Bandidos praticam golpes contra pacientes da UTI do Hospital São Camilo
Familiares são contatados por telefone e induzidos a depositarem dinheiro para pagar supostos exames de urgência. Polícia civil abriu inquérito para investigar as denúncias. Há suspeita de que golpistas fazem partida de uma quadrilha que atua em todo o país
Vários pacientes da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital São Camilo e São Luís (HSCSL), localizado no bairro Santa Rita, foram vítimas de golpes aplicados por bandidos que provavelmente integram uma grande quadrilha que atua em vários estados brasileiros. O golpe consiste em exigir depósito imediato de certa quantia em dinheiro em contas bancárias para o pagamento de supostos exames para confirmação de agravamento no estado de saúde dos pacientes.
Algumas dessas vítimas acabaram por ceder à pressão psicológica dos golpistas; outras, no entanto, por buscarem informações para confirmar a necessidade do exame, junto aos respectivos médicos e mesmo com o próprio hospital conseguiram evitar a consumação do crime. Uma das tentativas teve como vítima a jornalista Mariléia Maciel (Foto), que postou nas redes sociais a denúncia e nesta segunda-feira (28) detalhou no programa LuizMeloEntrevista (DiárioFM 90.9) os momentos de tensão que ela passou na companhia dos familiares.
“A ligação foi feita de Macapá porque estava muito nítida, muito próxima, e a pessoa tinha informações que somente o hospital tem, do plano de saúde tem da minha mãe, o nome da responsável, que sou eu sou, e não foi só comigo, a maioria das famílias que têm parentes no São Camilo foram vítimas desse golpe, inclusive duas dessas famílias fizeram transferências, uma 1.430 reais, que era o valor que eles estavam pedindo pra todo mundo e outra de 500 reais, que era o que tinha disponível no momento; o ‘papo deles é muito bom, muito convincente, e e aliado à grande carga emocional, com um parente seu numa Unidade de Terapia Intensiva, vivendo entre sustos e esperanças as pessoas acabam caindo no golpe”.
Segundo Mariléia, a maioria das vítimas foi contatada no último sábado (26), logo após o horário de visita: “Tinha acabado a visita pela manhã e a caminho do hospital para casa eu recebi a ligação, com a pessoa se dizendo médico intensionista do São Camilo, chamando-me pelo nome e informando que acabara de chegar o resultado de uma cultura (exame), dizendo que havia sido diagnosticada hemorragia no fígado. Claro a gente fica assustada… Eu argumentei que havia acabado de sair do hospital e que ela havia melhorado. Do outro lado da linha a pessoa ponderou que diante do resultado da cultura era necessário fazer mais dois exames em caráter de urgência para evitar que hemorragia se alastrasse; esse argumento foi também usado com todas as demais famílias, praticamente no mesmo espaço de tempo; a pessoa disse que o plano de saúde (Geap) só poderia autorizar na segunda-feira, mas que poderia ser tarde demais, dizendo que se pagasse o plano de saúde faria o reembolso”.
A jornalista explicou que por muito pouco não caiu no golpe: “Foi esse mesmo o mesmo assunto com todas as demais famílias, mas eu tive um momento de lucidez no meio do desespero ao ver que o suposto médico ligava pra mim toda hora e insistia para fazer a transferência, chegou a fornecer numero da conta, passei a informação para a minha família, inclusive o número do celular; ele ficou insistindo muito, foi quando minha irmã minha disse para eu ligar para essa clínica, tentei, mas não consegui. Aí eu liguei para o médico geriatra da minha mãe e ele disse que se tratava de golpe, aconselhando-me a registrar ocorrência no Ciosp do Pacoval”.
De acordo com Mariléia Maciel, os bandidos agem com informações privilegiadas que podem ter sido ‘vazadas’ por alguém do próprio hospital, mas ela também não descarta ações de hackers: “Isso é muito preocupante porque nos pega em um momento de fragilidade, apesar de que o hospital avisa, alerta por ocasião da entrada do paciente para que a família não receba telefonemas pedindo dinheiro para pagar exames, mas a gente acaba esquecendo em um momento de desespero; minha mãe estava há 20 dias internada na UTI, mas a questão não é simplesmente o alerta, é como alguém da secretaria de segurança pública dizendo para não sair de caso porque pode ser assaltado, ou da secretaria de saúde alertando que não é pra adoecer porque pode morrer”.
Informações ‘vazadas’ do hospital
Para a jornalista, pessoas do próprio hospital podem ter repassado informações aos golpistas: “As pessoas que trabalham na UTI são muito sérias, responsáveis; os enfermeiros e os médicos têm um carinho muito grande pelos pacientes; quem convive ali dentro sente isso. Mas infelizmente, pelo menos até agora, a direção do hospital não se manifestou sobre o assunto; uma das enfermeiras pediu desculpas, disse que compreende, que todo mundo fica vulnerável, mas alguém tem que resolver; é necessário que a direção do hospital se manifeste. Não adianta alertar, a questão é que as informações saíram de lá de dentro; além repassou essa informação aos bandidos, ou o acesso se deu através de hackers. De qualquer maneira a direção do hospital tem que adotar providências para que a questão seja esclarecida”.
Conforme Mariléia Maciel informa, a polícia civil já está trabalhando no caso: “A informação que eu tenho que é que a polícia já está investigando, com base nas ocorrências registradas e nas contas bancárias fornecidas pelos golpistas; são várias contas, inclusiva a que foi repassada para mim é de Cuiabá (MT); inclusive eu soube ontem (domingo) que eles agem em várias cidades, em todo o Brasil, tanto que eu fiz uma postagem no Facebook que já teve mais de 1 mil compartilhamentos, a maioria dizendo que já foi tema na imprensa nacional, e acontece frequentemente em todo o país. Como eu já disse, a equipe técnica do hospital, os médicos, são maravilhosos, as pessoas da UTI estão acima de qualquer suspeita; o que tem que ver o administrativo e descobrir como essas informações privilegiadas saem de dentro do hospital. Mas a polícia já está apurando”, finalizou.
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