Nilson Montoril
A Trans-Amapá
No dia 19/3//945, a circular pela 1º vez, o jornal “Amapá”, órgão informativo do Governo do Território Federal do Amapá divulgou seguinte notícia: “Uma das preocupações do Governo do Território é estabelecer comunicações terrestres, dando assim oportunidade ao desenvolvimento de núcleos de população e produção ao longo de eixos rodoviários. Na Amazônia, a norma comum é a projeção ripícola, à margem dos rios navegáveis. As estradas fluviais, dando ensejo ao transporte e ás comunicações, atraem naturalmente o homem e o seu trabalho. Todavia são necessárias as ligações transversais, por terra, em auto-estradas ou ferrovias, por inúmeros motivos, que seria ocioso discriminar. Dai o interesse do Governador Janary Nunes em realizar a Trans-Amapá, cujo traçado inicial foi feito pelo General Rondon, de Macapá à Clevelândia, ligando os vales dos rios Amazonas e Oiapoque, através do Araguary.
Estudos estão sendo realizados neste sentido, sobre o caminho Macapá-Porto Grande, no Araguari, onde trafegam caminhões em “trilhos” primitivos. Foi feito o levantamento do traçado até Porto Grande, numa extensão de 113 km e o trecho que vai de Porto Grande à colônia Ferreira Gomes. No verão, trafegando por trilhas feitas pelo campo, um caminhão gastava 6 horas para chegar a Porto Grande”. No inverno, devido aos imensos atoleiros, apenas os veículos mais robustos e com tração nas quatro rodas eram utilizados. Em janeiro de 1944, marco da efetiva existência do Território Federal do Amapá, a rodovia Macapá-Clevelândia não ia além de 25 km. Tinha inicio no quilômetro zero e terminava na entrada da vicinal que se destinava a região do rio Pedreira. Nos dias atuais, o quilômetro zero ficaria no cruzamento da Avenida FAB com a Rua Eliezer Levy. Não era qualquer motorista que se atrevia a cobrir a distância entre Macapá e Porto Grande na época das chuvas. O condutor tinha que ser bem experiente e jamais realizaria tal proeza sem contar com a ajuda de acompanhantes. A partir do km 25, os caminhões seguiram uma trilha carroçável e cheia de volteios. Quando as máquinas pesadas entraram em operação, a terraplanagem não corrigiu o traçado original.
Houve quem defendeu a realização de estudos para a abertura de um novo traçado, reduzindo em mais de 30 km o trecho atualmente utilizado. O traçado da Trans-Amapá tinha inicio ao lado do aeroporto da Panair do Brasil e correspondia à via atualmente rotulada como Av. FAB. A partir do km 0, canto onde está o terreno do E.C.Macapá, o trecho serpenteava até a atual Jovino Dinoá. A partir daí, em diagonal, avançava para o ponto hoje marcado pela esquina da Rua Leopoldo Machado com a Machado de Assis. Vinha a seguir um estirão no sentido da via hoje chamada Padre Júlio Maria de Lombaerd. Convergindo à direita, o condutor tomava o rumo do km 9, de onde parte o ramal que se estende ao posto da Policia Rodoviária. Neste ponto, guinando para a direita, um singelo traçado feito pelas rodas dos caminhões iria originar o ramal do Curiaú. Até recentemente, carroças e caminhões não passavam sobre o igarapé Jandiá e do lago do Pacoval. Para chegar a Macapá, os agricultores do Curiaú usaram um atalho rasgado na área onde, em 1958, o Governador Pauxy Nunes construiu a pista do Aeroporto Internacional de Macapá. O caminho carroçável circundava a pista de vôo e enveredava por área de campo até atingir o trecho mais estremo da Avenida FAB. A Av. Rua Hildemar Maia favorecia a ligação entre a Av. FAB e o aeroporto.
O perímetro entre a Leopoldo Machado e o Km 9 foi o 1º a ser asfaltado, na gestão do governador Ivanhoé Gonçalves Martins. A construção do pontilhão do Igarapé Jandiá permitiu que os veículos passassem a circular na zona norte de Macapá. À conta da expansão surgiu a Rua Adilson José Pinto Pereira e posteriormente a Tancredo Neves. A rodovia Macapá-Clevelândia, traçada pelo então General Cândido Mariano Rondon, em 1929, que em 1944, só possuía 25 km aterrados, ainda não está em plenas condições de uso. Grande parte do trecho recebeu asfaltamento e algumas pontes de concreto. Entretanto, outras pontes de madeira precisam ser substituídas e o traçado definitivo da rodovia teima em não sair.