As incertezas dos Jogos
Diretamente responsável pela preparação da cidade para receber milhares de turistas, Paes teve a coragem de soltar o verbo e dizer o que muita gente parece não perceber. Aliás, em 2014, o prefeito, convicto ou não, disse que o Brasil poderia passar vergonha nos Jogos de 2016. Até hoje ele se calou, aproveitando a oportunidade para dizer agora o que sempre pensou.
Ulisses Laurindo – Jornalista
Articulista
cidadão brasileiro, seja ligado ou não aos grandes eventos esportivos sociais ou culturais, está vivendo momento de grandes incertezas em relação ao sucesso dos Jogos da XXX Olimpíada, no Rio de Janeiro, em agosto. Para aumentar ainda mais a desconfiança quanto aos melhores resultados do grande evento, conhece-se as declarações do prefeito do Rio, Eduardo Paes, que, em declarações ao The Guardian, da Inglaterra, disse que o Brasil está desperdiçando excelente oportunidade de se mostrar melhor ao mundo. “Não estamos nos apresentando bem com essa crise econômica e política, e com todos esses escândalos, este não é o melhor momento para ser visto no mundo”, acrescentou.
Diretamente responsável pela preparação da cidade para receber milhares de turistas, Paes teve a coragem de soltar o verbo e dizer o que muita gente parece não perceber. Aliás, em 2014, o prefeito, convicto ou não, disse que o Brasil poderia passar vergonha nos Jogos de 2016. Até hoje ele se calou, aproveitando a oportunidade para dizer agora o que sempre pensou.
Como dirigente empenhado em concorrer para o sucesso do grande espetáculo, Eduardo Paes poderia ser criticado se tivesse culpa na escolha em 2009 do Brasil para sediar tamanha tarefa. Os Jogos modernos, da forma como estão sendo praticados, tornaram-se inviáveis para países pertencentes à linha do Terceiro Mundo. Com o costume de construir novas instalações para maior brilhantismo dos desportistas do mundo, muitos países fogem da promoção, atitude que o Brasil não teve, quando aceitou as Olimpíadas.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) já regulamentou que, a partir de 2020, depois dos Jogos do Japão, as obras obedecerão a outros critérios, diferente dos de hoje em que cabe ao país sede a construção de obras faraônicas, como no caso do Brasil, sem ter o respaldo financeiro. A condição de Tóquio para aceitar os Jogos de 2020 foi a de aproveitar o que já existe: muitas instalações ainda de 1964.
Claro que foge à capacidade do ser humano vaticinar fenômenos da natureza: tufões, maremotos e outras tragédias perversas. Mas esse mesmo ser humano pode arquitetar seu próprio destino e dar o caminho desejado. Explico: Quando o Brasil se lançou na aventura de querer os atuais Jogos, deveria, paulatinamente, criar as condições para não viver na incerteza de hoje, a mesma que denuncia Eduardo Paes. Sabiam os dirigentes políticos da época que o país não tinha nem infraestrutura nem poupança adequada para o grande acontecimento. Diferentes de acidentes climáticos, os políticos demagogos visaram apenas elogios pessoais.
O brado de Eduardo Paes é consequência do que deixou de ser feito nesse espaço de 2009 até hoje. Crises política e econômica não vieram dos céus, mas da incompetência agora alertada pelo prefeito Paes.
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