Polícia

Pai diz que filho foragido foi executado pelo Bope

Homem afirma que houve excesso na ação policial que resultou na morte do menor no início da semana


O Guarda Municipal José Bosco Estevan, 48 anos, disse na manhã dessa quinta-feira, 21, no programa LuizMeloEntrevista (Diário 90,9FM), que vai ingressar com ação criminal contra os policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) que participaram da operação de captura que resultou na morte do menor infrator Mateus Ramos Estevan, 17 anos, o “Mateusinho”, que era filho dele e que estava foragido do Centro de Educação Socioeducativo de Internação (Cesein), havia dois dias.

Mateusinho foi morto no início da tarde de segunda-feira, 18, na casa da família, localizada na avenida Carlos Gomes, bairro Jesus de Nazaré, zona norte de Macapá. Segundo o Comando do Bope – no dia da ação policial -, a vítima foi alvejada em resposta à injusta agressão perpetrada pelo menor na chegada dos policiais.

“Ele abriu fogo contra a guarnição no momento da abordagem e ouve revide à injusta agressão. O menor acabou alvejado, foi socorrido pela mesma guarnição e levado ao Hospital de Emergência de Macapá, onde, infelizmente, não resistiu e acabou morrendo. É válido lembrar que nosso objetivo nesses casos é assegurar a prisão, e não a morte daqueles que têm dívidas com a Justiça. No entanto, quando existe uma ação criminosa, como nesse caso, é necessário o revide”, disse no dia seguinte dos fatos o capitão Cléber, do Bope, que concedeu entrevista ao repórter Jair Zemberg.

No entanto, o pai do menor contesta as declarações da polícia. “Eu havia ido para uma audiência no Fórum e ao retornar, por volta de meio dia, me deparei com meu filho em casa. Sabia que ele havia fugido, mas não sabia até aquele momento por onde ele andava. Fiquei surpreso. Mas ao chegar próximo à minha residência me deparei com a viatura do Bope. Quando fui falar com meu filho os policiais entraram pisando na porta, me rendendo, algemando e agredindo. O Mateus correu para a cozinha e depois só escutamos os tiros. Essa versão da polícia de que ele atirou primeiro é pura falácia. Isso já é um bordão que eles usam para encobrir os crimes”, disse.

Bosco declarou ainda que os tiros atingiram o peito, costas e braços do menor. “Estamos aguardando o laudo pericial da Politec que vai comprovar ter se tratado de uma execução, e não uma simples ação. Os tiros foram em locais vitais, calculados”, afirma.

Falha no sistema levou filho à morte, diz pai
O pai disse reconhecer que o filho estava envolvido com o crime. “Ele não era santo, isso eu sei, mas eu lutava para tirar meu filho desse mundo maldito. Ele estava no Cesein, sob custódia do estado, pagando por um crime que ele supostamente cometeu, mas que até agora não se comprovou se de fato foi ele quem matou aquele rapaz. Se foi, peço perdão à família daquele enfermeiro. Agora, não posso ser acusado pela sociedade como estão fazendo. O Estado tinha obrigação de mantê-lo detido. Temos um sistema falho, e esse mesmo Estado tem que reconhecer ‘mea culpa’ e ser responsabilizado por esse crime”, complementa.

O Guarda Municipal disse temer agora por uma represália da polícia em face de suas declarações na imprensa. “Temo pela minha família. Sei que não vão gostar do que estou dizendo, mas é a verdade. Não tenho inimigos, sou um trabalhador, um pai de família e espero que isso não fique impune. O salário da polícia é pago por mim também, pelos impostos que pago. E a polícia é paga para nos defender, não ameaçar e matar. É preciso se rever urgente o sistema”, concluiu.


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