Machado diz que repassava ‘mesada’ de R$ 300 mil a Renan Calheiros
Delator diz que discutia repasses em reuniões frequentes com parlamentar.
Presidente do Senado diz que ex-presidente da Transpetro ‘não prova nada’.
O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado disse aos investigadores da Operação Lava Jato, em acordo de delação premiada, que fazia reuniões frequentes com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para tratar de propina.
Segundo Machado, desvios em contratos da Transpetro renderam ao todo R$ 32 milhões em propina ao peemedebista. Os detalhes sobre os repasses, explicou, eram combinados com o próprio Renan, em reuniões mensais ou bimestrais.
Machado contou aos investigadores que os pagamentos a Renan começaram em 2004 ou 2005, mas que, a partir de 2008, o presidente do Senado passou a receber uma “mesada” de R$ 300 mil.
O presidente do Senado disse nesta quarta-feira (15) que o delator apenas cita seu nome, “mas não prova nada” que possa comprometê-lo.
“[Machado] cita, mas não prova nada. Com relação a mim, eu nunca autorizei ninguém para falar em meu nome em nenhum lugar. Todas as doações que recebi em campanhas, foram doações legais e com contas prestadas à Justiça e aprovadas. De modo que eu não tenho nada, absolutamente, a temer”, disse.
A íntegra da delação de Machado, de 400 páginas, foi tornada pública nesta quarta, após ser homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em troca da colaboração, ele pode ter eventuais penas reduzidas. Alguns destaques dos depoimentos:
– Machado diz que repassou propina a mais de 20 políticos;
– a propina, segundo ele, era paga por meio de doações eleitorais oficiais;
– alguns políticos também receberam dinheiro em espécie, diz ele;
– Machado diz que Michel Temer pediu doação de R$ 1,5 milhão para Gabriel Chalita (o pedido de doação foi revelado pelo Jornal Nacional em maio, na época sem citar o valor);
– O delator relatou ter pago R$ 1 milhão para Aécio na eleição de 1998;
O conteúdo da delação de Machado foi divulgado um dia após o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, negar pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que Renan fosse preso por tentar interferir na Lava Jato. O pedido de Janot se baseou na delação de Machado e nas conversas gravadas por ele com Renan e outros líderes do PMDB.
Acerto de repasses
Nos depoimentos, Machado revelou que recebeu o primeiro pedido de colaboração do presidente do Senado em 2004 ou 2005. E que, naquele momento, Renan tinha ciência de que o dinheiro seria produto de propina.
“O contexto evidenciava que Renan Calheiros não esperava que o depoente fizesse aportes de seus recursos próprios, como pessoa física, e sim que o depoente, na qualidade de dirigente de empresa estatal, solicitasse propinas de empresas que tinham contrato com a Transpetro e as repassasse. E que os dois acertaram que o depoente procuraria repassar esses recursos ilícitos para Renan Calheiros”, diz trecho da delação.
Segundo Machado, o primeiro repasse ao senador foi de R$ 300 mil. A partir de 2008, explicou, os pagamentos passaram a ser mensais, feitos por empresas a intermediários indicados por Renan, que recebiam codinomes para disfarçar o caminho do dinheiro.
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