reconhecido. João Batista não ocupa o lugar que não é dele, não rouba a cena do outro, não se promove. Por isso, é grande e importante a sua missão; a busca daqueles que o interrogam não acaba por aí, não chegaram ainda, ele os convida a caminhar, a ir ao encontro daquele que virá depois. Muito mais ainda vai acontecer, os novos tempos só estão começando.

 

João Batista comunica esperança, algo que sempre precisamos reavivar. É a cura contra o desânimo. No entanto, o contrário não é a exaltação, mas a colaboração humilde para que o bem, o bom e o belo aconteçam. Somente assim a cooperação tomará o lugar da disputa; o serviço generoso e honesto ocupará o lugar do poder; o respeito e a valorização do outro vencerão a ilusão de sermos nós os donos da verdade ou de poder fazer tudo sozinhos. Com o Natal de Jesus, podemos ainda esperar tudo isso ou já perdemos toda a esperança? Se os músicos de uma orquestra conseguem tocar afinados por amor à música, será que nós cristãos não deveríamos acreditar mais numa humanidade nova por amor ao Senhor? Sempre prontos a começar de novo.


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