Entrevista

“Faltam profissionais para trabalhar com sustentabilidade”.

Seja como analista de sustentabilidade, consultor em grandes empresas ou dono do próprio negócio, há inúmeros caminhos de atuação para profissionais de ESG no Brasil. O mercado da sustentabilidade é um dos mais aquecidos.


 

Cleber Barbosa
Da Redação

 

Diário do Amapá – Professor, quais são então os caminhos possíveis de atuação profissional para quem deseja trabalhar com sustentabilidade, segmentação atualmente identificada pela sigla ESG?

Marcus Nakagawa – Os caminhos possíveis de atuação para quem trabalha com ESG no Brasil são vários. É possível trabalhar nas grandes empresas como analista de ESG, sustentabilidade e governança (além das posições de gerência, coordenação e supervisão). Alguns segmentos mais específicos, como o agronegócio e a indústria química, também costumam buscar por profissionais para lidar com suas questões ambientais. Mas também existe um mercado cada vez mais crescente de prestação de serviços em ESG. São os profissionais que trabalham com mensuração de carbono, por exemplo, ou os fornecedores de energia eólica e solar, que vem crescendo cada vez mais.

 

Diário – E como está o mercado de ESG para quem tem interesse em trabalhar nele?

Marcus – O mercado para profissionais de ESG está aquecido no Brasil. Existem muitas vagas abertas, que aumentaram com a pandemia. Isso principalmente porque os investidores e bancos têm buscado controles, normas e regras de ESG nas empresas para as avaliações de investimento e empréstimo. Ou seja: o capital está olhando o ESG como uma forma de risco. E, com isso, as empresas precisam ter interlocutores para que possam demonstrar, por meio dos seus relatórios, sites e projetos, suas atividades em ESG.

 

Diário – Você sente que a oferta de profissionais ESG tem atendido à demanda do mercado, ou ainda faltam profissionais para a quantidade de vagas abertas na área?

Marcus – Conversando com colegas e pessoas da área, percebemos que, realmente, faltam profissionais capacitados para trabalhar nessa área. Muitas vezes, é exigido não apenas competência acadêmica, mas também a experiência de mercado. E isso ainda não existe. Muitas empresas acabam recrutando de outras áreas ou treinando colaboradores internamente para o seu desenvolvimento pessoal dentro do ESG. É comum histórias de pessoas que vieram de áreas como RH e marketing, se capacitaram e foram para o ESG, uma vez que já conheciam a cultura empresarial. Raramente são contratadas pessoas de outras empresas. Por isso, realmente falta uma mão de obra qualificada e que tenha implementado efetivamente atividades e ações dentro da área.

 

Diário – O que profissionais que desejam trabalhar com sustentabilidade precisam ter? Quais as habilidades mais exigidas?

Marcus – A habilidade mais exigida pelo mercado é a experiência: ter feito, implementado projetos de ESG e relatórios. É muito importante a experiência laboral, mesmo que seja em uma pequena ou média empresa. Mas também é importante ter uma certa resiliência, uma vez que os departamentos são bem enxutos e o trabalho costuma ser árduo neste setor. Outra competência muito importante é a organização e o bom relacionamento. Um profissional de ESG precisa se relacionar muito com todos os departamentos da companhia. É necessário um conhecimento muito profundo dos vários departamentos para poder buscar as informações e trabalhar em parceria.

 

Diário – E como está o cenário da economia verde? É um mercado no qual profissionais ESG também podem atuar?

Marcus – A economia verde está ligada às questões de energia, de reciclagem e ao carbono e é muito promissora. É uma área que deve ter grandes investimentos nos próximos anos e isso também é propício para quem quiser empreender e montar seu negócio. Existem muitas oportunidades, brechas e necessidades de serviços, tanto para as grandes empresas, quanto para o governo. É, realmente, um segmento que vem crescendo. Existem vários estudos mostrando vários bilhões de investimentos e que as pessoas vão trabalhar com esse tema sendo um processo bem transformador da economia brasileira. E o ESG e a sustentabilidade vão ser fundamentais em todos esses processos.

*Segundo o especialista, a pandemia foi responsável por impulsionar o crescimento de vagas para trabalhar com sustentabilidade e a um movimento dos investidores e instituições financeiras, de considerar o ESG critério para decisões de investimentos e empréstimos.

 

Perfil

Marcus Nakagawa é publicitário, professor e empreendedor social brasileiro especialista em sustentabilidade, ESG e terceiro setor

Perfil e trajetória profissional

– Marcus Nakagawa é palestrante de Sustentabilidade, Empreendedorismo e Estilo de Vida.
– Idealizador, fundador, ex-diretor presidente e atual conselheiro voluntário da Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável (Abraps) e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS).
– Doutorando em Sustentabilidade pela USP EACH.
– Mestre em Administração e graduado em Marketing e Publicidade.
– Fundador e ex-sócio da iSetor, empresa de gestão administrativa e financeira de projetos para empreendedores empresariais, culturais e sociais.
– Foi gerente de Sustentabilidade para fornecedores da Philips para América Latina.
– Diretor na La Fabbrica do Brasil, agência italiana de projetos culturais e sociais;
– Foi coordenador do Programa Social Nutrir, na Nestlé.
– Autor dos livros “Marketing para ambientes disruptivos”, “Administração por competências” e “101 dias com ações mais sustentáveis para mudar o mundo”,
– Prêmio Jabuti na categoria Economia Criativa em 2019.

 

 

 


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