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José Sarney – Senador (Articulista)

Dom Octavio Paz   A vida deu-me a oportunidade de conhecer alguns dos maiores homens do meu tempo. Nenhum causou-me tanta impressão como Octavio Paz.   Quando encontrei-o pela primeira vez, sob o patrocínio de José Guilherme Merquior, a quem ele considerava um escritor com dimensão universal. Falamos sobre a incompreensível injustiça da tragédia da […]


Dom Octavio Paz

 

A vida deu-me a oportunidade de conhecer alguns dos maiores homens do meu tempo. Nenhum causou-me tanta impressão como Octavio Paz.

 

Quando encontrei-o pela primeira vez, sob o patrocínio de José Guilherme Merquior, a quem ele considerava um escritor com dimensão universal. Falamos sobre a incompreensível injustiça da tragédia da conquista, a destruição das culturas pré-colombianas e a saga mexicana das revoluções populares, suas figuras mágicas como Zapata, Carranza, Obregon, Porfírio Diaz, fixadas nas cores de Orosco, Diego Rivera, Frida, Siqueiros e na poderosa literatura mexicana, tendo à frente a expressão maior de pensador e poeta de Octavio Paz.


Foi uma reunião fascinante. Octavio Paz não fugiu dos temas políticos, literários, sua obra e sua vida. Pareceu-me surpreso que eu conhecesse grande parte do que escrevera, a história e literatura mexicanas.

Discorreu sobre o mundo, que se transformara desde a viagem histórica para Valência, em 1937, em plena Guerra Civil Espanhola. Analisou sua aventura intelectual, os perdedores e ganhadores dos tempos modernos, as frustrações, os rumos da cultura e do pensamento deste século, a radicalização ideológica, o impacto que lhe causaram os campos de extermínio e seu afastamento das idéias comunistas. Sua ojeriza a Sartre (a poesia não tem lugar no sistema dele), Unamuno (“um escritor antipático”) Hernandez. Contou-me que, na viagem para a Espanha com Neruda, Malraux, Spender, Vallejo, Guillén e o poeta mexicano Pellicer, encontrava-se no trem Ehrenburg, que lhe pediu notícias de Trótski, então exilado no México. Pellicer deu-as, para constrangimento de todos: “Conheci Trótski em casa de Diego Rivera. Pareceu-me um bom crítico de arte…”.

 

Não ia ao México sem procurá-lo. “Um escritor num partido político é a destruição”. “Santo Inácio de Loyola foi patrão dos marxistas.” “A literatura espanhola não foi dourada no Século de Ouro, como não é hoje.” “Eu odeio a autoridade’, foi minha resposta quando me convidaram para presidente do México.” “A língua é a realidade substancial e total do poeta.” São frases anotadas desses encontros.

 

Num dezembro passado estive no México. Liguei para ele. Sua voz já não era a mesma. Era um filete de água, tênue, longínqua. Suas fotos mostravam a face da doença e de seu rosto fugira aquele sorriso eterno, para florescer um certo olhar de tristeza e amargura.

 

De Octavio Paz me fica a visão do que é a grande paixão pela literatura. Ele escreveu sobre tudo, dominava todos os gêneros literários, conheceu todos os ramos do saber, foi um pensador sobre o seu país, a América, o mundo, sobre o destino humano. Mas afirmou um dia: “Nada disso foi maior do que o meu ilimitado amor pela literatura”. É este o maior amor do homem.


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