CLEBER BARBOSA
EDITOR DE TURISMO
A alta dos preços das passagens aéreas tem feito muita gente procurar a agenda e buscar os contatos de algumas empresas que (ainda) operam viagens de navio na rota entre Macapá e Belém. Na verdade as viagens partem mesmo é de Santana, principal entreposto portuário do estado. O fato é que quem optou por resgatar uma antiga tradição dos períodos de férias escolares – julho e dezembro – diz não ter se arrependido, pois ainda tem um certo charme passar quase 24 horas singrando o rio-mar a bordo de navios munidos de camarotes, deck panorâmico, música ao vivo e até um bom e velho chuveiro para matar o calor.
O presidente do Sindicato dos Guias de Turismo do Amapá (Singtur-AP), Claudomir Facundes, diz que por algum tempo essas viagens foram deixadas de lado, devido às facilidades que a aviação proporcionou, com maior oferta de voos e, por consequencia, da diminuição do custo. “É claro que o avião é mais prático, afinal são apenas 35 minutos de voo até Belém, mas para quem está de férias ainda é uma boa opção de lazer viajar de navio sim”, diz o especialista.
Ele diz que especialmente turistas de outros estados e também estrangeiros ficam fascinados com a possibilidade de navegar pelo maior rio do mundo. “Sim, o Rio Amazonas ainda é a maior referência para os turistas, a fama dele corre o mundo e poder navegar nele é algo marcante para essa gente que vem de longe para ao menos molhar o pé no rio”, diz, descontraído, o guia de turismo.
Descontração
Se a principal desvantagem do navio em relação ao avião é o tempo maior para vencer o trajeto entre Santana e Belém, as empresas de navegação investem em entretenimento para seus passageiros, uma forma de ajudar a nem perceber as muitas horas. Boa comida, bar, camarote, deck com vista para a natureza, música ao vivo e muita área para atar uma rede são algumas dessas alternativas.
Nostalgia
Durante a semana, um grupo de amigos e familiares decidiu que nas próximas férias irão resgatar aquela velha tradição de viajar entre Belém e Santana de navio. “É que como não tínhamos faculdade aqui os jovens tinham que ir para outros estados estudar e na época de julho e dezembro todo mundo se encontrava nas viagens de navio”, recorda a professora Regina Nunes. Ela cita dois navios que pertenciam ao Governo do Território do Amapá, o Comandante Solon e o Comandante Idalino, como as grandes atrações das viagens de férias ou de volta pra casa.
Possibilidades para se modernizar a frota
Há quem acredite no resgate do setor de navegação, especialmente na rota para Belém. Gente como o empresário Caetano Soares Pinto, da Master Marine, uma das maiores fabricantes de iates de alto luxo em operação no país. Ele diz que o capital sempre corre atrás do mercado, então se o setor realmente passar por mudanças, logo virão também novas tecnologias. Ele lembra que houve iniciativas de colocar em operação embarcações mais modernas, chamadas de catamarã, na rota para Belém. “Essas embarcações são velozes, possuem sistema de segurança de navegação composto por equipamentos como radar, GPS, rádio VHF, AIS, que é um sistema de monitoramento similar ao de aviões, entre outros itens”, diz o especialista.
Mas os catamarãs acabaram não vingando por aqui, nos anos 90, pois o Rio Amazonas possui muitos obstáculos (naturais e artificiais), como lixo e restos de árvores, o que chegou a provocar alguns incidentes com as embarcações mais rápidas. Uma viagem nelas reduzia drasticamente o tempo para se chegar a Belém, de 24 para apenas 8 horas. Em outros lugares deu certo, como no Rio de Janeiro, em substituição às velhas barcas da travessia Rio-Niterói.
De rede, ouvindo música, dançando, ou simplesmente olhando o rio
O empresário Claudio Cavalcante, que possui uma fábrica de palmitos orgânicos de açaí em Santana, diz que a primeira vez que viajou de barco no Amapá foi no final da década de 80, numa viagem até o arquipélago do Bailique. Diz que colocou um estoque de fitas K-7 na bolsa e carregamento extra de pilhas para seu walkman. Foram inúmeras idas e vindas ao camarote, ao passadiço, ao banheiro, ao deck, enfim, verdadeira romaria para ver passar o tempo. “Enquanto isso os outros passageiros contavam piadas e outras histórias, conversavam a viagem toda e quando desembarcamos no destino estavam do mesmo jeito, enquanto eu estava morto”, diz, rindo e resignado Cláudio.
A partir de então, conta, passou a entender o espírito da coisa, conseguindo aproveitar muito mais a paisagem, a comida e a companhia a bordo. “Hoje sou absolutamente apaixonado por viajar de navio, de barco ou lancha, pois isso proporciona um contato único com a natureza intocada do Amapá”, diz o empresário, que costuma oferecer passeios do tipo ‘river-tour’ para amigos, clientes e investidores.
Custos – Já o empresário Olavo Almeida, que por muitos anos atuou na rota Santana/Belém com os navios da Souzamar, diz que embora o setor de aviação ande muito caro, consequencia do cancelamento de voos para Macapá, não é possível se afirmar que isso possa ressuscitar o mercado da navegação. “Os custos das embarcações são altos demais, especialmente com o combustível e a tabela marítima de salários. Como o comércio não está encomendando mercadorias como antes, não existe o frete de Belém para Santana”, diz o empresário, que complementa afirmando que “só passageiros não pagam os custos de uma viagem de navio”.
CURIOSIDADES
– O custo médio de uma passagem de navio para um passageiro que viaja de rede é de R$ 130;
– Já um camarote para quatro pessoas sai em torno de R$ 600 segundo o Singtur-AP.
– Atualmente as empresas que operam na rota entre Santana (AP) e Belém (PA) oferecem quatro viagens semanais na rota, ou seja, partidas e chegadas dia sim, dia não.
24horas
Tempo de viagem de navio entre Santana e Belém.
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