Desaparecimento de chanceler mostra o submundo da política chinesa
Qin foi visto pela última vez em público no dia 25 de junho, quando se reuniu com o vice-chanceler da Rússia, Andrey Rudenko, em Pequim
O desaparecimento do chanceler chinês, Qin Gang, pode estar relacionado com o vazamento, para os Estados Unidos, de informações secretas sobre o programa militar de Foguetes das Forças Armadas da China. Suspeita-se que Qin, de 57 anos, seja amante e tenha tido um filho com a apresentadora Fu Xiaotian, de 40 anos, da TV Phoenix de Hong Kong, e que ela seria uma agente dupla.
No dia 5 de janeiro do ano passado, a Universidade do Ar, que pertence às Forças Armadas americanas, publicou um detalhado estudo sobre o programa militar de foguetes da China.
Na época, Qin era embaixador da China em Washington. Homem de confiança do presidente Xi Jinping, ele seria promovido a chanceler em outubro do ano passado.
Naquele momento, Qin já se relacionava com Fu. O suposto filho do casal foi gerado justamente naquele mês de janeiro, já que nasceu nove meses depois. Qin é casado e tem um filho. Ele não assumiu a paternidade do filho de Fu, que no entanto deu todos os sinais em sua página no Weibo, espécie de Twitter chinês, de que Qin é o pai do bebê.
A começar pelo nome, Erkin. “Er” significa “filho” em chinês, e “Kin” parece ser uma referência a “Qin”, que em chinês se pronuncia “Tchin”. No dia 19 de março, data do aniversário de Qin, Fu publicou uma foto do bebê com a legenda: “Papai está numa missão, muito ocupado para celebrar o aniversário”. O chanceler estava acompanhando Xi Jinping em visita a Vladimir Putin em Moscou.
Em março do ano passado, Fu fez uma longa entrevista com Qin, na qual os dois trocaram olhares lânguidos. Chineses poderosos terem amantes não é algo incomum. O problema é a suspeita de que Fu possa ter tido acesso a informações confidenciais do governo chinês e repassado para os americanos.
Outro problema é o próprio estilo de vida de Fu, uma celebridade na China. Ela postou no ano passado uma foto em uma casa na Califórnia, cujo aluguel mensal é US$ 60 mil. A apresentadora publicou depois fotos de sua viagem de volta para a China, para se juntar ao pai de Erkin.
Qin foi visto pela última vez em público no dia 25 de junho, quando se reuniu com o vice-chanceler da Rússia, Andrey Rudenko, em Pequim. O governo chinês cancelou uma reunião dele com o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, marcada para o dia 5, com apenas 48 horas de antecedência.
O chanceler não compareceu a uma reunião de ministros das Relações Exteriores da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) em Jacarta na semana passada por “razões de saúde”, segundo o Ministério das Relações Exteriores. A informação no entanto não foi incluída na transcrição do briefing publicado no site da chancelaria.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, disse na segunda-feira que não tinha “nenhuma informação para fornecer” sobre o paradeiro de Qin. Ele tem sido substituído pelo chefe de Relações Exteriores do Comitê Central do Partido Comunista, Wang Yi, que está acima do chanceler, e ocupava o cargo antes de Qin.
A própria Fu também não foi mais vista em público, assim como o comandante da Força de Foguete, general Li Yuchao, que segundo informações teria sido levado de seu gabinete no dia 28. Há também a informação de que o filho do general, que estuda nos Estados Unidos, seria acusado de ter “traído a inteligência militar do Partido Comunista Chinês”.
As informações são de fontes da CNN Brasil em Pequim, que pediram para não ser identificadas.
Uma outra versão das especulações é a de que as informações da Força de Foguete teriam sido repassadas aos americanos por rivais de Qin dentro do Ministério das Relações Exteriores para incriminar o chanceler e sua suposta amante.
Bem-vindo ao submundo da política chinesa.
Fonte: Lourival Sant’Anna da CNN
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