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Ligue 180 – o socorro ao alcance das mãos

O serviço recebe relatos de vítimas ou testemunhas e encaminha denúncias de violências e reclamações da rede de enfrentamento à violência.


Fátima Pelaes – secretária especial de Política para as Mulheres
Articulista

Desde 2005 a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres disponibiliza a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180. Um serviço que orienta sobre os direitos das mulheres e informa os serviços mais próximos da rede de enfrentamento à violência contra a mulher. Por se tratar de setor essencial, funciona 24 horas e preserva a identidade do denunciante. Gratuito, cobre todo o território nacional. Conhecido, ganhou a confiança da sociedade e só neste primeiro semestre, recebeu ligações de 80% dos municípios brasileiros.

O serviço recebe relatos de vítimas ou testemunhas e encaminha denúncias de violências e reclamações da rede de enfrentamento à violência. No atendimento, pessoas devidamente capacitadas prontas para ouvir e ajudar a enfrentar uma das maiores chagas de nossa machista – a violência contra a mulher. Via telefone, tragédias individuais e familiares contadas em tom confessional revelam um Brasil ainda desconhecido, mas extremamente cruel com grande parte de suas mulheres.

Só no primeiro semestre de 2016, foram registrados nada menos que 555.634 atendimentos- aumento de 52% em relação ao mesmo período do ano passado. Prova que o serviço funciona e vai, aos poucos, descortinando a real dimensão do “iceberg” da violência. Um submundo de covardia existente numa sociedade que acreditava que este tipo de brutalidade subsistia apenas no rodapé dos levantamentos policiais. Ledo engano. As cifras mostram uma violência multifacetada na forma e desumana no resultado.

Na radiografia das atrocidades contra a mulher neste semestre ,51%(34.703) corresponderam à violência física;31,10%(21.137), violência psicológica;6,51%(4.421), violência moral;4,86%(3.301), cárcere privado;4,30%(2.921), violência sexual;1,93%(1.313), violência patrimonial e 0,24%(166),tráfico de pessoas. A face fria dos números não revela, claro, a tragédia existente na sombra das estatísticas. Como pano de fundo, mulheres afrontadas em sua autoestima, humilhadas em dignidade, menosprezadas em seu valor.

Em comparação com o mesmo período de 2015, houve um aumento de 111% no número de relatos de violências; 142% nos de cárcere privado,147% nos de estupro e 123% nos de violência sexual. O aumento não revela forçosamente o crescimento da violência, mas , sobretudo, a maior coragem da mulher em denunciar o crime. Contudo , são cifras que subtraem, em muito, a realidade dos fatos.

Apesar da violência contra a mulher estar presente em todos os níveis, mostra um lado preferencial racista-quase 60% das vítimas são negras (pretas e pardas). Ficou provado, uma vez mais, que a violência doméstica e familiar reina absoluta (86,64%).E pior: além de destroçar a unidade, tortura a prole – 82,86% dos filhos presenciaram ou sofreram violência.

Muitas mulheres, felizmente, já não temem denunciar o crime e procurar apoio. Nos 10 anos de Lei Maria da Penha(LMP), o Ligue 180 cravou mais de 5 milhões de atendimentos. Se a LMP conscientizou as mulheres, o Ligue 180 instrumentalizou o combate à violência. E contribuiu para desconstruir a tradição que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher – 32% dos relatos foram feitos por pessoas próximas às vítimas. O Ligue 180 é, enfim, o socorro ao alcance das mãos de todas as mulheres. Os trabalhadores que garantem este serviço, anônimos, contam com a gratidão das vítimas e o agradecimento da sociedade. Agora, cabe avançar na prevenção à violência e buscar a paz. E isto é uma tarefa de toda sociedade.


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