Policial penal é preso ao jogar material ilícito para detento no Iapen
Conforme levantamentos, grupo de indivíduos de fora da cadeia fazia contato com alvos de operação policial; depois, ingressava objetos nos pavilhões F3 e F4
Elen Costa
Da Redação
A polícia fechou o cerco contra policiais penais suspeitos de facilitar entrada de material ilícito dentro do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen) do Amapá, e cumpriu dois mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão preventiva contra três servidores.
A ação aconteceu na tarde dessa quinta-feira, 15, mas a informação só foi divulgada nesta sexta-feira, 16, em uma coletiva à imprensa na Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
Os alvos foram policiais que trabalhavam na guarita do sistema prisional. Câmeras de monitoramento flagraram quando um dos agentes arremessava uma mochila para um dos presos do pavilhão F3.
“Essa operação iniciou com os investimentos que estão sendo realizados dentro do sistema prisional, como instalação do sistema de câmeras; renovação da iluminação, pois tínhamos uma penitenciária muito escura; controle do mato na área externa que permitia que criminosos se aproximassem da muralha e fizessem arremesso de material ilícito. Então, é um trabalho que vem sendo realizado desde que assumimos a gestão, e esse conjunto de medidas conta, também, com os esforços da grande maioria dos policiais”, destacou o diretor-presidente do Iapen, Luiz Carlos Gomes Júnior.
O diretor disse também que a polícia penal passou por mudanças de postura, a iniciar pelo protocolo de entrada de pessoas e objetos, o que resultou na deflagração da ação de hoje, que foi intitulada Operação Muros.
“Infelizmente, identificamos esse servidor que no meio da polícia estava favorecendo a ação de uma facção dentro do presídio. Sempre vale destacar que a entrada de um aparelho celular na cadeia é como se fosse a entrada de uma arma, porque um telefone na mão de um preso possibilita que ele tenha acesso ao mundo externo, e isso tem ligação direta com a violência que a guerra de grupos criminosos promove, além da coordenação do tráfico de drogas”, analisou.
Segundo informações, dos três policiais que foram alvos da Operação Muro, o que foi flagrado colocando material para dentro do Iapen estava com o mandado de prisão expedido e foi encaminhado para o Centro de Custódia Especial (CCE). Os outros dois investigados foram liberados, mas tiveram seus telefones apreendidos. Eles serão investigados por ter colaborado com a ação do colega, ainda que de forma omissiva, pois teriam, segundo o diretor, a possibilidade de evitar o ato, mas nenhuma medida tomaram.
“Essa investigação já vem de alguns meses. Nós vínhamos observando a movimentação de alguns servidores. Com certeza a operação terá continuidade, pois a partir das informações que coletamos e a confirmação com essas imagens, da entrada de ilícitos dentro do Iapen, nós iremos prosseguir com as investigações, pois pretendemos identificar todos os servidores que, porventura, possam estar integrados aos grupos criminosos”, assegurou Luiz Carlos.
Informações de investigações anteriores estimam que o valor de um celular dentro do Iapen varia de R$ 1 mil a R$ 2 mil, a depender do aparelho.
“Ali é um ambiente controlado, onde funciona com a lei de mercado. Os valores são flutuantes, conforme a disponibilidade do aparelho que existe lá dentro. Então, quanto maior a oferta, menor é o preço, e quanto menor a disponibilidade, isso acaba interferindo diretamente no valor”, explicou o diretor.
Investigação
A investigação da Operação Muros foi coordenada pela Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco). O delegado Ismael Nascimento, titular da unidade, explicou como funcionaram os trabalhos que culminaram com a identificação do servidor da penitenciária no esquema criminoso.
“Iniciamos a investigação no sentido de qualificar todos os envolvidos e descobrir o grau de participação que cada um tinha nessa empreitada criminosa. Pedimos a quebra do sigilo bancário de todos. Nosso objetivo é, quem sabe, conseguir identificar outros elementos que tenham tido participação nesse crime”, disse Nascimento.
Conforme os levantamentos policiais, um grupo de indivíduos de fora do Iapen fazia contato com os policiais alvos da operação e, posteriormente, esses faziam o ingresso dos objetos ilícitos para dentro dos pavilhões F3 e F4.
“Se ao final ficar comprovada a ligação desse policial preso com as Orcrims, ele responderá por participação em organização criminosa. Mas, até o momento, no inquérito, está como corrupção passiva, corrupção ativa por parte do preso que recebeu o material. Vamos fazer, ainda, as análises dos celulares apreendidos e veremos se praticaram outras condutas tortuosas. Além disso, se comprovada a entrada de entorpecentes por ele, o mesmo vai responder por tráfico de drogas”, finalizou o titular da Draco.
Medidas adotadas
As investigações para apurar a possível participação de outros policiais no esquema criminoso irão continuar. O secretário de justiça e segurança pública, José Neto, garantiu que medidas para inibir que ações como essa continuem acontecendo, já estão adotadas.
“As medidas já estão sendo tomadas há algum tempo, como por exemplo, na estrutura do presídio, que é o principal problema. Já melhoramos pontos de acesso com controle, utilizando equipamentos tecnológicos como scanners e câmeras corporais”, comentou o secretário José Neto, da Sejusp.
Para o gestor da pasta, o sistema penitenciário continua sendo uma das prioridades para o melhoramento nos índices de violência e nos demais aspectos da segurança pública do estado.
“Diversas intervenções estão sendo realizadas no Iapen. Temos cinco obras em andamento; vamos mudar a estrutura de acesso às guaritas, iremos colocar um único ponto de acesso com controle efetivo. O pavilhão F3 será reconstruído em moldes muito mais modernos e eficientes. Já demonstramos que só conseguimos fazer uma segurança pública eficaz, porque nós temos um sistema penitenciário eficaz. Portanto, vamos continuar atuando para que consigamos fazer, não só a Unidade Prisional Policial José Eder, mas todo o sistema penitenciário do estado eficiente”, afirmou José Neto.
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