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Joaquim Barbosa, o aguardado

Sua atuação no tumultuado Mensalão, em 2005, deixou na população brasileira a convicção de que se um dia ele se propusesse a aceitar a concorrer a Presidente não precisava mostrar mais nada porque tudo lembrava a atuação no episódio que iniciou a derrocada do PT, até então gozando da confiança dos brasileiros.


Ulisses Laurindo – Jornalista
Articulista

Não chega ser enigma, mas constitui bom mistério o silêncio da população negra do país em não sufragar o nome de algum postulante, seja em simples candidatura para cargos menores ou até mesmo no âmbito majoritário, considerando que segundo estatística do IBGE a Nação brasileira é formada por 54% de negros e pardos, índice bastante expressivo para colocar no topo das votações gente pertencente a essa quantidade de pessoas. O ministro Joaquim Barbosa, ex presidente do STF, está sendo cooptado para concorrer à Presidência da República pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), sendo, pois, uma figura altamente credenciada e dono de expressivo conteúdo intelectual e moral para representar essa linhagem de pessoas.

Sua atuação no tumultuado Mensalão, em 2005, deixou na população brasileira a convicção de que se um dia ele se propusesse a aceitar a concorrer a Presidente não precisava mostrar mais nada porque tudo lembrava a atuação no episódio que iniciou a derrocada do PT, até então gozando da confiança dos brasileiros. Naquele período JB Mensalão mostrou confiança nas decisões que tomava e não deixava que a corte desse exemplo negativo de sua alta função a julgar o mérito dos processos em discussão.

Nomeado pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva, entrou no Tribunal em 2003, ficando até 2014, e presidente do órgão de 2012 a 2014. Então, por razões pessoais, pediu aposentadoria, talvez por entender que sua missão não estava terminada, mas que teria sérias dificuldades para manter o padrão dentro do seu feitio. Sondado logo após o desligamento, se mais tarde toparia candidatar-se à Presidência, respondia sem convicção, embora seus admiradores acreditassem que sua inteligência não permitia demonstrar naqueles momentos qualquer tendência futura.

A dúvida parece continuar até hoje, mas agora com uma diferença importante: não é ele quem está buscando os holofotes, mas o Partido Socialista Brasileiro que luta para lançá-lo num pleito que já tem mais de dez candidatos, muitos deles sem qualificação para o cargo. Sabe o PSB que, conseguindo a adesão do candidato e ainda se desligar na tentativa do PSDB de ter a sigla coligado a Geraldo Alckmin, o futuro nas urnas é deveras radiante, pelo que já se viu da conduta ética e moral de Barbosa e, ao atenuante de contar com um provável universo de 54% da população, percentual capaz de eleger ao qualquer que tiver sua preferência. Com escritório de advocacia em São Paulo, trabalha na área, dá palestras e faz pareceres jurídicos. Ele é formado pela Universidade de Brasília, em l979, e estudou na Universidade de Paris, em 1993. Agora tem 64 anos.

Em dezembro de 2016, época do impeachment de Dilma Rousseff, em entrevista à jornalista Mônica Bérgamo, da Folha de São Paulo, Barbosa, respondendo a uma pergunta sobre o enfraquecimento da Presidência, disse: “O momento em que você mina esse pilar central, todo o resto passa a sofrer desse desequilíbrio estrutural. Todas as teorias dos últimos 30 anos, de hipertrofia da Presidência, de seu poder quase imperial, foram de água abaixo. A facilidade como se destituiu um presidente desmentiu todas essas teses”. Sobre o afastamento de Dilma Rousseff, Barbosa não considerou um golpe, mas formalidades externas foram observadas, porém só formalidades.
Conseguindo o PSB persuadir Joaquim Barbosa a concorrer pelo partido leva para o pleito a confiança da sua postura moral e o atenuante de votos capazes de 54% da população negra e parda.


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