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Outubro Rosa e eu…

É a hora de preparar o terreno para o próximo ano. As mulheres se ocupam do jardim, do pomar e da horta, o que aqui é uma tradição. Muitas são professoras, funcionárias públicas ativas e aposentadas.


Veneide Cherfen*
Articulista

Outubro chegando ao fim cumprindo a sua tarefa. É Outono no Hemisfério Norte. As árvores se despem das folhas verdes vestidas pela Primavera e embelezadas com o brilho do sol do Verão, dando lugar a tons amarelos matizados com vermelho ou marrom num espetáculo sem igual. Em suas máquinas, os agricultores aqui no Norte já colheram as batatas, as beterrabas, o trigo, o milho, as ervilhas, o linho… Trabalham de sol a sol na corrida contra o tempo ajudando-se em mutirões na colheita. O proprietário é seu próprio patrão.

É a hora de preparar o terreno para o próximo ano. As mulheres se ocupam do jardim, do pomar e da horta, o que aqui é uma tradição. Muitas são professoras, funcionárias públicas ativas e aposentadas.

A vida continua. A faina agrícola segue seu curso. O que muda de ano para ano é a rotação de culturas que possibilita diminuir a exaustão do solo. A vida continua para mim também e, cada vez que lembro disso, agradeço a Deus por me permitir fazer parte de toda a beleza que ela representa. Cada vez que o Outubro Rosa passar pela minha vida, lembrarei que fiz parte dessa imensa população atingida pelo câncer. A monoterapia com Avastin (Bevacizumab) ainda não havia terminado e teve que ser suspensa. Minha pressão arterial não suportava mais seus efeitos. Foram 14 meses de tratamento ao todo, incluindo cinco sessões de quimioterapia. “A Senhora agora é uma pessoa normal. A Senhora está boa”. A confirmação da médica só fez efeito em mim quando atravessei o hospital Leonard da Vinci saindo daquela última consulta com a oncologista no início do mês. Olhando as pessoas que aguardavam o tratamento ou uma consulta de controle eu continha as lágrimas que insistiam em escorrer pelo rosto ao imaginar como estaria cada uma delas. Se teriam a mesma chance que eu estou tendo. E até, se essa doença voltaria um dia e eu tornaria a me sentar naquela sala de espera aguardando a enfermeira vir chamar para o tratamento. Não caí em depressão na pós-cirurgia como receavam minhas amigas francesas. Assim que pude, voltei ao esporte. Mas nessa última visita médica naquela manhã, a minha ficha caiu. O fantasma do câncer estará sempre me lembrando dessa fase da minha vida. Naquela manhã, dirigi o carro de volta para casa em lágrimas pois, só aí me dei conta do perigo que passei e que vencemos! Sim, vencemos. Porque esta vitória representa a dedicação de várias pessoas: do meu marido, que sofreu mais do que eu; da equipe médica que me operou ano passado, da oncologista que me acompanhou durante o tratamento inteiro, profissional muito responsável que só sai do hospital no fim da tarde, depois que atender o último paciente.

Outubro Rosa. Seja bem-vindo sempre! A campanha de conscientização e prevenção do câncer deve estender-se também à parte que a mulher tem de mais íntimo e que lhe proporciona ser mãe: os ovários.

O câncer atinge a população do mundo inteiro. E o que comemos influencia muito. O Brasil precisa adotar uma política mais séria de prevenção e de tratamento da doença em relação aos recursos que possibilitem a todos, sem exceção, serem tratados. Não se deve admitir a falta de medicamentos ou a exclusão de pessoas. O tratamento contra o câncer deve ser acessível a todos. Os protocolos devem ser seguidos à risca para obter-se bons resultados. Para o doente, é vital a certeza que o remédio esteja disponível no hospital e que a periodicidade de seu tratamento seja respeitada. O estresse da incerteza também mata. Aqui, pagamos um plano de saúde que não é caro. Todas as consultas, remédios, injeções, exames, etc., no que dizem respeito a esse tratamento, estão cobertos pelo plano.

Outubro Rosa sai deixando a porta aberta para Novembro Azul que está chegando. Mas fica o alerta: não esperem por uma campanha nacional. Cuidem-se sempre!

*Veneide Cherfen, amapaense, reside em Paris.


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