Entrevista

“O valor dos juros no Brasil é escandaloso”

O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, concede uma entrevista em que defende a nova política industrial das críticas, afirma que só haverá recurso não reembolsável para pesquisa.


 

O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, me concedeu uma entrevista na Globonews, em que defende que a nova política industrial das críticas, afirma que só haverá recurso não reembolsável para pesquisa e desenvolvimento e inovação. Critica as altas taxas de juros e diz que são um impeditivo para o crescimento da indústria. Ele fala ainda um pouco de política, dizendo que o presidente Lula salvou a democracia após os ataques democráticos e que as eleições municipais deste ano não têm relação com a estadual e federal. Veja a íntegra da entrevista abaixo:

 

Pergunta: A nova política industrial já deu o que falar. Teve muita gente criticando, muita gente elogiando e muitas dúvidas. O senhor disse várias vezes nas entrevistas, que são R$ 300 bilhões em 3 anos, mas não tem custo fiscal. Mas tem até recursos não reembolsáveis, que significa dinheiro dado. Então como é que não tem custo fiscal?    

Resposta: Lançamos com o presidente Lula a Nova Indústria Brasil baseado em quatro pilares. Primeiro, uma indústria inovadora, pesquisa, desenvolvimento e inovação. Uma indústria verde sustentável, para transição ecológica. Uma indústria exportadora que nós exportamos pouco com valor agregado e uma indústria produtiva competitiva que possa participar da competência internacional.

Você só tem recurso não reembolsável para pesquisa e desenvolvimento e inovação, aliás, nem está no Ministério da Indústria e Comércio. Nós não temos nenhum recurso não reembolsável, isso é no Ministério de Ciência e Tecnologia. É muito focado mais na universidade e algumas pesquisas mostram que o mundo inteiro quando tem grande risco, você não vai emprestar dinheiro com juros de 18%, 20% ao ano.  Então o foco é fortalecer a inovação, muito foco em TI (Tecnologia da Informação), muito foco no complexo da saúde. O primeiro déficit da balança comercial é TI. O segundo é o complexo da Saúde. O empréstimo com o uso de TR vai para a indústria inovadora.

 

Pergunta: Nessa parte de “recursos não reembolsáveis” tem fertilizantes e defensivos, produtos ou suas embalagens com nanotecnologia e biotecnologia. Produtos e ingredientes de maior valor agregado com base em biomassa. Melhoramento genético animal e vegetal. Redução do consumo de água e da pegada de carbono na atividade agropecuária”. O que é isso? Dar dinheiro para o setor agropecuário fazer o que é obrigação dele? O setor agropecuário tem que reduzir a água, tem que reduzir a pegada de carbono, já investe há muito tempo em melhoramento genético. Fiquei em dúvida se esse setor agropecuário tão rico precisa, para essas atividades, de dinheiro não reembolsável.

Resposta: Apenas para pesquisa. Como nós somos um grande celeiro do mundo, o grande exportador de proteína animal e vegetal e dependemos de NPK – nitrogênio, fósforo e potássio. Isto é básico. Nós não queremos desmatar os biomas, nós queremos preservar os biomas, então nós precisamos ganhar produtividade, precisamos pegar pastagem degradada e fazê-la grande produtora de agricultura. Para isso, eu preciso tratar do solo nitrogênio e fósforo e potássio. Fósforo, eu importo mais de 70% dos fosfatados, nitrogenados quase 90%. Tudo importado. E potássio 97%. Tudo importado, você não tem nada.

 

Pergunta: O senhor fala em pesquisa nessas áreas para encontrar alternativas a esses produtos?

Resposta: Isso é um escopo.  Os projetos são apresentados à Finep. Lá no Ministério de Ciências e Tecnologia ela avalia os projetos, seleciona projetos de um critério muito bem-feito para verificar que tipo de projeto é aprovado. No caso do fertilizante, esse é um problema. Eu que a meta não é ficar independente, mas ao menos reduzir para 50% a importação. Porque no caso do potássio é 97%. Nos nitrogenados é quase 90%. E no fósforo é mais de 70%. Agora vai inaugurar daqui 15 dias na Serra do Salitre, em Minas Gerais, uma nova mina e industrialização na área de fosfatados. A gente vai avançar um pouquinho mais na área do fósforo. Mas é importante você ter menor dependência na área de fertilizante.

 

Pergunta: No caso do melhoramento genético, eles fazem isso há muito tempo. Além do mais, a Embrapa sempre transferiu os recursos de conhecimento para o setor agropecuário, porque criar mais um estímulo, mais um incentivo?

Resposta: Pode ter ou não, isso vai depender do projeto analisado na Finep. No caso nosso é BNDES, não há nenhum recurso que não seja empréstimo. Aliás, o valor dos juros no Brasil é escandaloso, 11,25% de Selic mais spread mais taxa de administração, mais de 15%. Se for verificar o porquê do baixo crescimento brasileiro nas últimas décadas é uma combinação de imposto alto, juros – altos, altíssimos, maiores do mundo, câmbio sempre teve mais valorizado. Agora melhorou e você tem um câmbio competitivo de R$ 4,90.  O juro ainda é alto, mas está em queda e é fundamental. Como é que eu vou competir num produto se lá fora o juro real é zero e aqui é 7%, 8% de juros. Você tem uma dificuldade competitividade. Outro problema é o imposto, que a reforma tributária vai ajudar. Ela não vai reduzir a carga tributária, mas ela vai simplificar a carga tributária, desonerar a indústria que está super tributada e desonerar totalmente investimento e exportação.

 

Pergunta: Os juros estão altos. De qualquer maneira o que pergunto é sobre a afirmação de que não haverá dinheiro público. O funding do BNDES é em parte o FAT e em parte Tesouro, além das captações. Então significa que há sim um subsídio.

Resposta: Há muita desinformação, não tem R$ 300 bilhões de subsídios, você tem R$ 300 bilhões de financiamento. As pessoas não gostam do BNDES porque lá atrás tinha TLP e TJLP. Então na TJLP o dinheiro era mais barato e se dinheiro é mais barato do que o captado, o governo está subsidiando, o governo está equalizando a taxa de juros. Acabou a TJLP. Todo financiamento é TLP. O que o BNDES fez de maneira inteligente, é ver como reduzir um pouco esses juros. Na exportação, eu vou receber em dólar então eu posso te financiar em dólar então eu consigo financiar com uma taxa mais baixa. Só posso fazer isso para exportador porque ele está hedgeado. Se amanhã houver uma grande variação cambial, ele não vai ter problema porque ele já recebe em dólar, então o governo nesse caso aí não corre o risco cambial. Ele praticamente está  hedgeado. Tanto até que o dinheiro tanto para indústria quanto para agricultura teve uma demanda brutal, zero dinheiro público, zero subsídio. O único caso que você tem  TR é pesquisa, desenvolvimento e inovação e no nosso caso não tem nenhum dinheiro a fundo perdido. É tudo financiamento, só que é um financiamento com juros mais baixos. Quantos Estados Unidos está pondo para subsidiar sua indústria? Trilhão.

Se juntar 50% dos grandes subsídios do mundo é a União Europeia, China, Estados Unidos. Nós estamos fazendo de maneira horizontal, não é para empresa A, B ou C, é horizontal é para todos e só para inovação e está previsto no orçamento, aliás, isso é lei federal. Quem estabeleceu TR para pesquisa, desenvolvimento e inovação foi a Legislação Federal.

 

Pergunta: Todas as políticas industriais brasileiras sempre foram verticais, ou seja, setor a setor. O documento diz que será feita agora uma política horizontal, ou seja, melhorar a competitividade da economia como um todo, beneficiar toda a economia, mas ao mesmo tempo vocês falam em setores, cadeias produtivas do agronegócio, a cadeia produtiva da saúde a cadeia produtiva da bioeconomia. Então qual a diferença?

Resposta: O que nós fizemos foi ter algumas missões. Então, por exemplo, nós temos que aproveitar onde nós somos mais competitivos.  Se eu sou muito competitivo na agricultura, eu vou agregar valor, então agroindústria. Que que vai bem no Brasil? Árvore, solo, água e sol. Então ninguém compete com o Brasil nessa área. Não vamos vender madeira. Vamos vender celulose e papel então agregar valor. Eu produzo soja, não vou vender a soja, eu vou vender biocombustível, eu vou agregar valor, eu vou fazer óleo vegetal para trocar pelo diesel que eu estou importando dos Estados Unidos etanol até de milho. Eu produzo, eu pego o milho vira combustível etanol, vira ração animal. Vira alimento, vira óleo comestível, óleo de milho e vira bioeletricidade.

Então, a gente procura agregar valor naquilo que nós somos mais competitivos. Temos melhor expertise. Deixa eu te dar uma boa notícia: a indústria brasileira, vem perdendo espaço há décadas, vem caindo a indústria de transformação. Vamos melhorar a competitividade dela e por isso lançamos um programa chama “depreciação super acelerada”. Preciso trocar essas máquinas e equipamentos que estão com 12, 14 anos envelhecidos menos eficientes com produtividade mais baixa, então eu deprecio uma máquina e quanto tempo 15 anos, 16 anos esse projeto nós vamos depreciar em dois anos.

Qual é o estímulo para a empresa trocar suas máquinas, seus equipamentos? Então você vai investir em bens de capital e você vai ganhar produtividade. Nós temos dois problemas na economia: baixo investimento, baixa produtividade. Você vai ao encontro dos dois melhorar, investimento, melhorar a produtividade. O que é a depreciação super acelerada? Substitua suas máquinas e equipamentos, eu diminuo o imposto de renda da pessoa jurídica e a contribuição social sobre o lucro líquido. Previsto no orçamento este ano R$ 1,7, bilhão. o ano que vem R$ 1,7 bilhão.

 

Pergunta: Estar no orçamento é importante para dar transparência porque havia muito subsídio no passado ou estímulo fiscal, que não estava no orçamento e aí ninguém sabia o tamanho da conta.      

Resposta: É isso o que ocorre no setor elétrico. Por que a energia no Brasil é barata e a conta de luz é cara? Porque ao invés de colocar os incentivos no orçamento, você vai pôr no jabuti na conta de luz

 

Pergunta: Eu queria perguntar sobre jabutis que estão aí vindos contra nós, que são os jabutis das termelétricas a gás que foram embutido na privatização da Eletrobras, no governo anterior. Como fazer para se livrar desses jabutis que tem interessados que todo mundo sabe quem é?

Resposta: Se for dar, que seja de maneira transparente, clara, prevista no orçamento, só que às vezes passa em uma Medida Provisória um negócio qualquer, um jabuti que acaba onerando a conta.

 

Pergunta: Como se livrar desses jabutis específicos do setor elétrico?

Resposta: O ministro Alexandre Silveira está fazendo um pente fino lá para tentar reduzir custo de insumo. Nós temos dois custos que nós precisamos reduzir: energia elétrica e gás natural também é caro se comparar Brasil, Estados Unidos. O milhão de BTU aqui é 11 dólares e lá é 3,4 dólares. Mas só terminando a questão da depressão acelerada, não é nem abrir mão do Imposto, é só redução de fluxo. Uma empresa que vai pagar 50 milhões de tributo em cinco anos. Ela vai continuar pagando R$ 50 milhões em cinco anos. O que o governo perde ele vai recuperar esse R$ 3,4 bilhão, ele perde o fluxo, ele antecipa a depreciação, ele vai receber isso no tempo. Ele não está abrindo mão de imposto, ele perde no fluxo. “Nos primeiros dois anos. Eu vou ter uma arrecadação um pouco menor, mas eu vou ganhar nos anos subsequentes”. Então não é nem redução de carga tributária, é só fluxo, mas claro que nos dois anos iniciais isso tem Impacto. Então a medida horizontal, uma medida para melhorar produtividade, estimular renovação de parque fabril. E uma outra medida é para micro, pequena e média, que é o novo Brasil mais produtivo. Nós lançamos um programa que vai empresa por empresa pequena indústria presencialmente. A meta são 93 mil empresas. Abdi, Senai, Sebrae e BNDES vão às empresas. Então você se inscreve. Você tem uma pequena indústria, você se inscreve lá na ABDI ou no Senai e eles irão lá presencialmente.

O Senai vai lá fazer um diagnóstico, porque que você não está eficiente, o que falta digitalizar. Quais são as perdas de produtividade. Aí vem o Sebrae e faz o projeto e o BNDES financia. Será feito isso em 93.mil empresas, esse trabalho ser presencial e em 200 mil pela plataforma digital, unindo aí a ABDI, o Senai, o Sebrae com foco na produtividade e foco na exportação. Nós temos que ter uma indústria mais exportadora.

 

Pergunta: Na proposta, há a autorização para o BNDES voltar a participar de empresas. Isso já deu muito errado no passado. O BNDES vai comprar a participação em empresas quando estava ultimamente se livrando dessas empresas, vendendo essas ações. Por que o BNDES tem que ser sócio?

Resposta: Ele não vai comprar ações da empresa. O que está se fazendo é ter um fundo de mercado, com outros investidores do mercado para estimular, por exemplo startups. Você não vai comprar uma empresa, mas ele cria um fundo onde ele participa, você participa, ele participa. É muito voltado a área de minerais estratégicos, startups. A estratégia é que se pode avançar um pouco mais nessa área, mas é um valor de 10 bilhões. É uma coisa pequena. O BNDES não vai executar nada que tenha subsídio, participação especial. Ele vai operar como banco. Agora spread menor, taxa de administração menor. Estimulando o desenvolvimento porque um dos problemas do Brasil é custo do dinheiro. Se eu tenho custo do dinheiro muito alto, eu que estou endividado posso quebrar. E aquele que está precisando de dinheiro para crescer não toma dinheiro. Porque o custo é muito alto A queda da taxa de juros é essencial.

 

Pergunta: Qual é a principal diferença dessa política industrial de outras que deram tão errado no passado e foram tão criticadas como a do governo militar, ou a dos governos do PT, como a dos campeões nacionais. Sempre foram muito criticados, porque deram muito prejuízo ao governo e a indústria continua patinando.                                                                                                        

Resposta: Primeiro, vamos ter humildade. Não tem política industrial que possa funcionar com custo Brasil altíssimo. Por que nós tivemos um processo de desindustrialização precoce e acentuado? É uma combinação de câmbio, que muito tempo teve sobrevalorizado, juros – nós chegamos a ter juros de 40% – e carga tributária altíssima. Então custo Brasil elevado. Tem que fazer reduzir custo do Brasil. Eu acho que está melhorando, não tem passe de mágica, mas está melhorando. O câmbio está competitivo, os juros estão em queda, juros futuros caíram mais e o imposto, com a reforma tributária, vai simplificar e acabar com acumulatividade. Ela desonera totalmente investimento e desonera a exportação. Essa é uma reforma que traz eficiência Econômica. Há estudo que mostra que o PIB pode crescer 12% a mais em 15 anos. Então ela é essencial, não é perfeita, porque teve lá algumas exceções, mas é um avanço muito significativo e o ministro Fernando Haddad deve encaminhar agora até o fim de março todas as propostas de regulamentação da reforma tributária.

Agora o que pode uma política Industrial ajudar na exportação? Somos campeões da exportação de commodities, produtos primários, soja, minério de ferro, petróleo bruto, carne, açúcar, milho, café. Nós precisamos exportar produto de valor agregado. Tem o fundo garantidor de exportação. A Embraer não existiria se não exportasse para o mundo, não tem como manter uma indústria vendendo só para o país, o mesmo com a indústria de defesa, não tem como vender só para o país. Como melhorar a exportação de produto Industrial? Faz acordos comerciais, o Mercosul estava isolado. Egito, Israel e Palestina, Agora entrou Singapura, mas nós temos que fazer União Europeia tem que ampliar esses acordos comerciais, eles são essenciais. Desburocratizar. Nós estamos simplificando tudo.  Exportação de frango para a União europeia, acabamos de ter uma boa notícia. Era papel o certificado de origem, custo de R$ 166 por dia. Desburocratizamos tudo, não paga nada nada e é tudo digital. O que levava nove dias sai em minutos. Isso acabou de ser implantado. Trabalho junto com os outros países. Exportação de frango para a China tinha antidumping desde 2019, de 17 a  34%. Caiu hoje : não terá mais o antidumping. Então conquistar mercado. CCT aéreo, você levava cinco dias para desonerar a carga, está desonerando em 24 horas porque a informação vem antes da carga chegar, então você desburocratiza.

 

Pergunta: Conteúdo Nacional não é repetir erro do passado? E aí começa a criar a barreira contra o produto importado e criar artificialismo, produção cara no Brasil. Que acaba encarecendo a indústria.

Resposta:  No mundo pós-Covid, todo mundo está protegendo o seu emprego, está protegendo suas empresas. Alguns de maneira escandalosa. A ideia de conteúdo nacional é muito excepcional e não é para proteger a empresa ineficiente. É para ajudar as empresas a terem competitividade internacional.

Vamos dar um exemplo. Quando começou lá atrás, a energia solar e eólica era muito cara. Precisou dar um empurrão nela. Hoje a energia é mais barata. Solar e eólica que é R$ 150 megawatt/hora, as grandes hidrelétricas R$ 200, pequenas hidrelétricas R$ 250, termoelétrica R$ 290, nuclear R$ 500. Então que era mais caro hoje ficou mais barato agora lá atrás cedeu incentivo para poder avançar. Aliás, essa área da indústria dele de sustentável é uma oportunidade para o Brasil fantástica.

A pergunta sempre foi:  onde é que eu fabrico bem e barato”. Agora é:  “onde é que eu fabrico bem barato e consigo compensar as emissões de gás de efeito estufa. O Brasil”. Então nós vamos ter uma oportunidade de atrair investimento fantástico, seja hidrogênio verde, seja biodiesel, querosene de aviação. Você vai ter que trocar a querosene do mundo inteiro dos aviões do mundo inteiro. Quem pode fazer? Então o presidente Lula com o presidente Biden  e o primeiro-ministro da Índia criaram aliança Global pelos biocombustíveis. Então vamos descarbonizar. Descaboniza com o carro elétrico, nós temos lítio no Brasil, descaboniza com o hidrogênio Verde. Nós temos energia solar eólica para fazer o hidrogênio a eletrólise com hidrogênio de baixo carbono e vamos descarbonizar com o bioetanol. Etanol, de cana, de milho,  óleo vegetal. Você tem inúmeras rotas tecnológicas.

O ex-presidente baixou de B13 para B10. Tinha 13% de biodiesel no diesel, ele baixou para B10.  Então aumentou a importação de diesel  dos Estados Unidos e as fábricas ficaram fechadas aqui no Brasil. Presidente Lula no ano passado aumentou em B10 para B12 e agora primeiro de março para B14, depois irá para B15. Você vai diminuindo o diesel, que é fóssil, é monóxido de carbono, é altamente poluente e vai por o bio. É  soja, mamona,  é dendê, óleo vegetal, é  gordura animal. A mesma coisa é gasolina, você vai aumentando o etanol. O Deputado Arnaldo Jardim é o relator da lei do combustível do futuro. Ele está ampliando ou etanol de 27,5 para 30%, você vai despoluindo, vai tirando combustível fóssil, vai melhorando. Não vai fazer em 24 horas. O  SAF ( querosene sustentável de aviação) você não vai trocar o querosene inteiro por óleo vegetal.

 

Pergunta: Vários sinais do velho pensamento do PT no governo atual, por exemplo. Porque mesmo que a Petrobras tem que tentar recomprar uma refinaria que foi isso que foi privatizada porque mesmo o governo tem que dizer quem é que vai ser o presidente da Vale, há vários sinais da velha tendência estatista do PT nos movimentos do governo. O senhor concorda com isso?

Resposta: Não vai ter nenhuma reestatização.

 

Pergunta: E o caso da Petrobras, o senhor gosta?

Resposta:  Nesse caso da Petrobras, eu não tenho muito detalhe. Não gosto porque você cria insegurança jurídica. Eu acho que uma das questões centrais para você atrair investimento é segurança jurídica, aliás, tem uma boa entrevista do Pérsio  Árida nos 30 anos da URV. E ele fala que a democracia é que traz estabilidade, a democracia te obriga está permanentemente prestando contas , ouvindo dialogando com isso não deixa a inflação voltar traz estabilidade é para o país.

 

Pergunta: O presidente Lula formou uma aliança, o senhor fez parte dessa aliança. Mas ele está governando mais para o para o PT tem pouca tem pouca frente e isso aí pode ter um curso político mais adiante porque a democracia permanece ameaçada. O senhor sabe disso então eu gostaria que você comentasse isso. 

Resposta: Eu tenho a convicção que o presidente Lula salvou a democracia. Porque quem defende a constituição, defende eleição, defende o povo, é democrata. O inverso disso é golpista.

O presente do Lula salvou a democracia. Se perdendo eleição eles tentaram golpe, imagine se tivesse ganho. Então isso é pior coisa que tem para a própria economia. As ditaduras suprimem a liberdade em nome do pão, não dão o pão que prometeram nem devolvem a liberdade que tomaram. Eu fui prefeito depois de deputado, o palácio dos Bandeirantes em São Paulo no governo Montoro, a grade ser derrubada no final do governo militar, inflação de 200% ao ano, hoje é 4%. Desemprego absurdo. Caos verdadeiro, quem fez reformas, o plano real modernizou o país e criou uma rede de proteção social, SUS.

Tudo feito na democracia. Mário Covas dizia que o sujeito pode ser um pouco mais gordo, mais magro, mais alto, mais baixo, um gosta mais do Estado, outro pouco mais de mercado, mas que tem um diferencial: é quem tem apreço pela democracia e quem despreza a democracia. Essa é a grande diferença.

Acho que o governo do presidente Lula tem avançado. Olha a luta pela reforma tributária, depois de 40 anos, foi aprovada no primeiro ano, aliás, eu defendo isso: reformas estruturantes têm que fazer no primeiro ano. Se você perdeu o primeiro ano, você tem mais dificuldade de fazê-la. Então você teve aprovação do arcabouço fiscal e teve aprovação da reforma tributária.

 

Pergunta: O senhor falou sobre democracia e sobre o golpismo, mas quem tramou contra a democracia conseguiu levar muita gente na rua, como fazer para é conquistar eleitores mesmo mais à direita do espectro político brasileiro?                                           

Resposta:  Na política você não obriga, você conquista. A questão econômica é central. O risco Brasil era 254 baixou para 130. Hoje é metade risco Brasil caiu pela metade. A inflação estava quase 6%. Baixou para 4,5%, dentro do teto da meta. A bolsa subiu. O dólar estava R$ 5,40 baixou para R$ 4,90, o desemprego caiu. Então os indicadores melhoraram e isso não deve fazer com que a gente se acomode. A tarefa de buscar eficiência tem que ser permanente, tem que fazer reforma, buscar eficiência, simplificar as coisas, desburocratizar permanentemente 24 horas. Agora precisa ter um olhar social porque moderno a liquidez é enorme sobra dinheiro no mundo e o mundo mais rico e o mundo mais desigual. Quem tem capital voa, quem não tem capital, só tem força de trabalho, vai ter mais dificuldade. Fiquei em Harvard em 2007 e as universidades americanas fazem muita prospecção, como é que é o mundo 2010, 2020, 2030, eu me lembro dos debates o mundo mais rico e o mundo mais desigual. Qual a consequência disso? A primeira é migratória, então você vê o Trump ganhando eleição nos Estados Unidos, dizendo aqui ninguém entra. Inglaterra saindo da União Europeia.

É uma combinação de três coisas: eficiência econômica, 24 horas temos que trabalhar nesse foco. Tenho procurado o máximo que eu posso ajudar o Haddad que está fazendo um bom trabalho. Segundo, uma rede de proteção social, você tem uma parte da população que terá mais dificuldade. Terceiro, Liberdade individual.

 

Pergunta: O senhor é um cristão, é católico e eleitorado evangélico é muito refratário ao presidente Lula e ao PT e ficou mais ainda. Eles acabaram se identificando com um outro grupo que tem ideias autoritárias. Então como fazer para dialogar mais com os evangélicos?

Resposta: Na realidade, teve muita fake news. “Olha o PT vai fechar as igrejas”. Nenhuma igreja foi fechada, as igrejas estava crescendo e é ótimo. Elas têm um trabalho de evangelização, um trabalho de levar a palavra de Deus. Seja no cristianismo, ou seja, o judaísmo, ou seja, o Islamismo ou todas elas. Ou até quem não tem religião. O estado laico. “Vai aprovar o aborto”. Aprovou nada. Tudo fake news. O que o governo está procurando fazer é melhorar a vida das pessoas diminui o desemprego. Dar oportunidade para o jovem, melhorar a educação brasileira começando pela base creche para a escola, a escola de tempo integral. Ensino técnico, não é pela cúpula. O MEC tinha acabado, o que tinha lá era home schooling. Isso é uma proposta racista que foi inventada no Estados Unidos pra crianças: ‘ tem negro na escola. Meu filho não vai na escola, vai estudar em casa’. Eu acho que nós avançamos muito na educação na saúde. Negacionismo, se nega a vacina. O Brasil tem dois e meio por cento da população do mundo e teve 10,5% das mortes por convite. Coisa negacionista, atrasada totalmente antiquada e não acreditar na democracia. Golpismo, saudade de ditadura. A democracia atrai investimento.

 

Pergunta: O senhor acha que a eleição municipal esse ano vai ser polarizada ou vão cuidar das questões locais? 

Resposta: Locais, se quiser misturar as coisas é um erro cada cidade vai discutir, quais os problemas da sua cidade. Quem são os candidatos, em quem eu posso confiar quem me traz esperança de melhorar o tema local. Claro que nas grandes capitais tem uma pitada política. Mas isso não é o fator decisivo, fator decisivo são os candidatos. Até porque os partidos estão enfraquecidos. Todos eles.  Com 30 partidos os partidos enfraqueceram.  Então é local. Não tem nada a ver com eleição estadual e nacional. Nada a ver. O povo separa muito bem. A eleição municipal é território. A cidade está bem cuidada, se o transporte funciona, serviços públicos, educação, saúde. A nacional é muito economia. Então é um equívoco achar porque ganhou eleição municipal, vai ganhar estadual e nacional.

 

Pergunta: O governo vai voltar a fazer navios, que já deu errado no passado? E para que dar dinheiro para as áreas?

Resposta: Vamos fazer justiça. O mundo inteiro pôs dinheiro nas aéreas na Covid. Nós não colocamos e não vamos colocar nada, um centavo, nada. Agora o mundo inteiro colocou dinheiro porque as pessoas não saíram de casa. A empresa que vive de transporte teve problema no mundo inteiro e se endividaram, tiveram prejuízo. Fomos uma das poucas exceções, o Brasil não colocou dinheiro e nem vai pôr dinheiro público. O que você tem é um fundo nacional para aviação, o Fundo Nacional, que não é do governo, que você pode financiar empresas para que ela consiga respirar e passar por uma fase que foi difícil. No ano passado foi muito bem. O problema é que você arrasta um endividamento para trás.

Não vamos pôr dinheiro em navios. Você tem uma pequena indústria, no norte de barcaças. O governo não vai pôr dinheiro na indústria naval, o que você tenha o fundo mercante que não é do governo é o fundo mercante. E que o mundo fala: “olha o navio vai precisar poluir menos nós precisamos trocar esse combustível do navio por algo que não polua, senão você vai ter problema na exportação dos seus produtos”. Então você pode com esse dinheiro que não é do governo que é o fundo da Marinha Mercante.

 

Pergunta: Tudo que é fundo é um dinheiro que vem do contribuinte o dinheiro não sai em árvore. O governo do PT já fez programa de construir navios e deu errado.

Resposta: Não tem governo empresário. O governo não vai construir navio, não vai fazer avião, zero zero zero. Não terá TJLP. Você tem financiamento a preço de mercado que é pegar o financiamento para você poder avançar. Deixa eu lhe dar uma boa notícia. Nós vamos ter um investimento recorde na indústria automotiva. Hoje já foram confirmados R$ 55 bilhões de investimento e falta ainda Toyota nos próximos dias. Nós podemos chegar perto de R$ 100 bilhões de investimento em várias rotas tecnológicas desde o carro elétrico puro, plugin, híbrido, montadoras chinesas, montadoras que já estão no Brasil. Tem duas chinesas chegando a BYD, a Gwm. Tem empresas já instaladas aqui todas investidas. Isso é a prova de confiança no Brasil. Aliás a indústria parou de cair, ela cresceu 0,2%. E acho que esse ano pode passar de 1%.

 

É fundamental a indústria você pegar aqui a nossa sala, tirando a água tudo é indústria é tapete, televisão. É a roupa, é a parede. É   fundamental você agregar valor, estar na vanguarda da Inovação da Ciência e Tecnologia para exportar. O foco é competitividade, exportação verde sustentável, descarbonização e inovação. Não podemos ficar para trás.

 

(Transcrição e edição Ana Carolina Diniz)


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