Chelala diz que candidatura de Davi é a 3ª via para acabar com alternância no governo do Amapá
Presidente do Partido da Pátria Livre (PPL) no estado, o economista e professor da Universidade Federal do Amapá (Unifap) Charles Chelala concedeu neste sábado (28) entrevista exclusiva à bancada do programa Togas&Becas (DiárioFM 90,91), composta pelos advogados Helder Carneiro, Wagner Gomes e Evaldy Mota. Coordenador político do senador Randolfe Rodrigues (REDE), Chelala analisou o quadro político no estado para as eleições de 2018 e falou sobre o próprio partido, que tem como embrião o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), batizado com esse nome em alusão à data em que as forças bolivianas capturaram Che Guevara, e que passou a ser importante braço desarmado para a reconstrução da democracia brasileira.
Pergunta: O PPL é um partido político novo, mas teve como embrião o MR-8, do qual o senhor foi militante. O senhor poderia nos falar um pouco sobre esse movimento?
Resposta: A histórica do MR-8 é muito interessante porque surgiu com um grupo estudantes dissidentes da então Universidade da Guanabara, que participou da ação mais importante de resistência ao governo militar que foi seqüestro embaixador americano no Brasil na época, Charles Elbrick. A Luta armada nunca foi opção do MR-8, mas sim a centralidade na luta de massa, luta popular, luta política; existiu um braço armado que durou quatro anos, mas houve a opção pela luta política para a implantação de uma republica nacional popular e democrática.
Pergunta: Mas antes do PPL o MR-8 optou pelo PMDB para fazer a militância partidária…
Resposta: O MR-8 buscava uma aliança de amplos setores populares, trabalhadores e empresários nacionais, e o caminho escolhido na época era o único possível, o MDB e, após o seu sucessor, o PMDB, mas depois passou a ser impossível por causa da mudança de rumos do partidos, o que nos levou a continuar na trincheira política através de um partido que agregasse de fato a essência do movimento, então criamos o PPL em 21 de abril de 2010, dia consagrado a Tiradentes, o primeiro mártir da independência.
Pergunta: Como o senhor avalia a performance do PPL em eleições no Amapá?
Resposta: O PPL participou de sua primeira eleição em 2012, mas nós assumimos a Executiva Regional do partido no Amapá em 2015 e tivemos um desempenho extraordinário no estado, e agora temos um prefeito, o professor Dudão, em Mazagão, um vereador em Macapá, o André Lima, que está afastado do mandato por conta de sua nomeação para a CTMac (Companhia de Trânsito de Macapá), uma em Mazagão, a vereadora Verônica, e outro vereador em Pracúuba, o Elemar. Além disso nós temos uma aliança quase de irmandade com o partido REDE e eu sou coordenador político do senador Randolfe, aliança esta muito frutífera, tanto que reelegemos o prefeito da Capital. Como se vê, o PPL começou muito bem a sua trajetória no estado.
Pergunta: A menos de um ano das eleições, o PPL impõe veto a coligações com determinadas siglas, como acontece com alguns partidos de esquerda?
Resposta: O estatuto do PPL se fundamentou no modelo antigo, muito diferente da REDE, e aqui não vai nenhuma crítica, é apenas um exemplo; o PPL não impõe nenhum tipo de proibição, o que me permite chegar à direção nacional e argumentar que para combater a oligarquia que se mantém no Poder no Amapá eu tenho que fazer uma ampla aliança com partidos de direita, como o DEM e o PSDB, de forma bem justificada e demonstrada eu convenço e eles acatam.
Pergunta: Qual é a posição do PPL com relação à engenharia política que vem sendo articulada pelo PSB para agregar numa amplia coligação os partidos de esquerda para a disputa das eleições de 2018?
Resposta: Se realmente fosse articulada uma aliança de partidos de esquerda o PPL seria o número um. Mas vou ser bem claro, na eleição de 2012 o PPL fez parte da coligação de dez partidos que reelegeu com muito orgulho o prefeito Clécio; eu servi à prefeitura de Macapá como secretário de governo em 2012 e 2013, quando o senador Randolfe me convidou para retornar à coordenação do mandato dele. Há proibição nacional do PSOL se coligar com partidos de direta, era o PSOL que estava na cabeça; além de campos de esquerda tinha também partidos de direita na coligação, como o Democratas (DEM), que é o partido da vice prefeita Telma Nery, e outros. Não houve nenhum tipo de problema; no PPL a gente gosta de reunir para debater, à moda antiga, as decisões são tomadas pela direção do partido após ampla discussão, e se há divergência a maioria se abraça. Eu defendi na Executiva Nacional que o projeto político mais avançado para resolver os problemas do Amapá é o encabeçado pelo senador Randolfe e pelo prefeito Clécio, que inclui uma ampla aliança de partidos nesse processo.
Pergunta: Existe alguma possibilidade do PPL apoiar o grupo do governador Waldez ou do senador João Capiberibe?
Resposta: Provavelmente não. A construção da aliança que fizemos sob a direção e a coordenação do senador Randolfe vem de muito tempo. Em 2010 ele resolveu marchar com o grupo apoiando Lucas Barreto, adotando a máxima de Lênin que defende “flexibilidade na tática, mas firmeza nos princípios”, e ele (Randolfe) nunca mudou uma só vírgula da sua linha política. Nesses dois grupos citados temos de fato certa proximidade com o PSB do senador João Capiberibe; inclusive em uma oportunidade, a cerca de um mês eu tive uma conversa com governador Camilo e fomos convidados para compor essa frente ampla, mas me parece que ele pensa outro caminho que tende ser ao isolamento. Ele até convidou o senador Randolfe para ser o candidato ao governo, mas colocamos que o senador é candidato a reeleição, e mais do que isso, nós não vamos abrir mão do que construímos durante quase um déecada para voltar ao isolamento… Não tem condição nenhuma sob o ponto de vista político e ideológico, mas queremos contar com o PSB no arco de aliança abrindo mais as suas perspectivas.
Pergunta: Colocar Randolfe e Capiberibe numa só chapa para concorrer ao Senado não seria muito arriscado para um deles de fora em 2018?
Resposta: Eu até acredito e temos números mostrando isso, que a melhor opção para a própria reeleição do senador Capiberibe, e seria bom que ele retornasse ao Senado, seria estar numa chapa conosco. Mas, enfim, ele também já afirmou que ele não se sentiria confortável numa aliança tão ampla como essa, além de haver receio de que não se faz dois senadores numa coligação, mas isso não é fato, tanto que aconteceu nas últimas eleições, com e do Randolfe e do próprio Capí.
Pergunta: Então apoiar o senador Davi ao governo e a reeleição de Randolfe já é prego batido, ponta virada para o PPL?
Resposta: O PPL ainda não realizou a sua convenção. Temos um grupo político vitorioso na ultimas eleições e conta com uma série de partidos que não gostaríamos de perder, mas sim conquistar outros, porque na política quanto mais amigos, menos inimigos se tem. É importante juntar, e nesse projeto político estão incluídos REDE, PPL, PSOL, PV, PSDB, DEM e até o PSC, o Patriota do Promotor Moisés, e esse conjunto de partidos tem como candidato ao governo o senador Daví, do DEM, que é um partido com o qual temos muitas divergências e no campo nacional são poucas as questões nacionais que nos identificamos, mas quando é para trazer recursos e projetos para o Amapá nós atuamos unidos, como por exemplo, na liberação de R$ 30 milhões para o Hospital Universitário da Unifap, que é a única grande obra do governo federal que vem andando no pai; eu vi a luta de todos os membros da bancada federal, sob a coordenação do senador Daví, que é um obstinado. Quando é necessário morder é o Randolfe que assume a dianteira, mas para negociar é o Daví, por isso eu não tenho nada contra ele ser o candidato ao governo apoiado pelo PPL.
Pergunta: Se essa aliança de esquerdas que está sendo articulada pelo PSB, com Randolfe e Capiberibe saindo candidatos ao Senado, como ficaria o relacionamento político com o Promotor Moisés, considerando que o apoio dele ao prefeito Clécio no 2º turno ficou condicionado ao compromisso de ele ser candidato ao cargo?
Resposta: Em 2010 na chapa do Lucas ao governo só tinha um candidato ao Senado, que foi senador Randolfe, não tinha dois candidatos; na chapa do Camilo era o João Capiberibe e o Marcos Robertos; na chapa do Pedro Paulo tinha o Waldez e o Papaléo. Eu não confirmo a existência desse compromisso com o Promotor Moises, mas vou fazer todo o esforço possível para manter o Promotor Moises nessa coligação.
Pergunta: O senhor acha que o aumento da violência a partir do final da era Barcellos é falta de gestão dos grupos que se alternam no Poder desde então?
Resposta: Eu não gostaria de ser indelicado com o governador Waldez e sua equipe, onde temos vários amigos, mas o maior peso da crise se abate sobre as prefeituras. Em 2012 no gabinete da secretaria de governo da prefeitura de Macapá nós avaliamos que a situação em 2013 seria ruim, pior em 2014, e mais pior ainda em 2015. Nós cortamos a grande maioria de cargos comissionados e depois reduzimos os salários dos comissionados; o quadro de gestão da prefeitura de Macapá foi muito forte, tão forte que quase custou a reeleição do prefeito Clécio, que no final de 2014 amargava rejeição altíssima por causa das medidas que ele teve que tomar, e sem parcelar salários, como o governo está fazendo. Tenho pessoas muito próximas no governo, mas tenho que dizer que eles não levaram com seriedade a crise, e por isso foram vários anos de muita dificuldade, mas agora começam a aparecer sinais de recuperação.
Pergunta: Eventual candidatura do senador Randolfe ao governo está descartada?
Resposta: Eu acho que o Amapá e o país não podem prescindir do senador Randolfe. Nesse momento estamos construindo a candidatura dele à reeleição, esse é o nosso projeto. Não tenho duvida que em algum momento ele venha a ser governador do estado, mas não será neste momento.
Pergunta: Colocar o Capí na cabeça de chapa nesse grupo seria destruir todo trabalho de uma década, como o senhor já disse, mas o apoio à candidatura de Daví também não teria o mesmo impacto? Ele já sentou, conversou e está bastante consciente do que vai significar para esse projeto eventual eleição dele ao governo?
Resposta: É importante lembrar que o Daví apoiou o Clecio no segundo turno em 2012, estivemos juntos e apoiamos a candidatura dele ao Senado em 2014, e em 2016 estivemos juntos do princípio ao fim, trabalhamos juntos há algum tempo, e seguramente sendo eleito governador ele vai ter todo um trabalho para primeiro construir estruturas de gestão e ações de infra-estrutura no estado independentemente de matiz ideológica. E esse vai ser um trabalho de todo mundo junto fazendo um pacto pelo Amapá.
Pergunta: Faz mais de 20 anos da transformação do Território em estado e não temos um porto que possa escoar todo tipo de produção, a BR-156 não foi concluída, enfim, absolutamente nada foi feito, muita gente fala que o Amapá está se desenvolvendo, mas é dependente crônico do contracheque…
Resposta: Isso é meu foco de estudo. Fiz mestrado na Unifap, tive a honra de ser da primeira turma; cheguei a 21 anos no Amapá e eu sempre ouvia que a economia daqui era a do contracheque do serviço público. Criei o Índice de Magnitude do Estado da Economia que transformei em livro, cuja edição de 1 mil exemplares esgotou rapidamente. A maior presença na atividade econômica do Centro-Oeste, por exemplo, é o agronegócio, enquanto que no Amapá é o serviço público. Exatamente por isso quando a atividade comercial caiu 16% em 2016, a queda no Amapá foi de 5%; foi uma economia de guerra, de bombardeio intenso, com o parcelamento de salários, que impactou fortemente todos os setores.
Pergunta: O que o senhor acha que deve ser feito para recuperar a economia e retomar o caminho do desenvolvimento?
Resposta: Esse quadro não vai ser revertido em um só mandato, mas sim em duas, três ou mais gerações. É precisa trazer indústrias, empresas, gerar empregos, e isso só acontece com indução do estado criando condições e estruturas necessárias, de energia elétrica de qualidade, de saneamento de qualidade e porto para escoamento da produção, além de internet eficiente, esses são caminhos.
Pergunta: Como o senhor vê a candidatura do deputado Jair Bolsonaro?
Resposta: Vejo de forma natural, mas é uma bolha que não deve se manter, e essa bolha só surgiu porque vivemos um momento com muito pouca esperança política e o extremo tem que se agigantar. A passagem dele pelos Estados Unidos recentemente foi uma vergonha para o Brasil, com tantas gafes cometidas; perguntado qual a solução para a economia, ele respondeu que é acabar com a corrupção; é piada, tem que mostrar como isso deve ser feito; ele tem muito poucas chances de avançar. Mas preocupa o cenário para 2018 porque nós não temos um líder que unifique o país. Quem mais se aproxima é a Marina Silva; tenho admiração por ela, mas eu acredito que nesse momento em função da crise atual vai haver polarização, o que não favorece a terceira via; falta uma liderança com capacidade para conciliar, para unir, mas falta muito tempo ainda para as eleições e vai acontecer coisas que vão mudar o cenário.
Pergunta: O senhor vê esse mesmo cenário no Amapá?
Resposta: No Amapá demora um pouco mais, porque as grandes transformações nacionais demoram muito para chegar à periferia. Aqui as candidaturas já estão consolidadas, mas podem surgir outros nomes, inclusive no campo empresarial, mas não vejo muitas mudanças no quadro político do estado para 2018. O PPL apóia a terceira via alternativa à bipolarização PDT e PSB.
Pergunta: O que é exigido para que o cidadão possa ser filiar ao PPL?
Resposta: Como já expliquei, o PPL tem uma linha política estratégia e tática para a eleição estadual; a pessoa que concorda com isso e possui trajetória de vida recomendável, basta procurar a sede do partido. Eu também atendo todos os dias no escritório político do senador Randolfe na Avenida Almirante Barroso nº 2957, mas em dado momento nós vamos fazer uma ampla campanha filiação.
Deixe seu comentário
Publicidade