“O que nos encanta mesmo são os atrativos naturais, que Deus nos presenteou”
A última entrevista concedida pelo ex-deputado Manoel Mandi ao Diário do Amapá, há alguns anos, está sendo reeditada neste domingo e pode ajudar a entender um pouco a personalidade dele, objeto de muitas homenagens durante a semana, quando faleceu em consequência de um infarto. Jipeiro, filântropo, empresário e visionário, alguém que se dizia apaixonado pelo Amapá, estado que o acolheu nos idos dos anos 1980, quando aquele retirante nordestino foi atraído pelo Projeto Jari. A trajetória de Manoel Mandi, que aprendeu a dirigir em um velho Jeep de um tio sempre registrou sua paixão pelo volante e pelas causas sociais. Como presidente do Jeep Clube de Macapá deu visibilidade ao turismo e os atrativos naturais do Amapá e projetou que o Estado possa abrigar um grande evento do segmento Off-Road.
Diário – Quando o senhor era político foi filiado ao Partido Verde (PV), muito ligado às questões ambientais. E agora, é verdade que todo jipeiro é um ambientalista de carteirinha?
Manoel Mandi – É sim, porque o que nos encanta são as belezas naturais. A gente curte as cidades por onde passamos, mas o que nos chama atenção mesmo são as belezas naturais, aquelas que Deus nos presenteou, entendeu? Em nossas andanças damos uma contribuição muito grande para o Estado do Amapá. Certa vez estávamos na Cachoeira de Santo Antônio e identificamos e denunciamos a pesca predatória do acari ornamental, uma espécie de peixe que só existe lá e que por isso até recebemos ameaças, foi muito difícil. Esse peixe é que faz o controle ecológico entre as espécies, pois consome todo o lodo das pedras, que faz mal às demais espécies.
Diário – Essa espécie estava ameaçada?
Mandi – Sim, pois eles estavam tirando de lá numa pesca predatória, um negócio tão rentável que eles usavam até um helicóptero. Eles pagavam R$ 1,50 para o caboclo da região e era revendido a R$ 75 pela internet.
Diário – E esse outro lado de ser jipeiro, como piloto profissional, como aconteceu?
Mandi – Essa é uma coisa interessante, pois para mim foi no momento certo estar ao lado de pessoas certas. Foi através do Rally Cerapió, em janeiro de 2012 que eu conheci o Cordão [Erlich Cordão] que além desse evento que ele organiza lá, fiquei sabendo num almoço que ele também é do Rotary Club. Já tinha chamado a minha atenção que todas as cestas de alimentos arrecadadas durante a prova terem sido doadas para esse clube social.
Diário – É que o senhor também é Rotariano, é isso?
Mandi – Sim, sou apaixonado pelo Rotary Club, mas ele é fanático. Então vimos essa e outras afinidades, como o fato de também ser ligado à Apae, entidade que cuida de crianças excepcionais.
Diário – Depois disso o Cordão esteve aqui, não é mesmo?
Mandi – Sim, ele veio lançar o rally do próximo ano, o Piocerá 2013, que começa no dia 20 de janeiro em Teresina, com a vistoria técnica, seguida de exames médicos dos pilotos, no dia 21 e a largada no dia 22. A prova é muito puxada e quem não estiver bem de saúde não irá competir pois vamos enfrentar três grandes alturas, em Pedro Segundo e também a Serra da Ibiababa e a Serra de Baturité.
Diário – Mas nessa vinda dele ao Amapá ele identificou alguma viabilidade ou possibilidade de realizar um evento desses futuramente aqui no Amapá?
Mandi – Ontem [sexta-feira] mesmo ele me telefonou a respeito do credenciamento dos jornalistas daqui que irão cobrir a prova, aliás, a primeira vez que vamos levar uma equipe de imprensa para lá. Mas respondendo à sua pergunta posso dizer que o Cordão ficou apaixonado pelo Amapá e disse que devemos vender a Amazônia, o produto mais nobre e cuja marca desperta a curiosidade do mundo inteiro. Ele me disse que na primeira semana de fevereiro estará aqui em Macapá para conversar com a gente, ser recebido pelo governador e pelo prefeito, pois a ideia é em 2013, quando o evento dele completa 25 anos, discutir a realização de um evento aqui.
Diário – A gente tem notícia que ele gostou até da sonoridade de outra marca que é só do Amapá, o Meio do Mundo.
Mandi – Ele identificou aqui todos os ingredientes para se fazer aqui um evento internacional e não apenas uma prova nacional.
Diário – E para a prova que o senhor vai participar agora, como campeão brasileiro, o que muda das participações anteriores?
Mandi – Nós estamos levando uma equipe de televisão, com dois repórteres e dois cinegrafistas, além de um assessor de imprensa para coordenar o envio de textos e fotos para a imprensa do Amapá e pela primeira vez estamos levando uma equipe de apoio, com dois mecânicos e peças de reposição, inclusive um carro reserva.
Diário – E agora com patrocínios oficiais, é verdade? Como as coisas mudam para um campeão…
Mandi – Isso mesmo, inclusive agora nós vamos levar dois Troller, pois eu nem sabia que podia ter carro reserva. Vi isso na Transbahia, quando vi um competidor teve o carro quebrado e ele simplesmente trocou de carro e continuou a prova. Mas sobre os patrocínios nós já tivemos a confirmação de uma concessionária local, a Automoto, revenda Volkswagem no Amapá, que vai fornecer uma picape Amarok para ser o nosso carro de apoio lá.
Diário – Um processo de profissionalização nunca visto por aqui heim?
Mandi – Exatamente, isso é muito bom, até mesmo porque antes a gente ficava praticamente só por lá, sem ter nem com quem conversar, trocar ideias. Agora não, vamos levar pessoal de apoio, amigos mesmo até para descontrair depois de um dia de prova.
Diário – A gente soube que era difícil para vocês conseguirem até fotos sobre a participação no evento, é verdade?
Mandi – Verdade, pois para a gente é difícil conseguir tirar fotos durante a prova. Mas é bom que se diga que a imprensa nacional não faz o mesmo trajeto dos pilotos, segue outro roteiro que é possível fazer imagens da competição para não correr risco de envolvimento em acidentes com os competidores. Então estamos muito felizes com toda essa mobilização e o próprio Cordão me disse isso, quer estreitar ainda mais as ligações com o Amapá. E disse mais: esse evento aqui no Amapá só não sai se a gente não conseguir conversar com as autoridades locais, pois não se trata nem de buscar dinheiro, pois isso os organizadores têm onde ir buscar é só a decisão política de ajudar e autorizar o evento.
Diário – Nas poucas imagens disponíveis sobre a prova em que o seu carro aparece, no filme oficial do Cerapió, chamou a atenção o fato do seu jipe ter uma bandeira do Amapá tremulando na antena.
Mandi – E ela vai continuar aparecendo, pois será a mesma bandeira que uso em todas as outras competições.
Diário – Ela dá sorte para o senhor?
Mandi – Ela demonstra o orgulho de ser daqui e o amor que tenho por esta terra abençoada que me acolheu como filho.
Perfil…
Entrevistado. O empresário Manoel Gomes de Souza, ou simplesmente Mandi, nordestino de origem humilde e que chegou ao Amapá sonhando virar caminhoneiro da Jari Celulose. Depois foi taxista, dono de uma pequena frota e depois de um posto de gasolina. Virou popular e entrou para a política. Foi deputado estadual pelo PV (Partido Verde) por dois mandatos. Apaixonado desde a adolescência pelo Jeep, carro com o qual aprendeu a dirigir, ajudou a fundar o Jeep Clube de Macapá e foi seu primeiro presidente. Dedicou-se a estudar a navegação por GPS e passou a competir em provas de regularidade. Sagrou-se campeão brasileiro de Rally, categoria Graduados, em 2012. Faleceu na última quarta-feira, aos 58 anos de idade. Deixa esposa e três filhos.
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