O enem e a qualidade da educação brasileira
Luiz Carlos Amorim – EscritorArticulista Acaba de sair o resultado do Enem realizado no final de 2014. O resultado não é nada alentador. As notas diminuíram ainda mais, na média geral, mas o desastre maior é em português e matemática. Mais de quinhentos mil estudantes tiraram zero na redação. Pior: entrevistado o Ministro da […]
Luiz Carlos Amorim – Escritor
Articulista
Acaba de sair o resultado do Enem realizado no final de 2014. O resultado não é nada alentador. As notas diminuíram ainda mais, na média geral, mas o desastre maior é em português e matemática. Mais de quinhentos mil estudantes tiraram zero na redação. Pior: entrevistado o Ministro da educação, ele simplesmente concordou que “não dá pra negar que a educação pública brasileira é ruim.” E ficou por isso mesmo. A nota do Enem serve para admissão no ensino superior nas universidades públicas do país, atentemos para esse fato.
Mas não é de hoje que a educação brasileira bem sendo deteriorada. Primeiro foi a mudança na duração do ensino fundamental, que passou de oito para nove anos. O governo, que dita as regras da educação brasileira, incluiu o pré no primeiro grau, com a desculpa de que algumas crianças mais carentes não podiam fazê-lo. A intenção poderia até parecer boa, mas aproveitaram para mudar também a sistemática de alfabetização, que até então tinha sido tão eficiente: pelas novas diretrizes, ensina-se aos pequenos primeiro o “abc” em letra de forma (ou de imprensa) – maiúscula – , depois dá-se sílabas a eles para formarem palavras, mesmo que eles não façam ideia do que significa o amontoado de letras. Eles aprenderão a ler por “repetição”, por insistência na visualização. Nada das famílias de sílabas, que sempre funcionaram tão bem durante tanto tempo.
E dessa maneira, as crianças têm muito mais dificuldade para aprender a ler e escrever e é comum encontrarmos, atualmente, alunos de terceiro e quarto anos do primeiro grau que não sabem, ainda, formar palavras ou reconhecê-las, nem sabendo escrever com letra cursiva. Aliás, letra cursiva é uma das coisas mais difíceis para os alfabetizandos, pois eles aprendem as maiúsculas – letras feitas quase todas com traços retos – e só depois são levados a escrever a letra cursiva, todas cheias de curvas e ligadas umas nas outras.
Para completar o quadro, o Conselho Nacional de Educação editor, há alguns nos, novas regras curriculares para esse mesmo ensino fundamental, já tão combalido: ele “recomenda fortemente” que nenhuma criança seja reprovada a partir de 2011. Ora, se está, comprovadamente, havendo dificuldade na alfabetização por ter havido mudança no sistema de ensino, implantar a aprovação automática vai piorar ainda mais as coisas, e vamos ter mais analfabetos funcionais, pessoas que nem conseguirão chegar à faculdade. Em seguida, nossos governantes baixaram lei oficializando a alfetização, agora, não mais aos sete anos, como sempre aconteceu, mas aos oito anos, concordando com a má performance do ensino vigente.
É isso que nossos governantes querem? O ensino, a educação no Brasil estão mesmo condenados à falência, pois ao invés de se investir mais nesse setor, cada vez conseguem deixá-lo pior, sem contar que pagam muito mal os professores e as escolas públicas são mal cuidadas. E os estudantes vão chegando às universidades cada vez menos preparados.
Será porque interessa que as pessoas não tenham cultura e instrução, não saibam se comunicar e se contentem com a falta de educação, de saúde, de segurança, de justiça, votando nesse governo que aí está? Não é a toa que o mesmo partido continua no poder…
Deixe seu comentário
Publicidade