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A cidade e o país dos meus sonhos

O nosso sonho é tão real que acabamos por acreditar que as praças são limpas e seguras e que podemos brincar com nossas crianças no parquinho sem receio de sermos assaltados, ou de coisa pior.


Veneide Cherfen
Articulista

Convido o caro leitor a dividir um sonho comigo. Mas advirto que qualquer semelhança com a realidade brasileira é mera coincidência. Então, feche os olhos porque isto aqui é um sonho, como eu já disse.

Estamos passeando pelo nosso país, nosso estado e nossa cidade. Estamos sonhando que passamos por ruas limpas, com faixas para pedestres, com ciclovias e rotatórias. Aqui neste sonho os eleitos presidentes da República, prefeitos, governadores, senadores, deputados e vereadores só têm intenções voltadas para o bem-estar da população. Não fazem o que bem entendem com os recursos públicos nem pedem propinas de empresários. E nem tentam subornar funcionários públicos. O povo não é obrigado a votar mas, quando vota, vota consciente.

O nosso sonho é tão real que acabamos por acreditar que as praças são limpas e seguras e que podemos brincar com nossas crianças no parquinho sem receio de sermos assaltados, ou de coisa pior. Constatamos que ninguém se apodera das flores de seus canteiros nem agride os bancos e brinquedos colocados à disposição da população.

Neste sonho que estamos dividindo, as pessoas se cumprimentam e se respeitam. Não se encaram nos olhos a não ser que estejam conversando. E não estão nem aí se você se veste de roxo ou se você é religioso ou ateu porque, na verdade, o que importa é que todos cumpram o seu papel na sociedade livre.

Na cidade dos nossos sonhos os idosos são respeitados e têm vida longa. O profissional da saúde vai até ele se o idoso não puder ir ao hospital. Eita sonho lindo! Não tem crianças nas ruas em situação de risco trabalhando ou esmolando. Criança vai à escola em tempo integral. É a melhor fase para a aprendizagem e as crianças estão abertas a tudo.

Os motoristas diminuem a velocidade de seus veículos pelo fato de ser horário de saída das crianças da escola. É raro o motorista que passa a mais de 30 km/h em frente a uma escola. Além de ser velocidade máxima imposta por lei, criança é respeitada.

As ruas estão sempre em bom estado de conservação, os redutores de velocidade são lombadas, são canteiros dividindo e estreitando as mãos de direção para evitar a ultrapassagem forçada. Tudo para evitar acidentes. E os motoristas não reclamam de lombadas, nem de radares. Nas confluências das ruas e rodovias as rotatórias são perfeitas.

Os serviços públicos funcionam. Não podemos dizer que a cidade dos nossos sonhos seja perfeita, mas, nela, a corrupção não mata. Os hospitais são, na maioria, particulares e os médicos, enfermeiros, etc., têm dedicação exclusiva porque assim é a lei e os salários são bons. Os planos de saúde são aceitos em todos os hospitais da rede particular. Todo cidadão é aceito, mesmo aquele que não tem plano de saúde.

Pagar empregada com dinheiro público, nem pensar! Quem não pode pagar os custos de uma empregada doméstica, mas contrata uma faxineira para trabalhar 3 horas por semana, é considerado de padrão social médio. Na cidade dos meus sonhos, ou melhor, dos nossos sonhos, o salário mínimo permite que uma empregada doméstica tenha um carrinho modesto. Maracutaias entre políticos ou alguns funcionários existem, mas em nível ínfimo. Afinal, não existe perfeição. Mas nem por isso justifica-se.

No país dos nossos sonhos, as construções de obras públicas têm um início, uma continuidade e uma conclusão respeitando o prazo e os critérios contratuais. E não têm termos aditivos! Não, ninguém é santo. Mas as coisas são levadas a sério no país dos meus, dos nossos sonhos.

Na cidade e no país dos nossos sonhos o costume de se procurar tirar vantagem de tudo não pega. E nem as brincadeiras maldosas que certas pessoas costumam fazer. Na nossa cidade de sonho não existe o “jeitinho brasileiro” nem o célebre tapinha nas costas. Nada de intimidades.

Na cidade deste sonho, lugar de lixo é na lixeira: não se joga na rua e nem se mistura com coisa pública. A população e a palavra empenhada são respeitadas. Se convidarmos alguém para vir jantar na nossa casa, mesmo chovendo canivete o convidado vem e quando não pode vir avisa com antecedência.

No país dos nossos sonhos, não se fecham acordos políticos a fim de se construírem megas obras públicas, hidroelétricas e pontes ou o que mais estiver em moda na alta corte com o intuito de proveito pecuniário próprio ou de outrem resultando na ruína da natureza e do país!
É. Não custa nada sonhar… Ou será que cobrarão propina por este sonho que estamos vivendo!!?


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