“A questão do lixo será um dos grandes problemas do terceiro milênio”
A atual gestão estadual tem adotado como slogan de governo a máxima de cuidar das pessoas e das cidades, o que proporciona ainda mais expectativa em torno dos resultados e das políticas públicas do Governo Waldez. Para a pasta do Desenvolvimento das Cidades, o agente escalado é um técnico dos quadros do próprio estado, mas de bom trânsito e de uma retórica fácil que lhe garante muita habilidade na interlocução com todos os setores da vida pública e da sociedade civil. O arquiteto e urbanista Alcir Matos foi ao rádio prestar informações ao programa Conexão Brasília, da Rádio Diário FM. Na conversa com o jornalista Cleber Barbosa, aponta alguns dos desafios do setor e como é importante que todos participem do debate em busca de soluções para as cidades. Os principais trechos o Diário publica hoje.
POR CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO
Diário do Amapá – A sua pasta no Governo do Amapá, surgiu a reboque do Ministério das Cidades?
Alcir Matos – Na verdade tem o Ministério mesmo, que cuida das cidades, afinal temos mais de cinco mil municípios no país, e no primeiro mandado no presidente Lula ele foi criado para administrar principalmente a questão habitacional, que estava sempre ligada à Caixa Econômica [Federal] no antigo Sistema Financeiro de Habitação, com o BNH e os antigos bancos e que depois virou um sistema por dentro do processo da Caixa com financiamentos través do Ministério que na realidade hoje o Ministério da Integração faz a parte dele, cabendo ao Ministério das Cidades mais propor soluções habitacionais nas cidades, principalmente através do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento].
Diário – O que era uma marca dos governos desde aquela época.
Alcir – Sim, tanto que as principais obras dentro do Ministério das Cidades são habitacionais, se você for ver o montante a questão habitacional é preponderante. Mas também é um ministério bastante abrangente, para mexer com áreas degradadas e propor soluções. Mas existem peculiaridades que são mais do Ministério da Integração mesmo, com uma visão urbana. Já a nossa Secretaria das Cidades, apesar de ter esse nome, ela não é para as prefeituras, pois muita gente associa isso como filosofia pela própria terminologia. Para as administrações municipais a ASMEAP faz essa função. A Secretaria das Cidades é para todas as instituições que compõem o espaço urbano das cidades, ela foi feita para dar um bom atendimento às prefeituras, o apoio técnico e até mesmo a captação de recursos, mas também ter uma boa relação com as Câmaras de Vereadores, apoiando na elaboração das leis de proteção ao patrimônio, como esta semana quando visitamos Mazagão. Então o governo e o governador têm olhos para isso, então essa secretaria foi criada também para ter essa relação institucional com a sociedade civil organizada e com todos os que fazem as cidades, os conselhos de classe, sindicatos de empresas de ônibus, taxistas e moto taxistas, enfim, trazer todos que estão no espaço urbano para essa discussão.
Diário – Então a estratégia é mesmo um grande compartilhamento de informações e soluções?
Alcir – Exatamente, hoje não se discute as cidades isoladamente, com o poder público federal numa esfera, o estadual em um e o municipal em outro. Ao contrário, todos juntos. Nós temos que colocar na cabeça que a sociedade precisa se engajar no processo, todos têm sua responsabilidade. Um exemplo disso é a escola, que não é sua, não é minha, não é de ninguém, é de todos nós, da sociedade, alunos, professores, pais, do estado, do município, do governo federal, enfim, todo mundo tem recurso investido numa escola. Escola não era nem para ter muro, não era para ser roubada, se a gente bem pensar, uma filosofia.
Diário – É, e se cobra muito a esse respeito do poder público.
Alcir – Sim, devido a um modelo paternalista que nem o nosso, a gente está falando de uma cultura enraiada dentro do processo, mas eu acho que a sociedade civil tem que fazer a sua parte, como por exemplo na questão do lixo na rua. Eu acho super errado jogar lixo na rua, então defendo u avanço nisso, reduzindo o consumo até de papel, de canudinho por exemplo, com conceitos de modernidade e sustentabilidade que pode parecer uma coisa insignificante, mas que somando milhares de pessoas já vai dar várias bobinas a menos de papel e com isso várias árvores a menos para ser derrubadas.
Diário – Por falar em modernidade como o senhor está vendo esse novo momento do Amapá, com a chegada, por exemplo, do agronegócio?
Alcir – Pois é, excelente, além dos grãos, existem toda a questão da verticalização dessa produção, como na indústria dos farelos, com matéria-prima para a indústria de ração a partir daí a geração de proteína animal em cativeiro, não só o peixe, mas o camarão, o frango, o porco, enfim, são “n” coisas que vem nessa cadeia produtiva, então eu acho que o Amapá das oportunidades está nascendo, pois recentemente a gente passou a ter autossuficiência energética e a energia é fundamental para se desenvolver indústria, então não adiantava a gente ter oportunidades com o porto, oportunidade de espaço e de mercado se a gente não tinha energia que é o principal combustível da indústria, não é? Vai ficar queimando combustível fóssil? Não, isso inviabiliza a indústria. Então com esses projetos das três usinas, Paredão, Ferreira Gomes e Caldeirão, você passa a ter autonomia energética, o Linhão do Tucuruí foi para levar nossa energia que a gente produz no inverno daqui quando lá não está chovendo.
Diário – Daí a importância desse diálogo que o senhor falava anteriormente?
Alcir – Sim, são cenários macros que a gente só sabe o que acontece com planejamento, com a participação de todos, com o envolvimento de toda a bancada federal por exemplo, da classe política no geral, e aí eu acho que não existe cor partidária, pois existe a sociedade no final.
Diário – Falta mesmo a sociedade se apropriar desse debate, desse protagonismo, não é secretário?
Alcir – Exatamente, outro dia eu estava conversando com um grupo de quase 500 diretores de escolas, quando pude passar um pouco da minha experiência com a escola pública nos seis anos em que estive à frente da Secretaria de Infraestrutura do Estado. Lembrei que em 2009 nós entregamos uma escola em Cutias do Araguari que é linda, grande, ela grita dentro da cidade de tão grande que é, e a gente chegar agora em 2017 nessa mesma escola e ver que oito anos depois ela está em perfeito estado de conservação, como se a gente tivesse entregue o mesmo dia. Estava apenas com um guarda-corpo deteriorado que liga com um passarela porque bate a chuva de lado, então ver isso, um prédio público que a sociedade conserva, enquanto que há outras que você faz a reforma e logo já está deteriorada a gente se pergunta onde está o erro? É nosso? Tem que ver, tem que prospectar, se é todo o entorno, se as crianças estão violentas, estão sujando, deteriorando sua escola, tem que educar, acho que tudo começa na escola, como a própria questão do lixo, que ainda vai ser um dos grandes problemas do terceiro milênio, assim como a produção de alimentos.
Diário – Falta de comida mesmo, ameaça.
Alcir – Sim, quando você vê chineses querendo investir no Amapá, gente, não é à toa isso, nós somos um grande celeiro de produção de alimentos, um grande potencial para o país, com uma localização estratégica do nosso porto. Aliás, tudo produzido acima do paralelo 34 será escoado ou pelo Porto de Belém ou pelo Porto de Santana, então a tendência do porto nosso é sempre crescer, nos vários cenários, não apenas na questão dos grãos, mas nos produtos industrializados, no cimento, material betuminoso, asfalto enfim, tudo que pode entrar via porto para desenvolver a infraestrutura.
Diário – Ainda pagamos um cimento muito caro mesmo por aqui.
Alcir – Sim, a hora que nós tivermos fábrica de cimento aqui a gente vai parar com isso. Agora na sazonal a gente paga R$ 34 numa saca de cimento, quando no Centro-oeste está R$ 16 a R$ 19 uma saca de cimento, como é que vamos produzir, como construir. Então vamos sair dessa, se Deus quiser.
Perfil…
Entrevistado. Alcir Figueira Matos graduou-se em 1991 em Belém (PA) pela Unama (Universidade da Amazônia) em Arquitetura e Urbanismo. Possui MBA em Gestão Pública pela Fundação Getúlio Vargas. Ocupou o cargo de Diretor Técnico das empresas municipais Endesur e extinta Urban. Exerceu a função de secretário estadual de infraestrutura (Seinf) na gestão do Governador Waldez Góes no período de 2004/2010. Ele é analista de infraestrutura do governo do Estado lotado na Seinf. Assumiu em 2015 a Secretaria Estadual do Desenvolvimento das Cidades, que tem exercido forte interlocução com prefeituras, câmaras e demais segmentos do poder público e da sociedade civil para propor soluções para os problemas urbanos dos municípios do estado do Amapá.
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