“Tivemos um desempenho melhor do que em 2020”
Em entrevista concedida ao portal Metrópoles, parlamentar analisou o resultado do PT nas eleições deste ano, falou da necessidade de uma melhor comunicação com a sociedade e sobre a votação da reforma tributária
Fonte: GABRIEL BUSS e MARIAH AQUINO (METRÓPOLE)
Edição: CLEBER BARBOSA (DA)
Senador, a eleição do presidente Donald Trump nos Estados Unidos, como o senhor avalia essa vitória? Significa um alerta para o PT em 2026?
Humberto Costa – Olhe, naturalmente que todos nós recebemos com uma certa surpresa, porque se esperava que fosse uma eleição mais disputada e que o desempenho do Partido Democrata fosse melhor. Também foi recebida com uma certa apreensão, não por algum tipo de suposição, mas até pelas afirmações, promessas e os compromissos que o agora presidente Trump assumiu diante do país e diante do mundo. Obviamente que o resultado lá tem que deixar para todos nós um sinal de alerta. Porque até bem pouco tempo o Donald Trump poderia ser considerado uma espécie de acidente na história. A eleição dele de 2016 e o governo de 2017 a 2021 foi na verdade, visto como um acidente de percurso. Mas agora, com a vitória que ele teve, com o poder do qual ele desfruta, porque ele vai ter a maioria na Câmara, a maioria no Senado já tem a maioria dos integrantes da Suprema Corte.
Diário – E o Congresso?
Humberto – Então, todas as condições para fazer o governo que ele queira, como queira, ele tem hoje. Então realmente se vê com preocupação. E o alerta surge para nós, porque passamos por um governo com características muito semelhantes e a vitória do presidente Lula foi entendida por nós e por muita gente como um ponto final na experiência da extrema-direita no Brasil. Já vimos que não é bem assim, mas podemos agora ter a convicção de que ela pode voltar, seja com o próprio Bolsonaro, se ele conseguir ter a condição de elegibilidade, seja por meio de alguém que represente esse projeto. Não que nós estejamos preocupados que Lula vá perder a eleição, não. Eu acho que isso aí seria uma avaliação muito precipitada e fora daquilo que nós estamos assistindo. Mas sem dúvida, nós temos que nos preocupar que não é uma hipótese inteiramente descartada.
Voltando aqui para o Brasil, o PT nas eleições municipais deste ano teve um desempenho um pouco aquém do que era esperado. Como o senhor avalia e o que é preciso fazer daqui para frente?
Humberto – Veja, o PT, nós traçamos quando iniciamos o trabalho do grupo de trabalho eleitoral, um objetivo. Muita gente cobrava de nós, especialmente a imprensa, cobrava quantas prefeituras o PT vai fazer e nós optamos por fazer uma estabelecer uma estratégia em que nós não iríamos definir uma meta numérica. O que nós decidimos é que queríamos e tivemos um desempenho melhor do que aquele que nós tivemos em 2020, que deve ter sido e foi o fundo do poço para nós nas eleições municipais. Então, se nós tivéssemos estabelecido uma meta de 300 prefeituras e fizéssemos 299, todos iriam dizer que o PT não cumpriu a sua meta. Então nós saímos aí de 183 prefeituras para mais de 245 nessa eleição. Eu sou meio ruim de gravar os números. Tivemos a oportunidade de disputar o segundo turno em quatro capitais. Em 2020, nós disputamos em uma e não ganhamos e nessa nós fizemos uma capital.
O mandato da presidente Gleisi à frente do partido termina no final do ano. Muito se fala sobre um nome do Nordeste ou do próprio prefeito de Araraquara, Edinho Silva. O senhor tem alguma preferência interna?
Humberto – Primeiro, nós temos que fazer aqui um enorme reconhecimento à presidenta Gleisi. Ela foi uma gigante na condução deste partido. Conduzir o partido nos momentos mais difíceis da nossa história, no período da prisão do presidente Lula, de todo aquele processo que atingiu inúmeros integrantes do partido e que hoje o próprio Supremo Tribunal Federal tem declarado a ilegalidade daquelas perseguições que foram feitas contra várias pessoas. Ela segurou muito bem. Ela também comandou o retorno do partido à Presidência da República com a eleição do presidente Lula em 2022, e conduziu a esse processo todo de recuperação do partido, que não é um processo fácil. Quem passou por tudo o que o PT passou. Nós estamos hoje num processo de reestruturação, de reconstrução. E ela fez isso muito bem.
Diário – E sobre erros de percurso?
Humberto – E eu quero dizer que não considero que os problemas do partido sejam os problemas da direção partidária. Lógico que nós temos fragilidades, temos limitações. Muitos quadros do partido hoje já não conseguem mais ter a mesma militância ou foram tragados por essa perseguição histórica a qual o PT foi submetido. Mas eu acho que a direção não é a responsável pelos problemas que hoje nós temos.
Perfil
Humberto Costa – Senador da República pelo Partido dos Trabalhadores (PT-PE). Ex-ministro da Saúde, atual presidente da Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal.
Perfil e trajetória
– Nascido em Campinas (SP), Humberto Sérgio Costa Lima mudou-se com a família aos seis anos de idade para Recife (PE).
– Aos 17 anos, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e, após tornar-se médico, formou-se no Jornalismo.
– Neste período de vida estudantil, o País vivia sob a ditadura militar, e Humberto mudou-se definitivamente da política, atuando no movimento que criou o Partido dos Trabalhadores em Pernambuco.
– Em 1990, elegeu-se deputado estadual e destacou-se por ter criado e presidido a Comissão de Direitos Humanos, além de dirigir a Comissão de Saúde.
– Quatro anos depois, elegeu-se deputado federal, sendo reconhecido pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) como um dos mais influentes do Congresso Nacional.
– As realizações de Humberto chamaram a atenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o chamou a assumir o Ministério da Saúde no início de seu primeiro governo.
– No Ministério, Humberto implantou programas como o Brasil Sorridente, a Farmácia Popular e o SAMU, levando o programa pernambucano para todo o Brasil.
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