Mudança de cultura
Nos tribunais, a questão do aumento da violência contra a mulher se repete: 300 mil medidas protetivas em 2014 para 330 mil em 2015(crescimento de 10%).
Fátima Pelaes – Secretária Especial de Políticas para as Mulheres
Articulista
A violência contra a mulher no Brasil é problema que exige uma tomada de posição firme na sociedade. Os números assustam e revelam um país bem diferente do “brasileiro cordial” das discussões acadêmicas. As denúncias de violência contra a mulher saltaram de 52 mil em 2014 para 76 mil em 2015(aumento de 50%). Um percentual que pode ser traduzido por simples recrudescimento das hostilidades contra a mulher ou a consciência e coragem feminina de denunciar a hostilidade sofrida.
Nos tribunais, a questão do aumento da violência contra a mulher se repete: 300 mil medidas protetivas em 2014 para 330 mil em 2015(crescimento de 10%). No meio judicial, aliás, existe uma compreensão majoritária que só a punição não inibe a violência e seus efeitos deletérios. É preciso que os agressores participem de um processo reeducativo capaz de mudar na raiz a cultura machista carregada de violência. Foi o que demonstrou a reportagem levada ao ar pelo Fantástico (Rede Globo), neste último domingo, que contou com alguns dados fornecidos pela Secretária Especial de Políticas para as Mulheres (SPM).
Sem uma mudança radical na abordagem do problema, os números continuarão a contrariar todas as iniciativas -ainda que meritórias- colocadas em prática. É imprescindível atingir o âmago do problema, combater suas causas mais profundas para começar a colher resultados alentadores. Pela lei Maria da Penha, União, estados e municípios podem criar centros educacionais e reabilitadores. Uma iniciativa corajosa que foca o centro do problema – a consciência do agressor.
No Brasil, existem 19 grupos de discussão, formados por réus dispostos a mudar o comportamento violento. Cada grupo conta com psicólogos e orientadores e é formado por agressores que sejam réus primários e respondam por lesão corporal ou ameaça*(excluídos dependentes químicos ou estupradores). Além de serem enviados pela própria Justiça, podem ser indicados pela própria vítima da violência. A terapia vai do relato espontânea da violência cometida à assimilação de novos valores de convivência harmoniosa. A própria vítima pode ser acompanhada pelos orientadores.
Participar do grupo não significa redenção de todos seus integrantes, mas a experiência mostra pouca reincidência entre os agressores que aceitam a nova terapia. O que atesta a eficácia de um método de combate a uma violência cujos registros chegam a 405 casos/dia, num total de 148 mil casos/ano. Uma média de 5 reuniões/mês destinadas a mudar a consciência e a mentalidade de homens acostumados a usar da agressão repetida contra a mulher.
Enfim, uma terapia que tenta modificar a cultura de uma violência que mancha nossa civilização. Uma forma de evitar reincidência e educar dentro de novos parâmetros.
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