José Sarney

Ninguém se perde no caminho da volta


 

O título deste artigo é uma frase que se tornou célebre na década de 50, do meu antecessor na Cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras, que ocupo, José Américo de Almeida, grande romancista do Nordeste, autor de “A Bagaceira”, livro que foi uma marca no conjunto de escritores da região, um dos “búfalos” que Oswald de Andrade disse que invadiram a Semana de Arte Moderna de 22, abafando-a na importância que passaram a ter na história da literatura brasileira.

 

José Américo foi também candidato a presidente da República para as eleições de 1938, que não ocorreram devido ao golpe de Getúlio Vargas, em 1937, que resultou no período do Estado Novo.

 

Mas não é dessa volta que falo. É da minha volta a escrever para os Diários Associados. No fim da década de 50, com 17 anos de idade, começara minha vida profissional como repórter de setor policial, como todos começavam em jornal, no caso, em “O Imparcial”, dirigido pelo meu querido amigo José Pires de Saboia, então o maior jornal do Maranhão, pertencente a Chateaubriand. O velho jornalista brincava comigo, toda vez que me encontrava, dizendo que eu entrara em sua empresa por concurso, uma vez que fizera uma reportagem para uma competição aberta por “O Imparcial” e obtivera o 1º lugar com uma matéria sobre a Quinta do Barão de Bagé, num subúrbio de S. Luís.

 

Este ano, 2024, os Diários Associados comemoram 100 anos. E eu, que comecei a carreira de jornalista num dos seus jornais, aos 17 anos, volto a escrever em outro jornal dos Diários Associados, nos meus 94 anos de idade, publicando às sextas-feiras o artigo que vinha escrevendo no meu site, que era transcrito em muitos outros do Brasil. Espero não me perder neste caminho de volta. Estou feliz.

 

Quando eu me elegi deputado, Chateaubriand me disse, ao nos encontrarmos no aeroporto da Bahia, onde nossos aviões se cruzaram: “Olhe, Sarney, diga ao Saboia para não dar baixa em sua carteira no jornal. Daqui a pouco eles fecham essa Câmara e você vai voltar a ser meu empregado.”

 

Esta não foi a única ordem que Chateaubriand deu ao Saboia sobre mim. Quando Saboia ainda era simplesmente diretor de “O Imparcial” e não o grande líder do Condomínio dos Diários Associados e fui candidato a governador, Chateaubriand passou um telegrama ao seu diretor, dizendo: “Coloque nossos jornais serviço campanha Sarney”.

 

Não voltei a ser empregado de Chateaubriand e agora não sou mais nada. E o jornalista Josemar Gimenez, atual Presidente do Condomínio dos Diários Associados, certamente não vai colocar um velho desempregado no olho da rua.