O tempo não pára
Salvo a compreensão dos anos que se seguem, cada um de nós tem experiência de vida. Comigo aconteceu que, independente dos janeiros percorridos, uma determinada manhã me veio o sinal de que a maturidade e a velhice estavam em seu caminho implacável.
Ulisses Laurindo – Jornalista
Articulista
A formação da vida é tão mágica e perfeita, concebida como obra e criação de divindade maior, que nem a sombra do tempo que nos envolve leva a não pensar no fim inevitável na máxima de sermos como afluentes de um só rio. Cabe aqui uma pergunta: Qual o momento em que sentimos que a mocidade está indo embora e, em seu lugar, vem a inevitável velhice com passos rápidos, porém, paradoxalmente, lentos.
Salvo a compreensão dos anos que se seguem, cada um de nós tem experiência de vida. Comigo aconteceu que, independente dos janeiros percorridos, uma determinada manhã me veio o sinal de que a maturidade e a velhice estavam em seu caminho implacável.
Como foi sentir essa sensação? Admiti, depois de pensar bastante, que o motivo que me levava a enxergar o passar dos anos estava na observação, pela primeira vez, de movimentos de jovens correndo, pulando e congraçando com seus amigos em torno de uma celebração.
Fiz, então, um retrato mental, concluindo que aquilo era uma manifestação que passei a admirar, fato que na juventude nada me impedia de participar da alegria que também já me fora comum.
O tempo passa e, como disse o filósofo alemão Walter Kaufmann ”O tempo é a dimensão da mudança, sem percepção da mudança, não há nem pode haver percepção do tempo, e as diferentes atitudes para com o tempo são corolários de diferentes atitudes para com as mudanças”.
O tempo nos exibe os cabelos brancos, o corpo arqueado e outras tantas nuances, inclusive o perigoso alzheimer e a perda gradativa da cognição.
Sempre recordo os momentos em que me surpreendi que aquilo era sinal de que estava envelhecendo. Isso é o estigma de todos, indistintamente, cada qual sentindo à sua maneira.
Como lembrança daqueles dias da quase maturidade, recentemente me veio a mesma sensação autêntica dos meus pensamentos, já agora vivendo outra fase.
Estava assistindo a uma manifestação popular envolvendo jovens, da puberdade à adolescência. Com que prazer acompanhava os movimentos pueris daquela juventude, lembrando o que disse o desiludido jamaicano Bob Marley sobre o tempo, hipótese ainda não percebida por aqueles jovens de que “ninguém pode voltar no tempo e fazer um novo começo, mas podemos começar agora a fazer um novo fim”.
Claro que nenhum daqueles jovens estava pensando nisso, pelo menos naqueles momentos festivos, Mas a sina dos seres humanos é viver experiências como a que vivi tempos idos.
O desenrolar da vida é magnífica e soberana. Não sentimos a graduação do avançar da idade. O retrato maior da realidade nos é mostrado pelos espelhos, e o seu fatalismo também, como nos versos de Cazuza, o tempo não pára. Nós que passamos.
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