Antonio Carlos Valente – Colaborador
Tecnologia para mudar a educação no campo Há algum tempo, uma equipe da Fundação Telefônica Vivo visitou o município de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, para avaliar a viabilidade de realizar projetos sociais na região. A agenda incluiu a visita a uma escola rural, às margens do rio Paraguai, na comunidade de Paraguai […]
Tecnologia para mudar a educação no campo
Há algum tempo, uma equipe da Fundação Telefônica Vivo visitou o município de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, para avaliar a viabilidade de realizar projetos sociais na região. A agenda incluiu a visita a uma escola rural, às margens do rio Paraguai, na comunidade de Paraguai Mirim, distante seis horas de barco da cidade. Nessa escola, os alunos se alojavam junto com a professora para ter aulas durante dois meses seguidos, período durante o qual não tinham qualquer contato com a família. Aí voltavam para casa, onde ficavam outros dois meses, para novamente retornar à escola. Foi então que a educadora disse: “Se ao menos a gente tivesse celular ou internet para falar com nossos familiares, seria menos difícil ficarmos isolados aqui no período de aulas”.
Esse é só um exemplo das dificuldades enfrentadas pelas escolas rurais brasileiras, muitas delas com infraestrutura totalmente precária. De acordo com dados do Ministério da Educação, 90% dessas escolas – um total de 68.651 unidades – não têm internet e a taxa de estabelecimentos sem energia elétrica é de 15%. Apenas 11% das escolas do campo têm bi-blioteca, 1,1% contam com laboratório de ciências e 12,9% apresentam laboratório de informática.
Trata-se de um quadro que, fatalmente, provoca impacto direto na qualidade do ensino oferecido – no caso da comunidade de Corumbá, a rotatividade de educadores é elevada e a maioria dos alunos não consegue finalizar o primeiro grau. Enquanto a taxa de analfabetismo no País – na população com mais de 15 anos – é 9,6%, na zona rural o índice sobe para 23,2%, de acordo com informações do MEC de março de 2012, as últimas disponíveis. Apenas 15% dos jovens de 15 a 17 anos do campo estão no ensino médio e só 6% das crianças até 3 anos têm acesso à creche.
O acesso e a melhoria da qualidade das escolas do campo são, portanto, um dos maiores desafios da educação, hoje. Não à toa, o governo condicionou a concessão das faixas de radiofreqüência 4G a contrapartidas na forma de atendimento a áreas rurais e regiões remotas. O objetivo é a universalização do acesso à internet em banda larga, de forma gratuita, em todas as escolas públicas rurais durante a totalidade do prazo de outorga.
A primeira experiência de conexão de escolas rurais da Telefônica Vivo já está acontecendo. Estamos levando tecnologia 3G a cem unidades localizadas em sete estados brasileiros, beneficiando 11 mil alunos e 500 professores.
Fizemos a doação de dois notebooks para cada escola configurados com sistema operacional educacional com inúmeras sugestões de links de acesso a publicações, debates, pesquisa e formação de educadores e alunos, ou seja, conteúdo de cunho pedagógico no contexto digital.
Há pouco mais de um mês, estivemos em Maratá, cidade de cerca de 2.500 habitantes, próxima a Porto Alegre, para entregar equipamentos para a EMEF Pedro Cristiano Höher, e lançar o programa Escolas Rurais Conectadas, que irá capacitar professores e testar impactos das tecnologias na qualidade da educação.
Mas queremos fazer mais, alinhando nossa estratégia de negócios à nossa responsabilidade social. Vamos fa-zer um diagnóstico dessas escolas para conhecer a cultura local e educacional e do espaço geográfico, como vivem os professores e alunos, se ou quais equipamentos existem nas instituições de ensino e como a escola é concebida no contexto das comunidades.
A ideia é que o diagnóstico, elaborado sob licença creative commons, possa ser um referencial para iniciativas que visem a inserção das unidades rurais no universo digital, sua integração e colaboração por meio das mídias sociais, o desenvolvimento local, a proteção à infância e, sobretudo, a melhoria da aprendizagem das crianças, jovens e adultos dessas regiões.
Sabemos do potencial da internet em conectar essas escolas com o mundo, estreitar relações no novo convívio social em rede, contribuir com a reciclagem dos professores, alavancar o conhecimento dos alunos, enfim, testar impactos das tecnologias na qualidade da educação. Em ou-tra mão, a conexão com a web pode ajudar o mundo a olhar para a vida rural, percebendo anseios, desafios e soluções próprias que emergem dessas comunidades.
Para a empresa, a conexão das primeiras cem escolas é só o começo. Será um grande aprendizado para os novos desafios da chegada do 4G ao País.
* Antonio Carlos Valente é presidente do Grupo Telefônica no Brasil
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