‘Uma festa pulsante e do povo’, reforça poeta e escritor sobre Carnaval do Amapá
O folião Fernando Canto recorda sambas compostos por ele e histórias vividas nos blocos, desfiles e bastidores da festa
Das batalhas de confete na Praça do Barão, na década de 1960, aos desfiles das escolas de samba, o carnaval amapaense se mistura no imaginário e na história do Amapá nos últimos 80 anos. A festa também está presente na memória do poeta, escritor, professor e compositor Fernando Canto, que trouxe a folia para sua obra. Este ano, com apoio do Governo do Amapá, o Carnaval 2024 promete alegria e memórias relembradas na Avenida Ivaldo Veras.
Para o poeta e folião, o momento na avenida se traduz como manifestação genuína de um povo que constrói o Carnaval. Fernando Canto explica que a festa é viva e que pode ser aproveitada por qualquer um que queira se juntar a ela.
“O carnaval é pulsante, é uma coisa do povo, é inalienável, aliás, tudo é dele, toda a arte advém do povo, porque ninguém sabe exatamente como as coisas surgem ou momento que se modificam. Essa festa também é um lugar de paixões, de desfilar, de mostrar cada um à sua própria vaidade, mas sempre no sentido da festa, daquilo que é importante para todos nós, sem a pretensão de ter aquela seriedade dos outros tipos desfiles, como procissões ou Sete de Setembro”, reforça Fernando Canto.
Como amante da escrita e do samba, Fernando Canto não teve como escapar da vontade de compor sambas-enredo, emplacando dezenas de letras para diferentes agremiações do estado, como a Boêmios do Laguinho, a escola do coração dele, Piratas Estilizados e Piratas da Batucada.
Foi, curiosamente, a escola Piratas da Batucada, uma das principais rivais do Boêmios, a protagonista de uma divertida história de composição de sambas do poeta. Em 1986, Canto compôs um samba-enredo para ser disputado na agremiação, e conseguiu alcançar o segundo lugar no concurso. Porém, dias depois, um amigo matemático acabou percebendo que a conta das notas estava errada e que o compositor havia sido prejudicado. Após contestar o resultado, o samba dele foi cantado na Avenida FAB naquele ano.
Em 1987, os dirigentes da escola encomendaram um novo samba para o escritor, sobre o enredo “Biroba – o maquinista da alegria”. Ele concordou, mas, com o passar do tempo, acabou esquecendo do pedido. Chegando mais perto do desfile, um dos diretores do Piratão foi até a casa de Fernando pedindo o samba, que acabou tendo que solicitar um tempo a mais para produção da letra.
“Nunca havia escrito um samba-enredo em apenas trinta minutos, mas no final das contas ele foi para o desfile e foi o samba que embalou o primeiro título da história do Piratas da Batucada, em um ano em que foi contada a trajetória de uma figura histórica do bairro do Trem, o Biroba”, conta o escritor.
História no Boêmios do Laguinho
A Boêmios do Laguinho, com 70 anos de existência – mesma idade de Canto –, é a grande paixão do folião, que coleciona sambas e momentos inesquecíveis. A agremiação fica localizada na mesma rua onde o compositor cresceu e foi nela que ele foi eleito Mestre da Nação, título dado às figuras históricas da escola e que é carregado com orgulho.
Além disso, Canto também já foi presidente da escola e uma vez homenageado pela “Nação Negra”, em 2012, juntamente com o compositor Osmar Júnior, com o enredo “Laguinho África minha, cantos e revoadas de dois poetas geniais”. Uma das grandes emoções vividas por ele na avenida, que também ocorreu outras vezes, com a Unidos do Buritizal e Piratas Estilizados.
“Foi uma alegria muito forte, nossa obra foi colocada na avenida, foi cantada pelas pessoas, mas, sobretudo, fica a marca de quem fez alguma coisa para arte, e isso me revigora. Estava ali eu e a obra que eu escrevi, que eu fiz, que eu musiquei, isso nos traz uma felicidade imensa”, disse o escritor.
Carnaval e poesia
Desde o tempo das batalhas de confete às festas das marchinhas de Carnaval que viveu na cidade, lá pelos anos 1960, Fernando Canto aproximou cada vez mais a sua obra da expressão cultural, ora inspirando seus textos, ora seus textos inspirando o próprio Carnaval.
O escritor sempre manteve a irreverência e a fantasia dessa época tão rica, na terra do bloco A Banda e de diversos outros de rua, como pode ser visto no conto “Super-Heróis no Carnaval”, do livro “O Centauro e as Amazonas”, publicado por ele em 2021.
“(…) Eduardo Luís, o Mãos de Tesoura, que acabara de terminar seu relacionamento com a Supermoça, olhava, deprimido, aquela cena enquanto a Mulher Maravilha dançava com o Homem de Areia a marchinha ‘A Jardineira’, mais bêbada que um trem descarrilhado”.
Deixe seu comentário
Publicidade